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sexta-feira, 22 de abril de 2011

GENE SHARP, TWITTER & FACEBOOK. A NECESSIDADE DE GERAR MITOS EXPLICATIVOS PARA AS REBELIÕES ÁRABES.

Aprendi que fatos extraordinários sempre aguardam uma explicação. Os seres humanos não gostam de ficar na zona cinzenta da dúvida ou da ignorância. Aprendi, também, outra coisa bastante óbvia,mas sobre a qual não costumamos pensar: a hipótese explicativa que temos,em dado momento, é sempre a melhor hipótese caso não tenhamos outra. Isto é, as hipóteses podem mudar, caso nossa metodologia de pesquisa se aprimore. 

Assim, há 12 mil anos, ninguém poderia dizer de um meteorito que caísse com estrondo matando cntenas de pessoas de um grupo: É só um meteorito. Caiu no lugar errado! Essa explicação é inimaginável. Os seres humanos estavam lidando com o início da consciência e da percepção daquela realidade estranha que os cercava. O que caiu foi um visitante do céu, e chegou enraivecido. E assim nasceram os mitos dos grupos originais.

Não há mito inventado, sempre tem uma base concreta, real, muito forte. Foram tentativas de explicar, inicialmente, depois geraram rituais e outros procedimentos. Assim nasceram as religiões.

A onda de rebeliões árabes, desde o final do ano passado, começando pela Tunísia, tem sido examinada de vários modos. A maioria, muito apressada, é insatisfatória, do meu ponto de vista.
O mundo atual é muito mais complexo do que o mundo de 15 ou 20 mil anos atrás, mas não perdemos o hábito da explicação. Isso nos tranquiliza.

Um fato? Sempre tem que ter uma causa, respondem. É verdade, se analisarmos as coisas como polarizações entre ação e reação. Mas será tudo tão simples assim nos tempos atuais? A mim parece que as sociedades contemporâneas - ocidentais ou não - são semepre bem complicadas. Prefiro contemporâneas porque a palavra moderna remete ao modelo ocidental, produto, em parte do Iluminismo, com seu fundo cristão ancorado na Idade Média.

Twitter e Facebook

Assim, logo de imediato, quando as multidões começaram a aparecer nas ruas e praças da Tunísia, e nas telas de nossas TVs, surgiram especialistas atribuíndo isso ao "efeito Internet", isto é,  pessoas desejosas de democracia começaram a usar a tecnologia de comunicação moderna, e as redes de relacionamento para fazer a revolução. Ideia bonita, mas inconsistente. Diretores do Google já colocaram as coisas no lugar. A tecnologia facilita vários processos, mas as coisas devem estar mais no fundo.É preciso escavar o mundo das hipóteses. 


PROPAGANDA ESTILO RETRÔ DO TWITTER.
Ninguém programa uma revolução assim como quem marca ir tomar um chope na esquina.
Os mais cautelosos poderiam lembrar que a televisão árabe (Al Arabi e Al Jazeera) são fenômenos recentes e, provavelmente, mais enraizadas naqueles países que a Internet e as rede sociais.

E as novaS TVs árabes não são, necessariamente, porta-vozes de anseios democráticos. Não ao estilo ocidental. A penetração das emissões nos diferentes países, facilitadas pela língua, pode criar muitos problemas para as ditaduras ou regimes autoritários e autocráticos.
Esse poder interessa enormemente aos grupos islâmicos mais radicais ligados ao regime do Irã. Se a TV pode agitar, no mundo árabe, não é pela libertação, como a entendemos, mas para a derrubada de governos ditatoriais laicos, que não governam um regime religioso como o iraniano. Essa sombra é que paira sobre o norte da África e o Oriente Médio. E muitos deles são pró-americanos, ou meio apoiados por eles.
Claro que, entre milhares de pessoas que foram às ruas, todas querendo derrubar um ditador, havia algo em comum: derrubar o ditador. Ponto final.

Quais os motivos? Começa a discussão, e a confusão.
Qual o passo seguinte? Ninguém sabe. Alguém, que fomentou tudo isso deve saber, mas não tem todas as rédeas na mão para controlar com firmeza uma transição. Tanto que o exército egípcio puxou para si a rsponsabilidade da ordem.  

Não-violência e Gene Sharp

Entrou nas pautas da mídia falar de um professor americano chamado de Gene Sharp.
Um octogenário que escreveu um livro chamado "Da ditadura à democracia". Ele, ao longo do tempo, advoga que as pessoas podem derrubar um ditador com base em ações de não violência (M. Gandhi é um de seus ídolos). 

GANDHI POR M. BOURKE WHITE
A não violência poder ser mesmo um bom caminho. Expõe a violência do Poder. Mas isso depende do poder com o qual lidamos.

Alguns regimes, que não se sentem patrulhados pela ideia dos Direitos Humanos, como o da Síria (do partido Baath) passam por cima da oposição com tanques.

O mesmo acontece no Irã, vimos isso nas últimas eleições. Eles não tem pudor de mandar matar opositores e dizer que eram simples baderneiros (o nosso ex-presidente parecia concordar com essa estranha postura. "Meu amigo Ahmadinejad!...).

Em Cuba também isso acontece. A China é outro lugar para testarmos as ideias de Sharp. Lembram da Praça da Paz Celestial? A defesa dos Direitos Humanos hoje é muito seletiva...  

GENE SHARP.
http://tomsviewpoint.blogspot.com/
Em suma, certos países, por uma razão ou outra, contam com a complascência da Imprensa e dos grupos de ativistas tão ativos quando se trata de espinafrar Mubarack e, agora Kadafi. 

Este, até bem pouco tempo, era um dos intocáveis pela Imprensa e pelos ativistas do mundo melhor da esquerda.

A mim, apesar do pedigree do senhor Sharp, me parece que há uma tentativa de explicação, baseada em suas ideias, que vai transformar a queda do meteorito em um novo mito.

Não creio nem um pouco que as pessoas que estejam indo às ruas na África do Norte e Oriente Médio, estejam querendo a democracia. Querem livrar-se de seus problemas, isto sim, mas cada um tem seus problemas, e eles não conversam sobre isso. Apenas querem derrubar os ditadores. Claro que há pessoas ocidentalizadas por lá, e que poderiam almejar uma democracia do tipo ocidental. Mas não constituem a maioria. Nunca, até hoje, um país árabe ou islâmico contou com uma democracia. É um movimento coordenado de fora, mas não tem nada a ver com as ideias do Senhor Sharp.

Embora elas sejam mesmoideias simpáticas, mas profundamente ingênuas.
Para ele, toda ditadura se opõe à Democracia.
O senhor Sharp deveria ter vindo mais ao Brasil nos anos 60 e 70 para pesquisas empíricas. Nem sei se veio. Mas teria observado que muitos movimentos para derrubar ditaduras na América do Sul eram apenas para trocá-las por outras ditaduras. Ele teria conhecido muita gente do VAR-Palmares e, hoje, poderia ser amigo da presidente Dilma Rousseff.

Ou teria ficado bastante chocado ao perceber um grande engano em sua hipótese inicial. Enão estaríamos falando nele por estes dias.
 

Um comentário:

  1. Bobagem, essa teoria é muito destrutiva e violenta. Vejam o caso da SIRIA, UKRANA, LIBIA, EGITO, MARROCOS, TUNIZIA ETC. Isso provoca milhares de mortos destruição sem fim, uma estratégia militar muito bem pensada pela CIA.

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