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quinta-feira, 30 de junho de 2011

LUANA, POR QUE VOCÊ NÃO VOLTA PARA CASA? Talvez nunca mais volte para a família porque pode ter sido cruelmente morta, esquartejada e queimada por traficantes em busca de vingança.



Os senhores e as senhoras, leitores, já tiveram o prazer de conhecer algum dos cinco simpáticos cidadãos apresentados nesse belo cartaz aí acima? Não? Pois eu também não, graças a Deus.

E não espero encontrá-los, uma vez que nada tenho a ver com procurados pela Polícia, assim como, creio, os leitores. Ainda mais de suspeitos do desaparecimento, de modo tão cruel, provavelmente, como dizem os boatos que foi o de duas moças indefesas do Rio de Janeiro. 

Se por acaso os senhores ou as senhoras, em alguma esquina da Cidade tiverem a sorte, ou o azar, de cruzar com uma dessas pessoas, faça-me o favor de ligar para o telefone indicado pelas autoridades. O mais rápido possível. A garantia de sigilo é absoluta.

Por estes dias, em que a vida humana já quase não vale mais nada, seria um prazer informar à Polícia o paradeiro de algum deles. Não pelo prêmio, pois a quantia oferecida, certamente, não faz juz à possível periculosidade de cada um. De minha parte, prometo que se encontrar algum deles, após a ligação, usarei o dinheiro para a criança de dois anos que, com certeza, a esta altura dos fatos ficou órfão de sua mãe.

Nem (Antonio Francisco Bonfim Lopes, chefe dos traficantes), Coelho (Anderson Rosa Mendonça), Ronaldinho (Ronaldo Patrício da Silva), Dorey (Tiago de Sousa Cheru) e Rodrigão (Rodrigo Belo Ferreira), da favela da Rocinha, são os acusados pela Polícia do Rio de Janeiro de terem provocado o desaparecimento da modelo Luana Rodrigues de Souza (de 20 anos) e sua amiga Vanessa de Oliveira (25 anos). Todos são traficantes de drogas e estão com a prisão decretada pela 3ª Vara Criminal da Capital. 

A esta altura do campeonato, desaparecimento está já significando morte. E saibam, leitores, uma morte das mais terríveis, caso sejam verdade os boatos, os cochichos, as meias informações que percorrem sussurrantes os becos e vielas de uma das mais famosas favelas do Planeta.

As garotas teriam sido mortas e esquartejadas pelos bandidos, e depois queimadas dentro de pneus, num método já conhecido popularmente por "forno microondas". O que não se sabe com certeza é se as moças foram torturadas e colocadas vivas no microondas, como acontece com certa frequência em alguns morros do Rio de Janeiro, ou se foram mortas e queimadas depois. Mas todos dizem que elas teriam sido esquartejadas. Vivas ou mortas?

É horrível imaginar qualquer dessas cenas não? Animalesco, realmente. Pensam que eu gosto de citar isso para criar algum tipo de efeito narrativo? Não. Não se trata disso. É que gosto que as pessoas imaginem a sensação de ser esquartejado sem anestesia, lentamente, enquanto observa um bando de sujeitos mal-encarados preparar um "forno" onde queimará você ainda vivo, ou morto. 

Esses bandidos são sustentados pelos que usam drogas. Não me venham com o famoso "coitados dos viciados". Eles não eram viciados antes. Sempre tem a influência dos amigos, os maus amigos, da mistificação da imprensa, dos filmes, da TV. Transgredir é muito bacana para alguns autores. É romântico e moderno. Duro é aguentar as consequências depois.

Isso pode acontecer a qualquer um, a uma garota bonita, modelo, mãe de uma criança de dois anos, ou a um sujeito tão ruim como quem despedaça e queima um corpo dentro de um pneu de caminhão ou de trator.

No Rio de Janeiro a bandidagem é democrática. A morte, então, é muito mais ainda, pois não faz muitas escolhas. Vai levando quem passa diante de balas perdidas, ou em arrastões, ou em brigas de quadrilhas. Tenho dito, com certo pesar, pois a cidade é muito bonita, vista em um cartão postal, que a desgraça do Rio de Janeiro é a sua cultura, a Cultura Bandida. Essa zona cinzenta em que tudo se dissolve, se dilui, em que todos os gatos são pardos.

Não há bons e maus. Só há gente que sai de seus recantos confortáveis de gente rica ou classe média alta, em Ipanema, Leblon, Barra, e vai buscar suas doses de maconha, cocaína, haxixe, crack. É, há de tudo um pouco. Até o perigosíssimo oxi. O Rio de Janeiro não é, necessariamente melhor ou pior que outras cidades brasileiras. É apenas diferente.

Mas essa diferença é tristemente desfavorável à cidade. A cultura bandida torna tudo difuso. Gente de "famílias boas" acha que não há nada demais em "dar uns tapas", uma cheiradinha. Que ninguém é de ferro. No domingo sempre haverá uma "marcha contra a violência". Pronto. Marchamos e está tudo resolvido. Esticamos uma faixa na avenida e a nossa consciência estará em paz.
Foi por isso que essa gente esnobe e metida a besta não gostou do filme Tropa de Elite (I). Ficou claro: quem fuma maconha e usa outras drogas é responsável por tudo o mais. E não adianta ficar com conversinhas sobre plantar em casa e que a liberação resolveria o tráfico. Droga é destruição e violência, em qualquer lugar.

Não seria diferente no Rio ou em outra cidade do Brasil. Os usuários ainda não viciados, ou os potenciais candidatos, deveriam procurar imagens das matanças promovidas pelas quadrilhas do México. Se pensam que há gente má no tráfico carioca, sempre é possível aprender mais um pouquinho. É só uma questão de tempo.

As coisas, no Rio, formam um tecido entrelaçado demais, a esta altura. A Cultura Bandida, que se reflete em letras de música, na ruptura de qualquer barreira ou código, como se não houvesse mesmo Bem e Mal, a literatura que vê com olhos de perdão os bandidos (vistos como eternos injustiçados sociais) e os policiais como os eternos vilões, o cinema, ai que cansativo! Sempre a mesma estética da miséria e da violência pegajosa. Que saudade de alguns filmes de Jabor ou do Cacá Diegues.

O que poderia fazer uma menina de uma família humilde como Luana?  Os meios de comunicação valorizando o corpo nu, o deboche, o funk bandido, justificando as bandalhices como glória, o amor fácil como conquista. O erotismo enrustido, a lassidão mal disfarçada.

As meninas acabam imitando os modelos comportamentais que servem de referência, manual e guia. Artistas que se drogam e são valorizados. Gente que se mete em encrenca e não sofre punição. Dinheiro, muito dinheiro. Bebida. Fumaça. Êxtase. A ilusão de uma vida de princesa. A paisagem é linda, a tarde é propensa ao romance. Romances. Romances. Ilusão sem fim. Aproveitar enquanto se tem vinte anos e um corpo de vinte anos. E a facilidade e a ilusão das redes de relacionamento.

O Rio de Janeiro é uma cidade perigosa, em muitos sentidos. Desde os tempos do Império. Basta ler o João do Rio, as histórias de subúrbio do fabuloso Nelson Rodrigues. Procurem ler Nos Tempos de Paula Nei, ou Emílio de Menezes, o último dos boêmios. Como o Rio foi perder aquela doçura, aquela leveza, sagacidade, bom humor, "joie de vivre"? Como foi se transformando nesse lugar do mal, do relativismo moral, da falta de limites, do pecado mais cafajeste, realmente do pecado? 
  
Esquartejar uma pessoa viva, torturá-la até vê-la agonizante é modo de adquirir prestígio, de ganhar status? No Rio de hoje, infelizmente, sim. Nos tempos de Castro Alves e Olavo Bilac o prestígio era diferente, e se adquiria por outros meios.

O Rio de Janeiro, apesar de tudo, decaiu. Apesar das bobagens ditas pelo governador e seu secretário de Segurança sobre "pacificação de favelas". Uma piada grotesca. De muito mal gosto. Ninguém está pacificando absolutamente nada. Nenhum governo carioca atacou o problema desde a raiz. Deixaram a não-Lei ocupar os vazios. E a não-Lei faz as suas próprias leis. Hoje a polícia ocupa alguns territórios, mas nada mudou na cultura.
Afinal, o que fez Luana Rodrigues?


FOTO BLOG ACEVEDA
.http://aceveda.com.br/blog/?p=31501
Bem, pelo que se sabe e pelo que se diz e lê, era uma garota bonita, de fácil relacionamento social, extrovertida, um belo sorriso, muita alegria. Talvez até demais.

Sabe-se lá o que se passa na cabeça de uma adolescente. Pais devem tentar entender e educar seus filhos. Mas que sabemos de sua família?

Certamente a ama e a amava (nem sei qual tempo de verbo usar) como o fazem tantas outras famílias com filhas adolescentes.

Mas isso basta? Como explicar valores em uma sociedade em que a imagem é tudo, e o dinheiro do pai acaba antes do final de cada mês?

Jeans da moda, tênis bacana, camiseta de grife? Rayban? Passeios? Computador? Quero, quero, quero.

O que acontece com muitas garotas bonitas e pobres? Muitas vezes acabam se iludindo com as imagens de modelos famosas, as misses, as estrelas de novela, as "pin-ups".

Agora os programas "reality show". Uma vaga talvez? Um book de fotografia. Mas como? Poses sensuais, sensuais demais para a idade, ou para a realidade da garota.

Muitas ficam parecendo muito mais como vadias de álbuns de garotas de programa que simples meninas em busca  de um lugar ao sol. As agências as iludem, os fotógrafos as iludem, e querem tirar uma casquinha. Elas acabam se iludindo também. E a pior ilusão é a auto ilusão. Isso pode não ter acontecido com Luana. Mas é um caminho trilhado por muitas nas mesmas condições.

Foto * (abaixo)
Uma vez isso acontecido, namoros, "ficar", filhos. Uma droguinha aqui, uma cervejinha ali. Um uísque, uma cheiradinha. Uma farrinha num motel da Barra. Vocês estão lembrados ainda de Verônica Verone, de Niterói?

Um amasso em um carro de um bacana em Búzios. Um bailinho funk na favela. Um garoto simpático, traficante ou filho do chefe traficante.

Quem sabe o que se passa na cabeça da maioria das garotas? O que se sabe exatamente de tentar um lugar ao sol? O que se sabe realmente de Luana Rodrigues de Souza? Quase nada.

O sumiço

Felipe Ettore, delegado da Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro, disse à imprensa que o sumiço de uma carga de haxixe no valor de R$ 30 mil motivou o desaparecimento de Luana. Ela e Andressa saíram de casa no dia 9 de maio, em direção à Rocinha, e nunca mais foram vistas com vida.

A droga era de um traficante do morro de São Carlos, no Estácio, centro da capital. Antes de ser ocupada pela polícia (pacificada), o lugar era dominado pela mesma facção que controla o tráfico de drogas na Rocinha. Diz o delegado que Luana seria responsável pelo transporte das drogas da favela para outras comunidades.

Ettore afirma que ambas foram julgadas e condenadas à morte pelo "tribunal do tráfico", comandado por Nem. Ettore disse que cinco mandados de prisão foram expedidos por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima, além de ocultação de cadáver.

Ossos humanos

Policiais civis da Divisão de Homicídios (DH) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) encontraram na quarta-feira três ossos humanos em diferentes pontos da mata na favela da Rocinha. Os agentes encontraram ainda um local com características de um "microondas" (apelido dado por traficantes a locais de execução, no qual corpos são carbonizados com pneus queimados).

Ali Luana e Vanesa poderiam ter sido mortas. O local seria usado para torturar, matar e queimar inimigos ou, como se diz entre os traficantes, os "x-9", os delatores, informantes da polícia. Teriam eles imaginado ser Luana uma X-9?

Aproximadamente 130 homens realizavam uma operação na comunidade, especialmente na Divineia, à procura do corpo. A polícia não trabalha mais com a possibilidade de Luana ser localizada com vida.

A jovem tinha um filho de 2 anos com um morador da favela, morava na Estrada das Canoas e fazia parte da agência de modelos Dream model's. Segundo amigos e conhecidos, talvez estivesse de namoro com um sujeito da Rocinha, policial militar, ou com um traficante. Ou ambas as coisas. Não se sabe ao certo.

O fato é que o relacinamento dela com o policial pode ter despertado a suspeita de que tivesse passado informações que levaram ao encontro de 2,6 toneladas de maconha no mês de abri, comprometendo o comércio. Mas outras informações indicam que os bandidos não teriam gostado do sumiço de uma caixa de haxixe avaliada em R$30 mil. Supõe-se que o sumiço se deveu a um suposto namorado dela, também traficante.  

As investigações indicam que o chefe do tráfico da Rocinha autorizou que Coelho, Dorei, Ronaldo e Rodrigão da Cachopa esquartejassem e queimassem os corpos das jovens antes de serem enterrados na mata.

De fato, nada é realmente certo. A única certeza é o desaparecimento de ambas, provavelmente mortas agora. Elas sumiram no dia 9 de maio. Mas as famílias nada disseram à polícia. Mesmo no dia 18 de maio quando houve uma missa. A polícia, informada posteriormente, suspeita de que os familiares receberam ameaças para obrigá-los ao silêncio.

Segundo os levantamentos policiais, após a quebra do sigilo telefônico de Luana, ela falou com 16 pessoas antes de desaparecer. Duas ligações são consideradas fundamentais para esclarecer o caso. Com duração média de dois minutos, as ligações foram feitas quando Luana estava no alto da favela, em poder de traficantes.

A quebra do sigilo possibilitou identificar testemunhas, cujos nomes são mantidos em sigilo. Ouvidas pelos agentes da DH, elas confirmaram que Luana tinha estreita relação com traficantes da favela. A modelo trabalharia como "mula", fazendo o transporte de drogas da Rocinha para o Morro de São Carlos, no Estácio, até a favela ser pacificada, em fevereiro.

Em seguida teria continuado a trabalhar para o grupo do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, chefe da Rocinha e no Vidigal. Luana tinha boa aparência e poderia não despertar suspeitas.

Sem saber que os bandidos desconfiavam dela, atendeu a um chamado de um traficante da Rocinha e, no dia 9, quando desapareceu, foi até o morro para "um desenrolo", isto é, para esclarecer algumas pendências. As tais pendências deveriam ser grandes, pois Luana Rodrigues nunca mais voltou, nem para sua casa, e nem para seu filho de dois anos.

A vida é muito dura. A vida ilude. O terreno pode ser falsamente firme. E nem todos estão preparados para a areia movediça.

Os pais da modelo, Miraldo de Sousa e a costureira Suili Rodrigues Rosa prestaram depoimento à Polícia informaram que tentaram várias vezes o contato pelo telefone celular, sem sucesso.  Ambos alegaram não saber do contato dela com traficantes. 

Moda, surfe

Moradora da Vila das Canoas, Luana Rodrigues seguiu seus sonhos e cursou a Dream's Modelos - uma escola de modelos da Rocinha - quando tinha 15 anos. Chamava a atenção pela altura: 1,75 metro. Amigos dizem que chegou a ser abordada no BarraShopping por um olheiro de uma agência de modelos.

Além dos desfiles dos quais participou, a jovem gostava muito de surfar na Praia de São Conrado. Em suma, Luana viveu como imaginou ser, uma modelo, sem ter sido uma, de fato, conforme surgem agora outras histórias sobre sua vida e possível morte. Uma história triste e comovente.

TEXTO PRODUZIDO COM INFORMAÇÕES COLETADAS EM DIVERSOS JORNAIS E SITES. 
Foto *:

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