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domingo, 19 de junho de 2011

MORRO DA MANGUEIRA GANHA UPP. E os bandidos do Rio continuam sendo avisados antes e ficam brincando de esconde-esconde.

As grandes encenações realizadas para as festas de Pão e Circo (êpa, digo, Copa) continuam. No Rio de Janeiro, após muitos avisos das autoridades anunciando dez dias antes que iam invadir o Morro da Mangueira para a instalação de uma UPP, a ocupação aconteceu.

Um enorme e custoso aparato policial e militar chegou em comboio, inclusive levando a Bandeira Nacional e a do Rio, para serem fincadas no topo, de onde se vê o Maracanã.  Cerca de 750 homens armados. Não se ouviu um tiro de resistência. Os bandidos haviam feito suas malas dias antes e puderam sair em paz, levando suas armas, as drogas e o dinheiro que costumam estocar para as ocasiões de necessidade.


Ocupação sem um tiro. (Foto Severino Brito/O Dia)

Segundo a imprensa, seis blindados da Marinha, helicópteros, caminhões, motos, reboques, ônibus e ambulâncias também foram mobilizados. Cerca de 120 policiais do Bope inspecionam as ruas da comunidade, munidos de rádios com GPS. O deslocamento dos agentes é seguido num centro de operações montado na 111ª Cia. de Apoio de Material Bélico, onde onde está o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Um centro de triagem montado na Escola Adolfo Bloch, ali perto.

Acho que os bandidos devem estar achando interessantes essas ocupações espalhafatosas. Não tomam um tiro, levam as armas e as drogas, e, aqueles mais novos, nascidos na favela ocupada, da qual pouco saíram, ainda podem fazer turismo pelo Rio para checar  as belezas cantadas em prosa e verso, as quais nunca viram de perto.

Caros leitores, desde o início das tais ocupações para a implantação de Unidades Policiais Pacificadoras (UPP) quantos bandidos foram presos? Em quanto diminuiu o tráfico de drogas na Cidade?

O senhor deve estar pensando, corretamente, para onde foi essa bandidagem toda? Perfeito. É isso mesmo. A bandidagem foi incomodar outra freguesia. Ameaçar, talvez, a tranquilidade do seu bairro, a segurança da sua casa e a de seus filhos.

A implantação das UPPs faz pensar em como o Rio foi se deteriorando, e desde quando. As áreas de morro em torno da cidade, ocupadas por barracos de madeira, aparecem já, na obra de João do Rio, que em suas crônicas dos anos 20, nos conta sobre como era subir o morro para ouvir música. Não havia o menor sinal dessa criminalidade que se desenvolve nos últimos 40 ou 50 anos.

O Rio de Janeiro, pela sua topografia, favoreceu que as bandidagem fosse ocupando espaços, por descaso, incúria, desamor das autoridades pelo seu povo. Só se lembram das favelas quando é para subir o morro e pedir votos. A situação ficou tão ruim que, nos últimos anos só sobem o morro para pedir votos os políticos que se comprometem com os traficantes e lhes fazem favores.

Nesse mecanismo é que se encontra a explicação para o que eu chamo de Cultura Bandida. Quando as franjas das instituições começam a tocar as franjas da criminalidade. Corrupção, troca de favores, ameaças, desvios de conduta. Tudo passa a constituir um zona cinzenta, em que não há mais certo e errado.

A garotada da classe média vai ao morro buscar cocaína. As garotas ricas passam a ter casos com bandidos. No Rio de Janeiro tudo é relativo. Tal foi o motivo dessa intelectualidade de esquerda, metida a modernosa, não gostar do Filme Tropa de Elite (I), pois ali está claro que quem usa drogas ajuda os traficantes. E drogas matam, usuários e pela violência que trazem.

É uma bandidagem que absorveu os métodos e táticas dos guerrilheiros e terroristas presos nos anos 70 e que doutrinaram os líderes do que viria a ser o CV e o PCC. Gente curel, que mata sem motivo, tortura rivais, queima em pneus os adversários vivos (micro-ondas). Ainda não chegaram ao requinte dos grupos mexicanos, mas ainda têm tempo para aprender. 

Cada vereador do Rio, cada deputado estadual ou federal, cada policial, cada promotor ou juiz que se deixou levar pelo canto das sereias da corrupção, das facilidades, foi cúmplice, é culpado, ajudou a destruir vidas. Não há escapatória.

O Rio de Janeiro, na forma de Estado, abandonou os moradores à sorte. E agora brincam de ter encontrado uma solução. A solução mais eficaz, não essa farsa de empurra-bandido, é a mais dolorosa e traumática à comunidade: fazer cercos e cotidianamente revistar, fazer batidas, filtrar, peneirar. Bandido tem que ser localizado e preso, não há outro meio.

Não será sob pressão de UPPs que ele deixará o crime para vender picolés em porta de escolas. Mas não, isso provoca protestos da população, pois incomoda o dia a dia, então todos se acomodam. Tornam-se escravizados por comodidade.

Nessa acomodação geral, as crianças se contaminam, as crianças aprendem coisas certas e erradas e já não sabem distinguí-las. E o Rio foi se construíndo nessa geléia indefinida. Agora basta as autoridades avisarem dias antes, vamos invadir aqui, vamos invadir ali, e a bandidagem se despede e vai para outro lugar.
E todos fingem que a violência acabou, que o tráfico acabou, que as mortes acabaram.

Nada disso acabou, minha gente, elas apenas mudaram de endereço.
 

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