O senador Álvaro Dias (PSDB/PR) e Gleisi Hoffmann (PT/PR) andam treinando a retórica no Senado. Vivem discutindo, como registra a imprensa. Sempre por questões importantes, certamente, como se espera de senadores.
A Gazeta do Povo trouxe um diálogo, na edição de ontem, que chama a atenção pela forma como a senadora parece não dar muita importância à Imprensa na cobertura política. É que ela questionou o senador Dias, pois ele sempre usa recortes de matérias para exigir providências, ressaltar erros apontados nas reportagens, ou destacar a importância do debate do assunto indicado pelo Senado. Coisa que se espera que um parlamentar faça, mesmo.
O motivo do último embate, foi que Dias, com base em matéria da Revista Veja, comentou que realmente a indicação e a desindicação do ministro do STJ Cesar Asfor Rocha para uma vaga do STF devido a denuncias de que Asfor havia recebido R$ 500 mil para votar a favor em um julgamento precisaria ser examinado de perto. Segundo a reportgem, de Policarpo Júnior, o próprio presidente Lula é que teria começado a espalhar essa informação, que teria sido contada a ele pelo seu comprade Roberto Teixeira, consultor da tal empresa. Segundo a história, o ministro acabou votando contra o que foi combinado! Esse é o resumo da ópera. Claro que o assunto merece, ao menos, ser examinado com atenção. Ao Senado compete, também, vigiar atos do Executivo.
Ao tratar disso, Álvaro Dias foi interrompido várias vezes por Gleisi, que o criticou por ler reportagens e por "fazer juízos de valor". Gleisi Hoffmann já comandou a secretária de Estado do Mato Grosso do Sul ( Zeca do PT) e a secretaria de Gestão Pública de Londrina. É esposa do Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. É impossível que não tenha noção do papel da Imprensa e dos políticos, na Câmara federal e no Senado. O legislativo é um dos três poderes da República.
O diálogo, conforme a “Gazeta do Povo”, do Paraná:
Senadora Gleisi Hoffmann pscparana.blogspot.com/ 2009_03_01_archive.html |
Gleisi - Estou chegando à conclusão aqui, Senador Alvaro Dias, que uma das suas maiores atividades como senador é ler os jornais e as revistas deste País, porque, toda semana, V.Exª vem a este plenário, sobe à tribuna…
Álvaro - Também isso. No partido em que o chefe despreza a formação escolar, a senadora, que é advogada, despreza a leitura. Faz sentido!
Gleisi -…ou está nesta Bancada e sempre fala sobre uma reportagem. As suas denúncias bombásticas são baseadas nas reportagens a que o senhor se refere.
Álvaro - Não estou fazendo denúncia alguma, Senadora.
Gleisi - Sim.
Álvaro - V.Exª deve respeitar o seu interlocutor.
Gleisi - Eu estou respeitando.
Álvaro - V.Exª não venha com a pretensão de diminuir quem faz oposição nesta Casa com decência e com dignidade. Se V.Exª quer apartear, o faça, mas com o necessário respeito.
Gleisi - Eu estou fazendo com respeito. Se não respeitasse, não faria o aparte.
Álvaro - A voz de V.Exª é delicada, mas o teor que expõe através… Se V. Exª quiser apartear com respeito, V. Exª terá o aparte.
Gleisi - Estou aparteando e com muito respeito. Quero dizer a V. Exª que tudo o que o Senhor fez aqui, desde que iniciou a sua fala, foi um juízo de valores. V. Exª começou julgando o Presidente Lula, fazendo ilações sobre uma matéria que disse que alguém disse que outro disse. Não há qualquer prova no material que V. Exª leu. Por diversas vezes, V. Exª se dirige a este Plenário, a esta tribuna, para fazer denúncias sem provas concretas. V. Exª está lidando com a vida e com a honra das pessoas. Peço a V. Exª que tenha mais responsabilidade quanto a isso e o faça com muito respeito. V. Exª pare realmente de ter juízo de valores.
Álvaro - Quero agradecer aos ensinamentos sábios da Senadora Gleisi. Ela vem ao Senado para aconselhar os seus Colegas Senadores. Quero dizer que dispenso os seus conselhos. Obviamente, todos que estão prestando atenção à minha fala estão verificando que estou tendo o cuidado de repetir até que não estou fazendo juízo de valor. Agora, para ela, faço juízo de valor. É um problema dela. Não faço juízo de valor; apenas relato um fato que é público, notório, da responsabilidade das autoridades públicas deste País, que não pode ser ignorado não só pela oposição, mas pela instituição Senado Federal. Aqui, Ministros são sabatinados. Temos a responsabilidade, sim, de esclarecer denúncias.
COMENTO
Prefiro acreditar que uma senadora, com a carreira política de Gleisi Hoffmann, sabe, sim, que um dos papéis da imprensa é vigiar o Poder Público, e que os políticos têm imunidade parlamentar exatamente para poder fazer ponderações, alertas, denúncias, reflexões sem que sejam impedidos, como o cidadão normal seria. De forma geral, guardado o decoro, o Plenário é uma terra livre. Sendo esposa do ministro das Comunicações fico pensado sobre o que falam quando tratam da Imprensa. Logo o homem que está tratando do projeto para Regulamentar a Mídia. Caso contrário, o Congresso seria um conjunto de neófitos como o deputado Tiririca, o que não é verdade, não é mesmo?
Por via das dúvidas, vou sugerir à senadora, que é advogada, a leitura de um livro do ministro antecessor de seu marido, Franklin Martins, "Jornalismo Político" (Ed Contexto). Não é um livro muito profundo, está mais para estudantes de Jornalismo ou focas (iniciantes), mas descreve bem a atividade do Jornalismo Político.
Aliás, lendo o livro, publicado em 2005, em que o autor descreve como se faz uma cobertura política bem feita, acho que Franklin, enquanto ministro, brigou com a sua parte Jornalista, tanto reclamava da cobertura política feita pela Imprensa, cujos repórteres pareciam fazer as matérias com o manual debaixo do braço.
Vá entender um ministro...
A senadora deveria comprar um livro desses e ler com atenção. Depois, emprestar para o ministro das Comunicações atual.
Quem sabe adiante alguma coisa...
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