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terça-feira, 5 de abril de 2011

A INTOLERÂNCIA E A PAZ DOS CEMITÉRIOS. Ou: O bem, o belo e o bom não podem ser impostos a você, leitor


http://www.significantcemeteries.org/
Muita gente acredita em uma relação direta, quase mecânica, entre, por exemplo, uma publicação de uma notícia sobre um fato, e uma reação qualquer de uma pessoa ou um grupo. Imaginam um mundo simples, muito baseado na física, de simples ações e reações.
Ao longo do tempo tenho ouvido que é preciso controlar a imprensa, a "mídia" (está na moda) ou as artes (cinema, literatura, música, pintura, etc) porque podem dar maus exemplos! Como se não houvesse uma sociedade inteira, uma cultura, valores, entre os veículos e as pessoas. As pessoas não flutuam no ar.

Certamente há coisas de mau gosto e coisas de bom gosto. Há refinamento e crueza rudimentar, há elaboração técnica e obra quase vomitada. Um dos exemplos mais recorrentes é sobre uma história, que alguém sempre leu em  algum lugar, de um menininho que colocou uma toalha vermelha de mesa nas costas e pulou de um décimo-quinto andar, tentando voar. Claro que morreu.

Culpa das histórias do Superman. Culpa do filme, culpa dos quadrinhos, culpa dos desenhos animados, e desfiam o rosário (com o devido respeito). Sempre lembro aos renitentes. Milhões de pessoas já viram os filmes do super-herói. Quantos tentaram sair, realmente, voando? 

Estamos num mundo meio imbecilizado, que impede a análise mais detalhada, porque análise demanda tempo, e ninguém tem tempo (é um mundo elétrico, rápido, fugaz. O que almocei hoje?), ou ninguém quer gastar algum tempo em examinar mais detalhadamente alguma coisa. Todos preferem ficar com suas crenças cotidianas, suas convicções, as certezas imutáveis. É mais cômodo, mais confortável, parece mais seguro. Com certeza, fico fechadinho na caverna observado o mundo lá do fundo, do escuro, com meus fantasmas.

Além disso, assim podemos colocar o peso da responsabilidade sempre sobre os ombros alheios. Seja o poderoso, o rei, o outro, a chamada indústria cultural, a imprensa, a TV.
Não seria melhor, então acabar com tudo isso?
Talvez voltássemos à paz selvagem da floresta de Rousseau. Bela ilusão! Rousseau também tinha uma leitura tosca da realidade humana.

Por que esta conversa toda sobre isso? Parece mais um longo nariz-de-cera, como diziam os jornalistas mais antigos. Porque as discussões que vemos hoje na imprensa mostram que a cultura se empobrece, as pessoas não querem ler, não querem refletir, não querem mudar, se necessário. Não falo de uma mudança imposta, ao estilo tão agradável aos socialistas, aos nazistas, aos fascistas, em geral, que gostam de impor o bem, o belo e  o bom ao outro, até com as baionetas, se preciso. Penso na nossa capacidade de refletir, de observar, de cruzar dados, de checar fontes e informações e aprender, e  mudar quando for o caso.

Nos Estados Unidos um pastor maluco queima o Corão, livro sagrado islâmico, e dizem que isso "provocou" atentados no Afeganistão. Que força. Que poder! Quanta besteira. Colocar fogo no Corão ou na Bíblia, qualquer tonto pode fazer. Não é proibido. é apenas uma tremenda idiotice, uma demonstração de despreparo. Como quando nazistas queimaram livros na Alemanha, ou baniram a arte moderna por "demente". Como quando estudantes da USP, ou pessoas dizendo-se estudantes da USP queimam livros em manifestações contra o Governo do Estado. Queimar livros é um dos degraus mais baixos da civilização. Perfeitos imbecis. E ainda se acham revolucionários! Muitos serão professores!

Essa questão toda da força mecânica, direta, dos meios é inculcada na cabeça dos jovens por professores mal preparados,que ouviram dizer, que não estudam, bastando-lhes as pobres convicções contra a "mídia", agente do mal capitalista. Um monte de asneiras.
Nem ao menos se dão ao trabalho de observar o funcionamento da imprensa e dos demais meios de comunicação numa ditadura, num regime autoritário, num totalitarismo islâmico ou qualquer outro.

Os esquerdistas, no mundo livre, criticam muito os meios de comunicação. Mas os meios podem representar a variedade. Ao menos podemos usar a Constituição para falar sobre isso, caso aquele uso esteja capenga. Nas ditaduras totalitárias só há a concordância, a morte e a perseguição como punição aos que dissidem, aos que se opõem, aos que pensam diferente. Há a intolerância, ou a paz dos cemitérios.  E essa visão sombria e tosca da realidade tem muitos adeptos no Brasil de hoje. 

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