A Constituição do Brasil não tem, em lugar algum, referência à censura ou censura prévia. Os brasileiros desfrutam de ampla liberdade de expressão e de imprensa. Isso é uma coisa. Há os que criticam a liberdade e querem medidas restritivas. Ora, os abusos podem ser contidos com o uso das leis civis e criminais.
E alguns juízes já andam até extrapolando, censurando a Imprensa, como no caso entre o jornal Estado de São Paulo e a família Sarney. O jornal está proibido de tocar em um escândalo político por decisão judicial (caso está nas mãos do TJ-DF). Há outra decisões do tipo pelo Brasil afora, e isso é preocupando, uma vez que tolhe a liberdade de expressão de imprensa e de informação dos cidadãos.
Agora o senador Roberto Requião (PMDB-PR) quer colocar a sua colher na história da liberdade de expressão. Nesta semana, conforme as notícias, o senador irritou-se com as perguntas de um repórter da Rádio Bandeirantes e tomou o gravador das mãos do profissional.
E também retirou a memória do gravador. Alegou que era para evitar que fosse publicada uma matéria inverdadeira sobre o tema. O tema era a aposentadoria recebida pelo senador como ex-governador do Paraná.
Sem entrar no mérito da aposentadoria, o senador pretendeu agir como um censor dos tempos da ditadura? Naquele tempo havia a censura prévia e a censura posterior. Na modalidade prévia, os jornais eram informados sobre o que podiam ou não publicar. Na posterior, os jornais iam para as bancas e daí eram punidos com o recolhimento da edição e outras medidas.
O senador não gostou das perguntas? Claro, sei que há modos de perguntar. Há repórteres ousados e afoitos, até desrespeitosos para com o entrevistado. Isso é uma questão. O entrevistado sempre poderá ficar mudo e sair andando.
Mas, tirar um instrumento de trabalho e, pior, recolher a memória do gravador é como pegar uma câmara do fotógrafo e retirar um filme ou a memória digital. Um absurdo. Para evitar problemas no outro dia! Se a moda pega! Isso,em outros tempos seria chamado de censura prévia. é como invadir uma TV, de tarde, e quebrar os estúdios para evitar os danos de um telejornal noturno. Pelo que se sabe, Requião nunca se deu muito bem com a imprensa paranaense enquanto governador.
E o senador, no dia seguinte ao incidente, que recebeu protestos, mas não tão vigorosos quanto mereceria (muita gente da imprensa apóia o controle da mídia. Esse é o câncer que corrói a profissão por dentro hoje), resolveu reapresentar uma proposta de Lei para regular o Direito de Resposta. Tudo bem, mas o direito de resposta só será exercido se a matéria for publicada. Requião foi afobado. O Direito de Resposta constava na Lei de Imprensa que deixou de existir pois era do tempo da Ditadura. Isso não significa que, a qualquer momento, a imprensa não conceda espaço para alguém que se sinta prejudicado por uma matéria. E, sempre resta o caminho do Judiciário.
De fato, Requião foi muito mais que afobado ou impulsivo, pois é um senador da República, não um ignorante qualquer. Um senador não pode fazer isso, precisa dar bom exemplo à população. Alegou, depois, que agiu indignado. Mas, então, aguente as consequências, pois continua sendo um senador.
Não pode agir como alguns colegas que fazem graças demais, nunca são advertidos por falta de decoro e ainda se metem a colocar cuecões vermelhos por cima do terno e a desfilar pelo Senado como verdadeiros palhaços. No Congresso só tem um verdadeiro palhaço, Tiririca, e ele está se saindo melhor que a encomenda. Ainda não colocou cuecão vermelho e nem tirou gravadores e câmaras das mãos de profissionais. Claro, já se meteu em confusão mais comuns, como contratar assessores, bem , essa é outra conversa...
SENADOR BULLYINADO (DE BULLYING)
Num arroubo de criatividade, o senador Requião disse que sofreu Bullying. Disse que a imprensa pratica
Bullying contra certas pessoas. Eu imaginava que Bullying fosse mais aplicável, ao menos é o que a bibliografia indica, algo típico da fase da pré-adolescência ou da adolescência; ou de criança muito mimada e ranheta. também já escrevi que uma palavra,quando começa a ser aplicada em todas as situações, perde o sentido. Não vale nada. O que serve para tudo não serve para nada. Bullying vai nessa direção.
Eu sempre imaginei, e aprendi, que figuras públicas, por mais estranho que pareça, devem responder à imprensa, pois o tema pode ser de interesse da Opinião Pública. Claro, o entrevistado pode divergir e não conceder a entrevista, pode dar as respostas que quiser, mas não deve agredir, como fez o senador. Senador, políticos não sofrem Bullying, são políticos. Imaginem o Maluf...
A entrevista do cabo Anselmo, por exemplo, à TV, conforme relatado em post anterior, não foi uma entrevista, foi um fuzilamento. Mas o entrevistado foi até o final. Não esmurrou os entrevistadores. Nem choramingou. Há entrevistadores que não querem saber, não querem extrair uma revelação, querem julgar ou, pior, querem ouvir uma resposta que já está pronta em sua cabeça. Mas isso é assunto para outro post.
Recomendo, também, para o senador Requião, como já o fiz para a senadora Gleisi Hoffmann, a leitura do livro Jornalismo e Política do ex-ministro de Comunicação Franklin Martins. Talvez lhe seja útil no futuro.
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