Nunca consegui assimilar bem a verdadeira obsessão da esquerda socialista em desculpar ou justificar os regimes monstruosos implantados e desenvolvidos em seu nome, ao longo da História do Século XX.
Milhões e milhões de mortos parecem não servir de alerta aos socialistas. Sempre dizem que quando as idéias teóricas foram aplicadas em algum regime concreto, foram aplicadas de modo errado. Sempre a mesma explicação. Por tal motivo a revolução falhou.
Essa explicação não explica nada, pois os erros se repetem e então imagino que são as idéias teóricas que não funcionam mesmo, ou foram codificadas de modo tão difícil que quem tenta aplicá-las, por mais boa vontade que tenha, sempre vira um ditador cruel.
Ou, uma conclusão óbvia, a camisa de força da ideologia que querem aplicar à Realidade não serve na Realidade que insiste em se rebelar. Não apenas os socialistas são rebeldes, a Realidade o é muito mais.
Uma das coisas curiosas no socialismo é a sua grande dificuldade para lidar com divergências e idéias opostas. Isso vale na economia, na política, nas artes em geral.
Os socialistas nunca gostaram do que não é igual a eles.
De certo modo, o ser humano é apegado a uma certa forma constante, tem algo de conservador, e nem poderia estar mudando o tempo todo. Seria o caos. A realidade social, embora mude ao longo do tempo, parece mudar vagarosamente. O mesmo acontece com as culturas. Podem ter tempos de longa duração.
Mas os socialistas têm um pecado original básico: eles acreditam que acentam suas ações em uma visão científica e final da realidade. Após o socialismo implantado, não pode haver mais retorno.
Como voltar do estado de maravilhas criado sobre a face da Terra? Como acreditam que usam uma lei infalível, uma certa realidade social não pode voltar atrás. Para eles isso é a reação. Só é possível avançar, para ficar sempre igual.
Ocorre que, estabelecida uma “nova realidade”, uma “sociedade transformada”, um “novo homem”, tudo tem que ser mantido a ferro e fogo, para que ninguém tenha a má idéia de sair da linha e voltar atrás. Acabam fechando as fronteiras nacionais, para evitar que a população saia. Nunca soube de uma invasão de gente fugindo do mundo livre para ir a Cuba ou à Coréia do Norte. Isso não é muito significativo?
De fato, não é necessário nem querer voltar atrás, alguém pode querer ser mais apressado, e isso nunca dará certo. Os socialistas (comunistas, sem firulas lingüísticas) nunca se deram muito bem com dissidentes.
Ás vezes dissidentes querem é ir mais depressa, não voltar ao passado. Querem chegar mais rápido ao futuro. E o governo, sempre conservador, não permite. Isso é a própria história da URSS.
Qual o avanço constante, na direção de cumprir a doutrina socialista que podemos notar na URSS, em Cuba, na China ou na Coréia do Norte, por exemplo? Bem, a URSS implodiu, Cuba está implodindo, a Coréia do Norte implodirá. É tudo uma questão de tempo
Sobra a China. Mas a China tem os chineses, e os chineses são uns seres dos mais pragmáticos que já vi. O chinês é um grande comerciante e isso está empurrando a China na direção do Capitalismo de Mercado, um de forte Mercado Consumidor e de um partido Comunista que tem o maior temor de perder o controle do barco.
É sobre isso que quero refletir.
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Li matérias sobre o avanço da Internet na China. A China tem mais de 1,2 bilhão de pessoas. Tem 450 milhões de internautas, embora estejam restritos a um espaço virtual de Intranet, em parte.
É absolutamente impossível uma censura total sobre um sistema tão imenso. Isso já foi abordado de forma contundente por um marxista alemão chamado Hans Magnum Enzensberger em um pequeno ensaio sobre a Comunicação. Para ele, um sistema moderno, baseado na eletricidade, com telefonia, computadores, satélites, etc, é impossível de ser controlado absolutamente.
Só é possível um controle estocástico, estatístico e randômico. Se o sistema controlar tudo, desligar para evitar problemas, o próprio sistema parará, pois é uma questão de natureza estrutural-funcional.
Como a China precisa desenvolver um sistema de comunicação amplo, total e super-rápido, devido às conseqüência econômicas necessárias, a censura sempre será deficiente, e os jovens chineses sempre encontrarão brechas para burlá-lo.
O que significa que poderá haver uma visão oficial da China por meios dos veículos tradicionais, nas mãos do governo, e uma outra China, mais próxima da realidade, por redes estabelecidas pelos chineses e seus meios de comunicação pessoais. A China entrou numa fase bem complicada.
Quem poderia gravar todas as conversas e contatos para depois decodificar para fins policiais e políticos? Outra população igual à da China. Inviável.
Os líderes chineses, uma vez ligadas a turbinas do Consumo e do Mercado jamais poderão desligá-las, pois elas é que alimentam o processo econômico. Eles temem é que os chineses queiram ligar as turbinas da Liberdade de Expressão e da Liberdade Política. Aí então a gerontocracia chinesa teria um problema imenso nas mãos. E isso não está muito longe de acontecer.
A China socialista é que não tem mais retorno para os tempos da Revolução Cultural e de Mao Tse Tung. Enquanto o sistema político de partido único mantiver a economia aquecida e retirar mais gente do campo e as pessoas tiverem acesso a bens materiais, etc, a tranqüilidade política do sistema estará relativamente garantida.
Na Revolução Cultural a busca de uma igualdade absoluta dizimou mais de 70 milhões de chineses, obrigando todo mundo a se vestir igual. Comunistas não entendem absolutamente nada sobre a natureza humana. Eles pensam, até, que ela não existe, e que por isso é que podem transformá-la com lavagem cerebral, ensino de doutrina, castigos, ameaças, prêmios. Isso não funciona para sempre. Funciona para muitos que usam o sistema para sobreviver.
E este é outro ponto interessante da reflexão.
Ninguém pode obrigar um ser humano a ser igual ao outro (não concretamente, só em termos legais, constitucionais, como propõem os regimes democráticos) e os socialistas tendem à estupidez de tentar obter uma igualdade objetiva, nas roupas, no comportamento, no pensamento único.
Basta estudar o massacre imposto ao Camboja, país de 4 milhões de habitantes nos anos 70, em que o regime de Pol Pot matou mais de 1 milhão de cambojanos (25% do país), em busca de uma igualdade absoluta. Deviam ser completamente loucos os membros do PC do Camboja. O país foi devastado pela peste socialista da igualdade absoluta. Doença parecida foi verificada na América Latina pela ação do Sendero Luminoso, do Perú (maoísta).
As novas tecnologias de redes sociais e os investimentos em novos produtos levaram os chineses à loucura. Lê-se que “ninguém quer perder a face”, isto é, ninguém quer ser ultrapassado por alguém que tem um modelo de comunicação (celular ou computador) melhor que o seu.
Concluo que isso significa que ninguém pode obrigar um ser humano a ser igual ao outro. Isso é impossível.
Mas ninguém pode impedir um ser humano de querer ser igual a um outro, ou suplantá-lo.
Uma coisa é a imposição da igualdade pelo mais forte, elo poder totalitário; outra muito diferente é a idéia da igualdade desejada, que vem de dentro das pessoas. E essas ideias de igualdade são conflitantes. O comunistas,maus psicólogos e biólogos, nunca entenderam isso.
Essa é uma questão crucial, divisora.
Isso tem relação com o comportamento mimético e a vontade humana. Tem a ver com a consciência da ação, nunca com a imposição falsa vinda de fora por um poder político. É sobre isso que tratarei em outro texto: o mimetismo e a dificuldade dos socialistas de lidarem com as diferenças.
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