O lamentável episódio em que o jornalista Caio Blinder, no Manhattan Connection, ofendeu a Rainha Rania, da Jordânia, e outras esposas de dignatários do mundo árabe-islâmico não me saiu ainda da cabeça.
A ofensa é problema dele, e foi realmente desnecessária e rude.
O que não me sai da cabeça, nisso tudo, é o que ele disse sobre o fato daquelas belas (geralmente são muito belas mesmo) mulheres, estarem sendo utilizadas politicamente, estrategicamente, como peças de propaganda de uma modernidade que pode não ser exatamente como pensamos, ou conforme a imagem que nos é passada.
Aqui no Brasil há uma cultura de "súdito", apesar de vivermos em uma República. O tempo inteiro arranjamos reis, rainhas e princesas disto e daquilo. Penso se não teria sido melhor que a Monarquia pudesse ter vencido o plebiscito de alguns anos passados. Ao menos teríamos reis, rainhas e príncipes e princesas de verdade.
Mal, mesmo, não sei se seria, pois há numerosas famílias reais na Europa, em países bem sucedidos (claro que os reis perderam o poder absoluto e quem manda são os primeiros-ministros) e que parecem estar bem com seus nobres. Da mesma forma, lendo matérias na nossa Imprensa, parece que há uma admiração incontida pelas rainhas e princesas árabes do Oriente Médio. Efeito Mil e Uma Noites?
Não sei, mas as rainhas casadas com os reis árabes ou as esposas de presidentes-ditadores-autocratas são sempre vistas como belas, cultas, bem formadas, inteligentes, dedicadas às causas sociais, ótimas mães, algumas com profissões do tempo anterior ao casamento, ricas, elegantes, deslumbrantes, cosmopolitas, etc... Justamente o que mulheres de alguns daqueles países jamais poderão ser, por diversas razões.
De fato, parecem ser duas coisas diferentes. As mulheres, uma; e os governos de seus maridos, outra. Qual o motivo de tanto fascínio? Seria porque geralmente são antiamericanos, conquistando a simpatia da esquerda largamente esquerdista hoje em dia? Seria porque os islâmicos parecem ser aqueles que desafiam o mundo cristão e ocidental? Seria porque deles emana uma aura de poder, pois estão literalmente montados em dinheiro (ao menos uma boa parte). A esposa do presidente Assd da Síria é tratada assim;
Asma al-Assad: A mulher que destronou Carla Bruni e Michelle Obama. Uau!
Asma al-Assad |
"Se quiserem perceber o rumo que a Síria vai seguir, olhem para a beleza e elegância de al-akilatu al-raïs (a mulher do Presidente), diz-se no Médio Oriente.
A revista francesa Elle olhou, e Asma Fawaz al-Akhras foi classificada, este ano, “a primeira-dama mais bem vestida do mundo”, relegando para 2º lugar Carla Bruni e para 3º Michelle Obama.
E se em Paris causou furor numa visita aos Sarkozy, o objetivo de Bashar al-Assad será agora o de cativar os futuros governantes em Washington", escreveu Margarida Santos Lopes em www.público.pt
Sei que houve o mesmo interesse da imprensa por Carla Bruni, a Lady Di, a inesquecível Grace Kelly. Mas nenhuma delas era esposa de algum autocrata ou representava um estado fechado, sem liberdades civis, geralmente sem democracia e sem liberdade de expressão.
Fico imaginando se , eu disse se, a mulher de Fujimori fosse bonita (nem sei quem foi), se a mulher de Pinochet elegante e simpática (também não sei), a esposa do general Videla culta e bela (também ignoro), teriam tido o mesmo tratamento?
Acho, sinceramente, que não. Porque? Porque seriam vistas como um tipo de extensão do poder tirânico de seus respectivos maridos. No entanto, de Evita, mulher do assustador Peron todos se lembram.
Então, por que isso não acontece com as lindas rainhas e esposas de dignatários árabes?
Bem, eu ainda não tenho uma ideia mais clara. Vou examinar o caso de cada uma e ainda farei um texto.
Mas que isso me intriga muito é verdade. Aos senhores não?
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