Fico profundamente impressionado quando alguém morre em um acidente como o que levou o paraquedista Julio Tedesco. Não pela falta de perícia dele, pois ela tinha muita experiência no tipo de salto que estava fazendo, mas pela sua falta de sorte, apesar de todo o conhecimento e os cuidados que os paraquedistas são obrigados a tomar para um salto dessa natureza.
Nunca me esqueço dos ensinamentos de um teórico tcheco chamado Ivan Bystrina que associa o desenvolvimento da cultura humana a algumas raízes fundamentais. As raízes, segundo o autor, são aquelas forças primárias que impulsionam a imaginação humana e que fazem com que construamos hipóteses explicativas para os fenômenos do mundo.
O ser humano é fascinado por história que tratam da Morte. A Morte é um constante desafio, pois envolve a sorte e o azar. O aleatório, o inesperado, é o que dá força aos fatos. Infelizmente, nem sempre os fatos são bons para os envolvidos.
Ninguém quer que alguém se acidente, em nenhum esporte. Mas toda a perícia e competência dos esportistas, dos jogadores, é um constante desafio ao destino, à sorte, ao azar e à morte. Assim temos acidentes inesperados na Formula 1, nas corridas de motos, nas lutas, nos jogos de futebol, nos esportes aéreos.
E os seres humanos fazem coisas incríveis em busca de emoção e adrenalina. Não há a menor necessidade de que alguém salte de um avião a mais de 1500 metros de altura para surfar no ar, em uma prancha, ou de que alguém salte no vazio, deixando para abrir o paraquedas a poucas dezenas de metros do chão. Isso faz o ser humano, isso é absolutamente humano.
Mas é isso que fazemos. Buscamos sentido para a vida, emoção, adrenalina, superar o próprio limite uma vez mais. Ainda me lembro com imensa clareza das vezes em que, fazendo o curso de pilotagem, em um aeroclube do interior de São Paulo, o meu instrutor levava o velho Pipper Continental ao máximo possível na vertical para estolar e entrarmos em parafuso, ou quando fazíamos o looping.
Quem acredita que o avião poderá ter uma pane, ou que poderá perder o controle sobre a máquina? Quando isso acontece, geralmente a Morte vem nos buscar. Ela está sempre ao nosso lado, mas ninguém gosta de pensar nisso.
Quem acredita que o avião poderá ter uma pane, ou que poderá perder o controle sobre a máquina? Quando isso acontece, geralmente a Morte vem nos buscar. Ela está sempre ao nosso lado, mas ninguém gosta de pensar nisso.
Julio Tedesco já havia dado mais de 1200 saltos, tinha imensa experiência, mas foi o dia em que Fortuna marcou seu nome na roda da Sorte e o entregou para a Morte. não havia como escapar. Descanse em paz.
Informações extraídas de O DIA:
O corpo do paraquedista Julio Tedesco, 54 anos, foi sepultado nesta segunda-feira, às 15h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste. Ele morreu domingo, durante uma manobra no ar para garantir as melhores imagens para o programa ‘Zona de Impacto’, do canal pago SporTV.
O profissional não conseguiu abrir o paraquedas e morreu. Ele caiu na praia da Barra da Tijuca. Bombeiros do Grupamento Marítimo (Gmar) resgataram-no no mar já sem vida. Júlio era dentista e praticava esportes radicais com regularidade.
Ele tinha registrados mais de 1.200 saltos. Os números fizeram dele um dos grandes nomes do Sky Surf (modalidade em que o paraquedista salta com uma prancha nos pés e surfa no ar) no país e um esportista radical conhecido no mundo inteiro.
Júlio saltou acompanhado do cinegrafista e paraquedista Alexandre Dória. Após o salto, executou diversas manobras no ar, deu piruetas e de repente não conseguiu mais voltar a ficar de pé.
Testemunhas contaram aos bombeiros que ele ainda tentou se livrar da prancha de Sky Surf ao notar o problema, mas foi impedido pela força do vento: ele entrou em uma espiral, formando uma hélice com a prancha, a uma velocidade de 200 km/h. O esportista caiu no mar, na altura do Quebra-Mar.
Ainda durante a queda livre, ele tentou acionar o paraquedas reserva, item obrigatório de acordo com as normas para a prática do esporte, mas que também não abriu. Júlio Tedesco deixa esposa e um filho de 15 anos.
Leia mais em O Dia:
http://odia.ig.com.br/portal/rio/html/2011/12/corpo_de_paraquedista_morto_na_barra_sera_sepultado_nesta_segunda_feira_210426.html
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