ODE AO PACIFISMO HUMANISTA
Se sou pacifista, se sou humanista, tudo o que faço não importa.
Não importa o preço que alguém tenha que pagar.
Faço o que faço porque sou pacifista e humanista.
Oh! como esse rótulo me conforta e me dá forças para prosseguir.
Às vezes matando, matando, matando.
Mesmo que me omita quando meus amigos matam civis, explodem bombas em parques e escolas, degolam famílias inteiras, explodem ônibus com crianças, espalham o mêdo, o terror, e a morte.
Isso é a seletividade em ação.
Mas eu sou um pacifista e humanista, sei que estou certo, então tenho o poder de dizer que matar é certo, é pela causa, é um modo de livrar o caminho da paz de todos os obstáculos.
Esse é o humanismo seletivo.
Obstáculos? Obstáculos removemos como quem tira uma pedra do caminho. Tudo o que faço é para o Bem, e o Bem está comigo.
Então, quem não está comigo é meu adversário, é meu inimigo.
Precisam saber que existimos.
Sei que o sangue do outro é vermelho, mas não vejo a cor, sou um tipo de daltônico moral ou ideológico.
Sei que as lágrimas de mães e pais são salgadas e caem pelos seus filhos mortos, mas pouco me importa, são os filhos dos outros, do outro lado.
Que morram. São os filhos dos ricos, ou dos pobres do lado de lá, pouco importa. São quem deve morrer.
Sei que o buraco no chão de terra fria é igual para todos.
Mas eles merecem ir para suas covas antes do tempo, só nos atrapalham.
Ou, precisamos que partam antes para que possamos espalhar a nossa boa nova, a nossa mensagem de amor, de esperança e de paz pelo mundo afora.
Quem, alguma vez na vida, leu o Mini Manual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighella, entenderá inteiramente essa linda mensagem de paz e amor pacifista e humanista à Humanidade. Entenderá a razão de tanta brandura e de tanto amor ao próximo.
E garanto que nos anos 70 muita gente leu esse livrinho sagrado, essa pequena bíblia do terror, esse pequeno corão do mal, essa verdadeira jóia filosófica sobre como acabar com a vida dos adversários, fazendo muito barulho.
Essa ode à Morte. Mas são todos pacifistas e humanistas.
E alguns querem desarmar a população, para evitar a violência, é claro.
Sabem muito bem do que estão falando.
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