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sexta-feira, 29 de abril de 2011

A MONARQUIA INGLESA. A admiração que o povo tem pela realeza de seu país é magia

A MONARQUIA INGLESA

Ralph Mennucci Giesbrecht
O colunista francês Gilles Lapouge escreve hoje no jornal O Estado de S. Paulo o artigo "Para que serve a monarquia inglesa?", com o qual não concordei de forma alguma. Bom, sendo cidadão de um país que eliminou sua monarquia de quase 1.500 anos já há 163 anos (1848), deve-lhe ser difícil ter de engolir seu secular rival mantendo a sua até hoje.

A monarquia inglesa existe unificada desde o século IX, pelo menos. Na época, resumia-se basicamente à própria Inglaterra, com aumentos ou diminuições de território eventuais devido a constantes guerras próprias daqueles tempos. No início do século XI, chegou a estar unificada com reis escandinavos, como o rei Knut (Canuto), morto em 1035. Seu sucessor, Eduardo o Confessor, que não foi Eduardo I, mas uma espécie de "Eduardo Zero", reinou até as vésperas da invasão da Inglaterra pelo rei da Normandia francesa, nomeado Guilherme I (ou William the Conqueror) em 1066 após bater em Hastings o rei inglês que sucedeu o Confessor por poucos meses após sua morte nesse mesmo ano.

William se autoproclamou rei inglês e iniciou a numeração dos reis ingleses atuais. Sua dinastia durou menos de um século, sendo substituído pela dinastia Plantageneta, iniciada com o rei Estevão (Stefan), avô de Ricardo Coração de Leão. Essa dinastia extinguiu-se em 1399, com a morte de Ricardo II. Após isso, diversas dinastias se seguiram, até que em 1714 iniciou-se a atual com o rei (era alemão) Jorge I (George). Ele era alemão e não falava o inglês. Chegou ao trono como bisneto do rei Jaime I Stuart que reinara mais de 100 anos antes. O último Stuart não deixou descendentes (rainha Ana). A dinastia de Jorge I hoje tem o nome "inglesado" de Windsor, antiga Saxe-Coburgo-Gotha.

Para simplificar: a rainha Elisabeth II é descendente direta de Guilherme I e de um a outro foram 900 anos e vinte gerações (podem contar se quiserem. Eu contei). Mesmo este último rei era aparentado com seus antecessores, de uma forma ou de outra. Dinastias mudam quando em vez de filhos ou netos, os reis têm de ser substituídos por algum primo distante por não terem deixado descendência direta.

Depois de tudo isto, a Inglaterra tem sua monarquia que a muitos parece extemporânea. Mas qual é o motivo de ela ter se mantido, assim como diversa outras monarquias pelo mundo afora? Afinal, em todos os continentes elas existem. Sempre é bom lembrar que Canadá, Austrália e Nova Zelândia são tecnicamente monarquias e não repúblicas e seus reis são os mesmos da Inglaterra - apesar de que hoje não há nenhuma dependência destes países em relação à Velha Albion.

Voltando ao rabugento Lapouge, tenho a dizer que a monarquia inglesa e as outras sobrevivem até hoje por uma questão difícil de explicar e que se refere pura e simplesmente a algo que pode ser chamado pura e simplesmente de magia.

As monarquias têm origem na religiosidade dos povos - ou seja, na crença na existência de Deus. Para resumir as coisas, os reis e imperadores são os representantes de Deus em seus países. Em boa parte das monarquias européias os reis tinham uma espécie de procuração dos papas do Vaticano para exercerem esse poder sobre seus povos. A religiosidade é muito forte, todos sabemos.

Seja Deus Jeová, Alá, Buda ou um deus egípcio, grego ou escandinavo, na verdade Deus é criado em nossas mentes (ou em nossos corações, como costumeiramente se diz). Mesmo os que se dizem ateus mentem, pois eles apenas não reconhecem as dúvidas que têm com relação à existência de um Deus, ou de um ser superior, ou de algo exterior que explique o que é inexplicável. Isto é uma das formas de magia, enfim.

A saudade que sinto de meu pai falecido há 15 anos é magia. O amor que sinto por Ana Maria desde que a conheci há já 40 anos é magia. A saudade que sinto por um avô que jamais vim a conhecer é magia. A paz que as ondas do mar trazem em uma praia vazia é magia. A tristeza de ver um gato de estimação morrer é magia.

A admiração que um povo tem pela realeza de seu país é magia. Isso explica o deslumbramento não só do povo inglês como também dos povos do resto do mundo por um casamento na família real, como o que vai acontecer amanhã em Londres, entre o futuro Guilherme V (William) e sua esposa plebeia. Afinal, é claramente notável a admiração dos americanos por qualquer coisa relativa à realeza - eles, que sempre foram uma república, são tecnicamente apenas uma dissidência ocorrida há mais de 200 anos da realeza inglesa.

No Brasil, dois imperadores - Pedro I e Pedro II - foram os responsáveis tanto pela existência do país independente como pela manutenção da unidade de um território tão vasto. Ainda hoje existem, e não são poucos, muitos saudosos da monarquia e muitos desejosos de que um Pedro III aparecesse como um milagre para voltar a reinar.

Enfim, Meussier Lapouge, é isso!!!! No seu caso, pura dor de cotovelo. A monarquia inglesa é, antes de tudo, a Nação personificada. E pessoas civilizadas têm muito respeito a isso. Azar seu, pois seus antepassados viram sem reagir a deposição do último rei francês, Carlos X, e do último e único rei dos franceses (sim, havia uma diferença), dezoito anos depois, Luiz Filipe. Azar nosso, que não somente depusemos como acabamos, por tabela, matando nosso amado Imperador Pedro II, descendente de Habsburgos, Braganças, Aviz, Orleans, Bourbons e até de Plantagenetas ingleses...

28 de abril de 2011

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