Com a correria dos últimos dias não tive tempo de tocar num assunto muito importante. A questão que envolve as declarações contundentes ou exageradas, às vezes meio idiotas, do deputado Jair Bolsonaro, e as reações, emocionais, histéricas, ou razoáveis de vários segmentos sociais, ou personalidades.
O deputado tem o direito às opiniões dele, não somente devido à imunidade parlamentar. Mas também tem todo o direito às opiniões dele como cidadão brasileiro. A nossa Constituição garante a total Liberdade de Expressão.
Como Bolsonaro ou qualquer outro cidadão não podemos cometer crimes (ou até podemos, mas são crimes), pois para crimes há leis que os definem e punições específicas. Pode ser que o deputado tenha cometido crime de racismo. Mas isso terá que ser apurado pelas autoridades. Somente a Justiça poderá dizer se cometeu crime.
Quanto às demais opiniões dele, por mais bizarras que sejam, é outro departamento. Já pensaram se todo mundo tivesse que concordar com ele ou com quem o critica?
Uma sociedade aberta, livre, com garantias constitucionais, como a nossa, pode gerar
situações tensas como a decorrente das declarações do deputado sobre homossexualidade ou sobre o projeto da Lei da Homofobia. Mas ele é livre para dizer o que pensa. Assim como qualquer um de nós.
Pode ser até, dado que é político, que esteja sendo sincero e, com isso, poderá ganhar ou perder votos. O risco é todo dele. Político corre riscos também. Sobre perder o mandato não creio, a não ser que a questão do racismo (iniciada na pergunta da Preta Gil) realmente se configure como crime, depois de tudo muito bem apurado. Se foi crime, que pague, como qualquer um pagaria. A ministra Luiza também andou falando umas coisas meio estranhas. Ministros também devem subordinar-se às leis.
O Brasil anda muito voluntarioso, as ONGs ativistas muito cheias de vontades e não-me-toque. Mas a Democracia é um regime um pouco complicado mesmo, porque precisamos aprender a conviver com as divergências. Não podemos só querer ganhar no grito.
Gritos nunca são bons argumentos. Aliás, na Democracia precisamos aprender a respeitar a Lei. Mas respeitar a Lei não é impor aos outros os nossos pensamentos e nem querer emparedar quem pensa diferente. Isso é coisa de autoritário fascista. E muita ong libertária está merecendo levar esse carimbo. Autoritários. Fascistas.
Aliás, quando gritam, escondem (ou escancaram!) a falta de argumentos.
Dito isto, vou reproduzir, aqui, o texto de dois leitores homossexuais que se manifestaram enviando seus comentários ao blog do jornalista Reinaldo Azevedo, ancorado no site da Veja, um dos principais jornalistas do Brasil. Reinaldo faz análises, não reportagens. Mas, mesmo sem ir à rua, dá lições de Jornalismo diárias. É uma verdadeira Universidade do Jornalismo.
O problema é que muitos jornalistas, sem humildade, e que não querem aprender, porque acham que já sabem de tudo, não querem gastar um tempinho para aprender o que é saber usar a Lógica, e não o fígado para apreciar os fatos.
O problema crucial do Brasil, neste campo, é que centenas de jornalistas trabalham com antolhos ideológicos. Sem isso, desmontam no vazio.
Vamos lá:
Texto 1. Leitor que se identifica, nos comentários, como Sherlock:
“Rei, deixei comentário no post anterior (sobre Marcelo Tas e sua filha Luiza), mas acho que deveria ter postado neste…
Sou homossexual e subscrevo as palavras da Luíza. O Bolsonaro que diga o que bem entender. Ou agora todo mundo é obrigado a gostar de gays ou qualquer outra categoria que o politicamente correto nos obrigue?
Finalizando, mas não menos importante: se algum dia eu for agredido por ser homossexual (o que, espero, nunca aconteça), recorrerei à Justiça contra o agressor, mas não por ser homossexual, e sim porque a lei pune a agressão: contra héteros, gays, brancos ou negros."
Texto 2. Leitor sem identificação:
“Olá, Reinaldo.
Li seu texto com um nó na garganta. Leio diariamente seu blog, até quando não deveria (p.ex., no trabalho rs). Sua inteligência dispensa comentários, mas sua sensibilidade me surpreende sempre que você compartilha conosco suas opiniões e vivências de foro mais íntimo. Eu tenho de parabenizá-lo mais uma vez por um belíssimo texto, que me levou a refletir.
Meu pai morreu quando eu tinha sete anos. Lembro que ele era um pai maravilhoso, que adorava me carregar sentado no ombro dele para onde quer que ele fosse. Lembro que, às vezes, eu percebia no olhar dele (e crianças percebem tudo!) uma certa tristeza - ou apreensão, não sei - em relação a mim, que eu não entendia, mas hoje entendo: eu já era gay, embora ainda inconsciente disso, e meu pai sabia. Nasci assim.
Tive uma família maravilhosa, cheia de figuras masculinas que eu admiro e que me inspiram: meu avô, que foi meu grande ídolo, meus tios “machões”, que se desdobravam para compensar a perda do nosso pai e que, até hoje, são meus melhores amigos. Eu penso que meu pai, se vivo, pensaria como você. Eu penso que ele me amaria porque ele já me amava. Eu espero um dia que todos nós vivamos num mundo onde cada um tenha a liberdade de ser o que é e de ser respeitado - respeitando - na sua singularidade, sem paternalismo, sem condescendência e sem direitos especiais em relação a ninguém.
O deputado Bolsonaro tem seus valores, que são frutos da sua história; quer eu concorde com eles ou não, o fato é que eles refletem os valores de muitos brasileiros, e ele, como representante dessa parcela dos brasileiros, tem todo o direito de falar. Acho até bom quando se tem a oportunidade de debater temas delicados no Brasil, onde tudo é acomodado e varrido para debaixo do tapete. Gosto da qualidade do debate que você faz no seu blog, que, não à toa, é o melhor blog de opinião e análise do Brasil. Obrigado por este texto.”
É preciso dizer mais alguma coisa depois dessa lucidez?
O texto de que trata o leitor 2 , intitulado Pais e Filhos, está linkado ao final deste post.
Leiam com a atenção que ele merece, e vejam se os dois leitores não têm razão em terem dito o que disseram.
Chega de idiotice politicamente correta no Brasil. Precisamos que as pessoas possam dizer o que pensam, como pessoas, não como expressões de segmentos políticos organizados que querem impor suas verdades aos outros calando quem pensa diferente.
Sejam elas índios, gays, mulheres, homens, feministas, negros, brancos, asiáticas, altas, baixas, gordas, magras, feias, bonitas, ricas, pobres, religiosas, ateus, atoas, certas ou erradas. Chega dessa patrulha nojenta, preconceituosa, que deturpa a inteligência e é, muitas vezes, expressão de mau caráter.
Este post é em homenagem ao grande jornalista Reinaldo Azevedo.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/pais-e-filhos-2/
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