O Regime Comunista Cubano passa por um momento muito grave, pelo qual não esperavam os seu admiradores do exterior, ou os seus dirigentes. A situação remete, diretamente, à implosão da União Soviétiva (aquele mundo perfeito do qual já ouviram falar), no início dos anos 90.
Como um mundo perfeito se desmancha no ar, sem mais e nem menor? Nem Marx explica. O que provoca o desabamento de uma estrutura que, de fora, devido à forte propaganda, pareceria eterna? Lembram-se do III Reich de Hitler? O Reich que duraria mil anos, durou exatamente 12. Quem poderia imaginar isso antes de 1939?
A União Soviética encontrou seu fim em 1991, tendo sua raiz em 1917, com a Revolução Russa, mas sendo criada em 1922. Cuba revolucionária nasceu em 1959 e vai aguentando até agora, mas em uma fase de internação em UTI. Os comunistas costumam gerar milhares de explicações para as complicações de seus regimes: culpa dos contra-revolucionários, culpa dos sabotadores, culpa dos traidores, culpa dos reacionários, culpa do capitalismo, culpa do imperialismo, culpa dos revisionistas, clpa do embargo americano.
Eles nunca param para pensar, pois não conseguem admitir, sobre possíveis falhas na ideia fixa em criar um Mundo Novo. Seria isso possível de fato? Será que o erro não está em pensar que é possível "transformar a sociedade", ou a "natureza humana"? Eles costumam agir como se tudo se resumisse a uma questão de engenharia social. Comunistas são intelectuais de um livro só (quando o leram): O Capital. Talvez esse seja o problema.
Um livro só remete, muito mais claramente, à ideia de uma religião. Deveriam ter lido Ludwig von Mises ou Friedrich Hayeck. Mas seria demais para eles, aprenderiam que o pecado capital básico dos planejadores é imaginar que preço pode ser fixado. Isso leva a um desastre econômico, sempre. Não há erro, a História está cheia de exemplos. A Realidade se impõe. Nos países comunistas sempre, sempre mesmo, há mercado negro. Oferta e Procura.
Observam as sociedades humanas como se observassem formigueiros, cupins, abelhas. Mas o ser humano tem algo muito diferente, muito incontrolável, muito surpreendente, o ser humano pensa, imagina, cria e isso nunca pode ser controlado. Como os totalitários, em geral (nazistas e comunistas) acham que encontraram a fórmula social perfeita, ninguém está autorizado a administrá-la, só eles. Por isso dizem que tudo é feito em nome do povo, desde que a liderança dos processos populares seja deles.
Talvez aí esteja a raiz de todos os problemas enfrentados pelos regimes comunistas. Eles querem controlar tudo. Planejar tudo. O Homem não aceita ser empacotado assim. O homem é um ser potencialmente livre.
NÃO SOMOS PACOTES! http://www.clker.com/clipart-13598.html |
Desse modo, após 52 anos de regime comunista na Ilha, a crise continua. E, com a realização do 6º Congresso do Partido Comunista Cubano percebemos que os líderes estão absoutamente perdidos, ou perplexos, ou ambas as coisas.
De fato, o regime parece não saber para onde caminhar. Claro que nem ousam fazer um plebiscito. Poderiam ter uma surpresa gigantesca pela frente. Cuba tem um sério problema, além dos problemas natos de um regime comunista. Está perto demais dos Estados Unidos.
Os dois milhões de cubanos que vivem nos EUA podem ter ideias, por exemplo, muito diferentes sobre o futuro de Cuba que boa parte do comando do Partido Comunista Cubano.
E tais ideias podem ser iguais às e de milhares ou milhões de cubanos que hoje vivem em Cuba sem se manifestar. Mas têm ideias. Ocorre que num regime ditatorial, e Cuba é um regime ditatorial violento (o resto é propaganda), as pessoas desenvolvem a habilidade, ou a arte de ter duas caras.
Isso é muito ruim para o regime. Jamais falam o que pensam para um estranho, e nunca para um compatriota, a não ser que tenham absoluta confiança nele.
Esse filme vimos com clareza na União Soviética e em todas as repúblicas comunistas européias. Nunca um comunista fala o que pensa, a não ser que seja mesmo um comunista. Jamais falam sobre suas frustrações ou se expõem demais a fazer críticas, pois sabem da possibilidade do desemprego, da perseguição, do isolamento, da prisão, das torturas e, até, da morte. Não há mais como esconder essa grande verdade.
Seria muito desonesto um comunista que dissesse hoje que há coesão social em Cuba, ou absoluta harmonia entre o que o povo quer e o que o regime pensa que ele quer. Esse é o pecado dos planejadores totalitários. Querem pensar o mundo pelos outros. Fazem uns arremedos de eleições e assembléias, mas só o que querem é aprovado, ao final. Todos sabemos disso.
Assim, cria-se um grande valo entre o cotidiano, aquilo que o cidadão vive e sente e vê, e a conversa da propaganda oficial.N ão há propaganda que coloque comida na mesa. Não há propaganda que consiga esconder a realidade por muito tempo. E, 50 anos, é o tempo de uma vida inteira. Cuba está no seu limite.
Os resultados do Congresso do PCC mostram isso. O líder Raúl Castro fala que "ou mudamos ou afundamos", em seguida a direção do país é colocada na mão de octogenários, dos tempos da revolução de 1959! Igual à gerontocracia soviética. Os velhos são, por demais, conservadores. Mas não conseguem deixar de ver a realidade.
Será que o Partido Comunista Cubano não acompanha o que ocorre na Coréia do Norte e na China? A Coréia do Norte (outro reinado igual ao dos Castro) está em grande crise. Faltam alimentos!
A China, que mantém a conversa oficial comunista para enganar as criancinhas, nem discute mais Marx, aderiu ao Capitalismo, apesar de problemas estruturais internos, é um dos motores da economia mundial, e já conseguiu criar um mercado interno de consumo de mais de 450 milhões de pessoas, quase do tamanho da Comunidade Européia (ainda sem seu poder de compras, é claro). Mas isso dinamiza toda a indústria voltada para o Mercado Interno, além de estimular a produção para a Exportação.
E Cuba? Exporta fotos de velhos Fords e Chevrolets dos anos 50.
CUBA TEM UMA FROTA DE 60 MIL AUTOS ANTIGOS AMERICANOS http://mundoautomotivo.blogspot.com |
O resto é mais propaganda que realidade. Os cubanos sabem disso. E os dirigentes sabem que os cubanos sabem disso. E todo mundo sabe que os dirigentes sabem que os cubanos sabem disso.
Estamos na situação muito parecida com a situação limite da política de Gorbatchov da Perestroika e da Glasnost (Reconstrução e Transparência). Quase pude ouvir Raul Castro dizer durante o Congresso, "Cuba precisa de Reconstrução e Transparência". Mas não estamos em 1991. Estamos 20 anos à frente.
Mesmo o regime cubano não consegue bloquear as ações dos blogueiros e internautas cubanos que, com dificuldade, nos deixam entrever o panorama interno de Cuba. Os cidadão querem acelerar a Transparência (iberdade de Informação) e o Partido tem medo disso, mas não sabe bem como acelerar a Reconstrução. Acelera e breca ao mesmo tempo.
No ano passado iniciaram as demissões de centenas de milhares de cubanos de seus empregos estatais, mas a vida privada não parece estar dando muito certo. As condições não são muito favoráveis. E, sinalizando querer mudanças, ao mesmo tempo Castro indica velhinhos para conduzir o processo.
Até quando os cubanos aguentarão?
Eles precisam do dinheiro de seus amigos e parentes cubanos da Florida. E é muito dinheiro que entra. Eles precisam do dinheiro dos turistas, e estes deixam muitos dólares na Ilha. Mas a Ilha está empobrecida e Chávez não pode fazer o papel de União Soviética, vai ter que cortar a mesadinha. A Venezuela também está com sérios problemas econômicos.
Os cubanos cresceram ouvindo falar mal da iniciativa privada, e é isso que o Governo os manda fazer após as demissões. Deve soar muito louco para um cidadão. Fazer aquilo que sempre foi condenado!
Os russos tinham um ditado muito curioso e muito sábio, lá pelos anos 80: "eles fingem que nos pagam, nós fingimos que trabalhamos". Esse é o mal do sistema. Ninguém trabalha por si mesmo. Mas trabalhar por si mesmo não é trabalhar contra os outros, como imaginam os comunistas.
Basta fazer um sistema de tributação justo e todos ganharão. É por onde caminha a China. Mas a China, apesar dos erros, e do genocídio cometido contra milhões de chineses, por ordem de Mao, tem mais de cinco mil anos de cultura.
E isso pesa, no fim das contas.
Gutenberg, J.
BIBLIOGRAFIA
Aos que se interessam, sugiro a leitura de alguns livros muito interessantes, para entender os problemas de Cuba e do mundo dos totalitários:
Ernest Mandel - "Além da Perestroika - a era Gorbachov e o despertar do,povo soviético";
tem um interessantíssimo capítulo sobe como funciona a Opinião Pública num país sem liberdade de expressão. (Economia);
Anna Funder - "Stasilândia - como funcionava a polícia secreta alemã" - relatos sobre o cotidiano do cidadão sob a vigilância da polícia secreta comunista. Imaginem isso em Cuba. (Pesquisa histórica);
Milan Kundera - "A insustentável leveza do Ser" - romance sobre a perseguição a quem pensa diferente. Imaginem isso em Cuba. (Literatura);
Armando Valladares - "Contra toda a Esperança - 22 anos no Gulag das Américas - as prisões políticas de Fidel Castro" (Relato de experiência real);
Yoani Sánchez - "De Cuba com carinho" - (Crónicas do cotidiano, pela internet);
Heitor de Paola - "O Eixo do Mal Latino-Americano e a nova ordem mundial" (Política);
Corinne Cumerlato e Denis Rousseau - "A ilha do doutor Castro - a transição confiscada" (Política);
Luís Grave de Peralta Morell - "La Mafia de La Habana - Nuestra Cosa Nostra" (Política);
Humberto Fontova - O verdadeiro Che Guevara e os idiotas úteis que o idolatram" - o livro, excelente trabalho jornalístico de pesquisa histórica e documentação é acompanhado por um vídeo com depoimentos de ex-colegas de Che e Fidel. Realmente comovente. (Jornalismo/História).
Creio que a maior parte os interessados porderão encontrar no site de livros usados chamado Estante Virtual. Excelente, e com bons preços.
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