Leiam com atenção o texto do professor Olavo de Carvalho (Fora do Páreo) para entender como devem ser analisadas as bobagens de alguém que pretende falar com propriedade sobre a oposição "direita x esquerda", como faz Eugênio Bucci (A Direita, o papagaio e o facão).
Como outros jornalistas, alguns mantendo blogs com verbas públicas, Bucci ataca uma direita que ele imagina algo organizado como um partido, a receber ordens de um centro de comando qualquer. Isso não existe, nem em termos de Brasil, e nem em termos mundiais.
se há alguma organizada e coordenada hoje em dia é a esquerda.
Basta ler os alertas ao longo do tempo feitos por Olavo de Carvalho para percebermos o que significa, por exemplo, um Foro de São Paulo para a ordem política da América Latina.
Basta ler os alertas ao longo do tempo feitos por Olavo de Carvalho para percebermos o que significa, por exemplo, um Foro de São Paulo para a ordem política da América Latina.
Claro que pesquisas de opinião indicariam o modo de ver conservador da população que, de modo geral, se coloca contra determinadas orientações multiculturalistas e do politicamente correto. Mas isso é algo natural, intuitivo. Não há um centro de onde emanem ordens para isto ou aquilo como as ordens que são dadas aos ,movimentos sociais coordenados pela esquerda no Brasil atual.
Bucci não seria capaz de indicar um veículo controlado por uma redação de direita no Brasil. Todas são de esquerda, basta ler os títulos, observar as edições, verificar as fontes sempre as mesmas ouvidas, perceber como há um alinhamento com as teses esquerdistas e de governo mundial.
Não há uma direita no Brasil. Não há partidos de direita no Brasil. Há pessoas conservadoras, cada uma por si. O fato é que, com o advento da Internet, muitas dessas pessoas resolveram começar a fazer blogs e sites que contrariam a visão hegemônica, absoluta, que há na Imprensa e no meio universitário.
E, como à esquerda falta preparo intelectual, de modo geral, vivendo de palavras de ordem, isso assusta. Logo passam a falar de conspiração, de orquestra, de assombrações.
E, como à esquerda falta preparo intelectual, de modo geral, vivendo de palavras de ordem, isso assusta. Logo passam a falar de conspiração, de orquestra, de assombrações.
Muitos blogs são feitos por pessoas que lecionam em universidades, trabalham em redações em que expressar algo diferente da visão absolutista da esquerda seria pecado, sob o risco de demissão. Tal é o Brasil hoje sob o domínio de falsos democratas.
Como tais blogs e sites passaram a ser lidos, comentados e seguidos por pessoas que encontraram ali algo interessante, mais conforme a realidade que percebem, isso intriga e amedronta os esquerdistas que esperneiam, achincalham, condenam, mas nunca debatem e nem argumentam corretamente.
BOA REFLEXÃO:
FORA DO PÁREO
OLAVO DE CARVALHO
Ao fulminar a direita no tom de um Júpiter tonitroante, Eugênio Bucci não ousa citar por nome um só teórico ou polemista da execrada corrente. Limita-se a aludir de passagem ao deputado Jair Bolsonaro, que não é nem uma coisa nem a outra e que, sendo pessoa alheia aos debates intelectuais, não lhe oferece o menor perigo de um revide.
Em artigo recentemente publicado no Estadão, Eugênio Bucci, que se diz professor universitário e, pior ainda, talvez o seja realmente, denuncia, com horror sacrossanto, a emergência de uma nova direita que tem o desplante, a arrogância, a intolerável empáfia de ir além do limite que lhe foi fixado pela esquerda - a defesa da economia de mercado - e externar opiniões até mesmo em assuntos morais, culturais e filosóficos.
Contra esse abuso criminoso das liberdades civis, Bucci não perde tempo refutando argumentos: dispara contra o objeto de sua indignação cívica o arsenal inteiro dos chavões consagrados ("intolerância", "xenofobia", "anacronismo", "sanha persecutória", "extremismo" "fundamentalismo", "retrocesso") e sai todo satisfeito, acreditando que disse alguma coisa.
Incapaz de fornecer um só exemplo concreto de ação ou opinião que mereça esses rótulos, ele apela à clássica inversão revolucionária de ataque e defesa, qualificando de "perseguição aos homossexuais no Congresso" o esforço que católicos e evangélicos têm feito para defender-se de uma lei inventada com o propósito explícito de levá-los todos à cadeia por "crime de homofobia". Inversão tanto mais insultuosa e ridícula porque, no caso, o perseguido tem a força do governo, da grande mídia, do show business e do establishment universitário, enquanto o perseguidor não tem sequer a totalidade dos púlpitos nas igrejas. O lobo da fábula inventou mil e uma contra o cordeiro, mas não o acusou de persegui-lo.
Esquivando-se ao debate com representantes nacionais da tal direita, dos quais parecia estar falando, Bucci ataca à distância a sra. Marine Le Pen por defender a opinião hediondamente direitista de que o escândalo Strauss-Kahn revela algo da podridão moral da classe política francesa - como se não fosse prática geral, centenária e obrigatória, entre esquerdistas, apontar cada sem-vergonhice pessoal de líderes, governantes ou empresários como prova da ruindade intrínseca do capitalismo.
Chega a ser admirável o despudor com que o articulista do Estadão ostenta em público sua incapacidade (ou recusa) de raciocinar com algum senso de equidade, de justiça, de equilíbrio. O fato de ser acusado de um crime sexual não transforma Strauss-Kahn no representante de uma "elite estupradora" protesta ele (fingindo ignorar que a noção mesma de "elite estupradora" é uma invenção da esquerda feminista), e já dois parágrafos adiante joga sobre nós, os porta-vozes daquilo que ele chama "direita histriônica" a responsabilidade por "assassinatos de líderes ambientalistas", como se o fato de escrevermos contra a União Européia ou a PL-122 nos transformasse em mandantes de crimes no interior do Brasil.
O desejo irrefreável de imputar culpas mediante associações fantasiosas já é imoral o bastante, mas Bucci soma à calúnia o insulto quando reconhece que os autores daqueles crimes jamais foram descobertos, donde se conclui que, na cabeça dele, a total incerteza quanto aos agentes materiais do delito é fonte de certeza quanto aos seus culpados intelectuais remotos. Será exagero meu dizer que esse professor de moralidade tem um senso moral pervertido, baseado em ódio insano e sem o mínimo controle racional?
Mas, hiperbólico e desgovernado o quanto seja nos seus julgamentos morais, Bucci não é destituído daquele senso de autopreservação que é, na esfera da mesquinharia humana, a versão caricatural da prudência evangélica.
Ao fulminar a direita no tom de um Júpiter tonitroante, ele não ousa citar por nome um só teórico ou polemista da execrada corrente. Limita-se a aludir de passagem ao deputado Jair Bolsonaro, que não é nem uma coisa nem a outra e que, sendo pessoa alheia aos debates intelectuais, não lhe oferece o menor perigo de um revide.
Escrevendo com os típicos esgares patéticos de quem se esmera na ginástica impossível de alegar indiferença superior enquanto gesticula e berra para infundir na plateia o temor de um perigo iminente, ele torna ainda mais problemática essa operação, já de si complexa, ao fundi-la com o esforço teatral de fingir coragem ante adversários que ao mesmo tempo insiste em conservar ausentes, anônimos e abstratos. Quando ele os chama "histriônicos", é impossível não ver nisso o mecanismo grosseiro e típico da acusação projetiva.
Se o estilo é o homem, Eugênio Bucci está definitivamente fora de páreo em qualquer debate sério. Falta-lhe franqueza, consistência e aquele mínimo de controle autocrítico sem o qual o melhor mesmo é só puxar discussão com entidades genéricas, fugindo ao confronto com interlocutores de carne e osso.
20 JUNHO 2011
Texto reproduzido do site Midia Sem Máscara:
http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/12181-fora-de-pareo.html
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O TEXTO DE EUGÊNIO BUCCI
A direita, o papagaio e o facão
Eugênio Bucci
Uma aura folclórica, translúcida e radioativa, faz reluzir esse novo histrionismo de intolerância direitista que, de 10 ou 15 anos para cá, vem ganhando cargos políticos e espaço jornalístico no Brasil e no resto do mundo. Uma aura folclórica, é bom repetir.
Esse discurso que mescla receitas anacrônicas de ultraliberalismo econômico e uma sanha persecutória contra os movimentos sociais em geral - uma repulsa ao Estado, quando o assunto é mercado, e uma ojeriza à diversidade, quando o assunto é sociedade civil - costuma vir embalado por arrogância bruta, dita politicamente incorreta, que, no mais das vezes, não se pode levar a sério. Jair Bolsonaro é um exemplo, mas há outros. Falam tanta barbaridade, tanto desaforo, que a gente dá de ombros. Melhor deixá-los onde estão. Cumprem lá o seu papel.
O novo histrionismo tem lá a sua representatividade. Ele externa ideias que a grande maioria dos mortais teria vergonha de pronunciar. Desbocado, fala em nome de padrões morais menos flexíveis, xingando os gays e abominando os militantes das causas ambientais, como se todos fossem comunistas escondidos em ONGs vendidas ao capital internacional. É um discurso absurdo? É, mas todos reconhecemos o seu direito de existir. Que as atrocidades sejam ditas em sua crua explicitude - se não fica mais elegante, pelo menos o debate fica mais franco. Assim, barulhenta como um papagaio doido, essa voz primitiva conquistou seu lugar ao sol. Como folclore.
Falando em folclore, temos aqui um dado pitoresco. Essa voz não pode ser confundida com a direita em sentido clássico. Ela não representa a defesa da livre-iniciativa ou da concorrência no mercado. Ela mal sabe o que são trustes, marcos regulatórios e fluxo de capitais. Confunde vícios privados com ética pública. Ela é de direita como caricatura, pelo conservadorismo nos costumes, por não suportar conviver com a diferença, pelo asco que emula contra tudo o que cheire a esquerda. Essa direita, enfim, é uma direita comportamental e obtusa; é mais uma seita fundamentalista, ainda que fragmentada, e menos uma corrente de pensamento.
Em parte, como já foi dito, ela cresce graças à corrupção que corroeu a esquerda, em vários países, gerando incompetência administrativa e frustração nos diversos eleitorados. Essa explicação, contudo, é insuficiente. É verdade que, além do esmero em se apropriar do alheio para abarrotar cofres pessoais ou partidários, setores expressivos da esquerda demonstraram notável talento para fazer desandar a máquina pública, mas isso, apenas isso, não explica o crescimento dos discursos prepotentes à direita. É preciso levar em conta, ainda, um fator que parece galvanizar os descontentamentos. O nome desse fator é moralismo.
Para que tenhamos uma ideia menos vaga do que é o moralismo político hoje, vejamos o que se passa na França. Marine Le Pen, candidata da extrema-direita às eleições presidenciais do ano que vem, prega abertamente o retrocesso. Ela fala contra os estrangeiros (xenofobia), contra a unificação europeia e contra os políticos. Para ela, a prisão de Dominique Strauss-Kahn - então diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), num hotel de luxo em Nova York, acusado de agredir sexualmente uma camareira - não é outra coisa senão um sintoma da imoralidade em que naufragou a elite política francesa.
Não há razão nesse discurso, é evidente. O fato de ser acusado de um crime sexual não transforma Strauss-Kahn no representante de uma elite estupradora (a propósito, Marine Le Pen também integra a elite política francesa). Mas o moralismo é assim: elege traços comportamentais como pilares da ética pública e solta seus cachorros na rua. Como não estamos no campo da lógica, o eleitorado vem gostando dos comícios de Marine Le Pen. À vontade, ela catalisa a fúria contra o diálogo: a fúria contra os estrangeiros, os outros políticos e os demais países europeus. No caso dela, a direita não é folclore: é facão.
E no Brasil? Bem, por aqui estamos às voltas com políticos ditos de esquerda que faltaram com a decência pública. Que sejam julgados e punidos. A conduta pessoal de cada um deles, entretanto, não quer dizer que todo o governo (de Lula ou de Dilma) seja uma desbragada bandalheira. Não é. Da mesma forma, não foram pura maldição os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, por mais discutíveis que tenham sido os métodos pelos quais ele abriu atalho para o segundo mandato. Houve acertos na gestão de FHC, assim como houve acertos na gestão de Lula. A nossa única esperança está em separar, sem extremismos, os acertos dos erros - e fortalecer os primeiros e corrigir os segundos. Claro, segundo as regras da democracia.
A hora é delicada. No Congresso Nacional há um embrutecimento da perseguição religiosa contra homossexuais. No campo, líderes ambientalistas (todos ligados a movimentos de esquerda, registremos) são assassinados sem que os criminosos sejam sequer localizados. Em todo lugar despontam manifestações de impaciência e de recusa peremptória do argumento adversário, seja quando se fala de um livro de Português adotado em escolas públicas, seja quando se vota o novo Código Florestal. Há até mesmo gente afirmando que a ditadura militar não foi tão mal assim.
Sejamos serenos. A polarização não nos vai levar a bom termo. Ela é incapaz de promover a superação dos impasses que se apresentam. Ao contrário, vai somente fomentar o repúdio à política, às instituições e aos mecanismos democráticos, que são lentos e tortuosos, mas são os únicos eficazes.
Existe intolerância de esquerda? Claro que sim. Eu mesmo a apontei muitas vezes, neste mesmo espaço. Agora, porém, olhemos para esse facão que se insinua à direita. Ele é tão grave quanto. E fica aí, posando de folclore.
02 de junho de 2011
Jornalista, é professor da ECA-USP e da ESPM
Reproduzido de O Estado de São Paulo
Jornalista, é professor da ECA-USP e da ESPM
Reproduzido de O Estado de São Paulo
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