Uma cervejinha para ver Madonna. Mas o show não foi em Havana. |
Vejam como as coisas numa ditadura são complicadas. Se um presidente fica doente em uma democracia, e fica definitivamente impossibilitado de governar, a Constituição prevê medidas para a substituição tranquila, ou pelo vice, ou pela realização de novas eleições. Numa democracia ninguém é o dono do poder. O sujeito é eleito, governa, termina e sai. Cede a vez para outro.
Nas ditaduras, onde impera a desconfiança, embora se fale muito em união, povo, nós, solidariedade, e outras palavras bonitas, manda quem pode e obedece quem tem juízo.
O caso de Hugo Chávez é exemplar. E o de Cuba não menos, essa vetusta ditadura sanguinária do Caribe.
Hugo Chávez foi a Cuba em uma visita (se é que já não havia planejado antes a coisa toda) e teve um problema urgente de saúde. Um tumor na virilha que teve que ser operado. Ok. Qualquer um pode passar por isso. Mas o quadro é mais grave do que pareci e dizem, já, que ele teria que ficar seis meses em tratamento intensivo.
Chávez, que continua sem falar claramente qual é o problema poderia ter um câncer na próstata ou, como acreditam especialistas americanos, pelos sinais dados por ele mesmo no vídeo em que falou das operações (foram duas), no cólon, mais graves, pois poderia ter havido metástase.
Sendo assim, após alguns dias fora do governo, em uma democracia, o vice-assumiria até a volta do titular, conforme os prazos regulados pela Lei. Chávez não quer nada disso. Como controla com mão de ferro o Congresso conseguiu autorização para governar por controle remoto, desde Havana.
Se ele morrer? Ninguém faz essa pergunta?
Se Hugo Chávez morrer hoje, dadas as circunstâncias, quem deveria assumir é o vice, Elias Jaua, pois é o substituo legal. Mas parece que Chávez alimenta a esperança de que sua herdeira seja a sua filha, Maria Gabriela Chávez.
Outro nome que se discute é o do irmão mais velho de Hugo Chávez, Adán Chávez, um maluco absoluto que disse que precisa fazer a revolução com armas. O que ele quer, matar todos os oposicionistas?
Se é uma democracia normal o vice assume e pronto. Quem é Gabriela? Quem é Adán? Apenas parentes. Parentes não são nada em uma democracia. Mas numa ditadura socialista podem ser o próximo tirano, passando, até, sobre a Constituição.
Já imaginaram se o nosso ex-presidente Lula tivesse morrido após uma cirurgia, por exemplo, no fígado? Quem o sucederia? Lulinha ou o vice eleito? Mesmo que, no íntimo, Lula não quisesse seria José Alencar, é claro. A democracia ainda funciona no Brasil. Por enquanto. Apesar dos esforços do STF em legislar.
Em Cuba, após 50 anos de ditadura Fidel teve que ir buscar no irmão caçula o sucessor. Que merda de país, que merda de sistema. Após 50 anos não surgiram lideranças socialistas de confiança? O melhor foi o irmão mais novo? Igualzinho ao regime da Coréia do Norte, de pai para filho, a perder de vista. Isso é lá um regime político decente?
Eu penso, pelo que tenho lido de comentaristas de vários países, que todo mundo tem medo de colocar a cabeça para fora do buraco e repentinamente Chávez melhorar e voltar. Ele poderá achar que o sujeito quis ficar com o lugar dele. Daí, seria despachado rapidamente para o cemitério.
Os possíveis sucessores têm medo de Chávez. Do que ele pode mandar fazer. O que é ridículo é alguém querer ficar governando de outro país por seis meses. Não estamos na Segunda Guerra Mundial, nem existe o governo paralelo de De Gaulle.
Os nomes possíveis
Elías Jaua:
Vice-presidente, o que tem mais visibilidade desde que Chávez está em Cuba. É sociólogo e ex-professor universitário, e foi ministro da Agricultura, da Economia Popular e Secretário da Presidência. Foi um dos redatores da nova constituição.
Nicolás Maduro:
Chanceler e principal representante de Chávez no exterior. Ex-sindicalista e foi quem informou a doença de Chávez e a internação em Cuba. Maduro, 48 años, viajou diversas vezes a Cuba estes dias. Tanto ele como a sua esposa Cília Flores exercem grande influência sobre o governo.
Cilia Flores:
Ela foi a primeira mulher presidente da Assembléia Nacional, de 2006 a 2011. Atualmente preside a bancada governista do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV). Advogada, 58 anos, foi quem liderou a equipe jurídica que conseguiu a libertação de Chávez quando, em 1992, ele tentou um golpe contra o presidente Carlos Andrés Pérez.
Rafael Ramírez:
Ministro da Energía e Petróleo e president da gigante estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), Ramírez é um dos mais antigos chavistas e muito próximo a ele. Tem 48 anos, e chegou ao governo após ter sido aluno de Adán Chávez, na Universidad dos Andes, onde se graduou engenheiro. Tem 48 anos.
Adán Chávez:
Irmão mais velho de Chávez, e seu mentor político. Físico profissional e visto como mentor da ala dura do chavismo. Foi embaixador em Havana. Agora é governador do seu estado natal Barinas, sucedendo aos seu pai que foi o governador anterior. Adán tem 58 anos, e é visto como muito radical.
Diosdado Cabello:
Após a saída forçada do poder de Chávez em 2002 Cabello assumiu como vice e mandou um grupo de elite da Marinha buscar Chávez na ilha onde estava detido. Tem 48 anos e já ocupou diversos ministérios.
María Gabriela Chávez:
É a filha do ditador. Cumpre funções de primeira dama e a chamam de "sucessora de Chávez". Hugo tem dito que gostaria de deixar o poder nas mãos de uma mulher. Talvez queira fazê-la sucessora.
Pois é, senhores, assim funciona a democracia (democracia até demais, segundo Lula) na Venezuela.
Vamos aguardar os desdobramentos dos fatos.
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