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sexta-feira, 15 de julho de 2011

MOSCOU E O TERRORISMO NOS SÉCULOS XX E XXI. "Todos os canalhas foram financiados pelos soviéticos".

Frutos da Árvore da Malícia

CLAIRE BERLINSKI
13 JULHO 2011           


Documentos recém-traduzidos mostram até onde a maldade soviética se estendeu.

Na edição do City Journal da primavera de 2010, descrevi um arquivo de documentos oriundos de agências do governo soviético que tinham sido contrabandeados para o ocidente pelo pesquisador russo Pavel Stroilov e pelo dissidente soviético Vladimir Bukovsky. Esses documentos, eu notei, estavam disponíveis para quem quisesse consultá-los. Mas ninguém jamais o fez. Editores ficaram indiferentes e apenas uma fração dos documentos havia sido traduzida para o inglês. 

Argumentei que isso era um sintoma da perigosa indiferença do mundo para com a enormidade dos crimes comunistas. Dentro de semanas do aparecimento do artigo, recebi centenas de e-mails. Muitos vieram de vítimas do comunismo soviético-e vítimas como essas não faltam- horrorizadas com o fato de que os documentos não eram mais conhecidos. Eles se ofereceram para traduzi-los. Graças aos seus esforços, muitos deles tornaram-se disponíveis em inglês e muitos deles valem a pena ser lidos.

Uma coisa é saber de forma abstrata, por exemplo, que os soviéticos patrocinaram o terrorismo no Oriente Médio. Outra coisa é ler um memorando recém-traduzido do antigo chefe da KGB, Yuri Andropov, para o secretário-geral do Partido Comunista, Leonid Brezhnev, solicitando autorização para financiar um detalhado plano da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) para matar civis ao redor do mundo:

"Em uma conversa confidencial ocorrida numa reunião com o residente da KGB no Líbano, em abril deste ano, [o oficial da FPLP] Wadia Haddad delineou um programa prospectivo de sabotagem e terrorismo criado pela FPLP [sic](...) A FPLP está correntemente preparando uma série de operações especiais, incluindo ataques contra grandes instalações de armazenamento de petróleo em vários países,(...) a destruição de petroleiros e super-petroleiros, as ações contra os representantes americanos e israelenses no Irã, Grécia, Etiópia, Quénia, um ataque no centro do diamante em Tel Aviv, etc (...) Nós sentimos que seria factível, na próxima reunião, dar uma resposta favorável, em termos gerais, ao pedido Wadia Haddad."

"W. Haddad", Andropov observa maliciosamente, "está plenamente consciente da nossa oposição ao terrorismo, em princípio." O que não declara, mas deixa implícito, é que: "Ele tem plena consciência do nosso entusiasmo com relação ao terrorismo na prática."

A União Soviética desapareceu, a FPLP sobrevive. Recentemente, a organização palestina divulgou um comunicado denunciando as negociações de paz no Oriente Médio e "a capitulação ante as demandas imperialistas dos EUA e de Israel." No entanto, um dos documentos recém-traduzidos pode dar o que pensar àqueles inclinados a ver a FPLP como uma campeã da luta anti-imperialista. 

O documento registra a decisão do Politburo de fornecer à FPLP "equipamento especial avaliado em 15 milhões de rublos em troca de uma coleção de objetos de arte do mundo antigo." O Ministério da Cultura soviético foi encarregado de avaliar a coleção e determinar um local adequado para abrigar o "precioso tesouro." Considerando que a FPLP é supostamente anti-imperialista por princípio, é estranho que em nenhuma parte deste documento vemos planos para devolver esses objetos de arte para o "mundo antigo".

Também interessante é um documento que sugere até onde podiam ir os esforços feitos pela KGB para garantir a erupção de manifestações globais "espontâneas"contra Israel. De acordo com estimativas da KGB, muçulmanos espontaneamente indignados custam cerca de um quarto rupias cada um:

"A base da KGB na Índia é capaz de organizar uma manifestação de protesto diante da embaixada dos EUA na Índia, com até 20 mil participantes muçulmanos. As despesas para organizar a manifestação chegam à quantia de 5.000 rupias e serão cobertas com as verbas alocadas pelo Comitê Central do PCUS para medidas especiais na Índia, em 1969-1971."

No entanto, não seria exatamente justo interpretar a agitação anti-Israel por parte da União Soviética como uma expressão de anti-semitismo ideológico. Afinal de contas, os documentos mostram a vontade - a ânsia mesmo - soviética de colocar comunistas israelenses na folha de pagamento:

"Da conversa com o Secretário Geral do Partido Comunista de Israel M. Vilner, em 11 de agosto de 1980.

No decorrer da conversa, M. Vilner (que estava visitando a URSS em férias e para receber tratamento de saúde) disse que em janeiro 1981, D. Vilner, que atualmente é responsável pela segurança do Partido Comunista de Israel, estará visitando Helsinki para o "Fórum Internacional da Juventude e dos Estudantes pela Paz e Desarmamento." A gestão do partido gostaria de aproveitar a ocasião da passagem dele por Moscou para que ele receba treinamento especial avançado e pede ajuda ao CC [Comitê Central do Partido]."

Que raramente houve um grupo de canalhas miseráveis ​​no planeta que os soviéticos, de alguma maneira, não tenham financiado, treinado e incentivado é algo vagamente conhecido, agora, por alguns; porém, isso deveria ser amplamente conhecido por todos. Afirma-se incessantemente, por exemplo, que os Estados Unidos, tomados de paranóia, apoiaram regimes autoritários anticomunistas na América Central. O nosso apoio pode ter sido imprudente, mas não havia paranóia em ação, como podemos ver em um documento de 1980 em que o secretariado do Comitê Central resolve:

"deferir o pedido da liderança do Partido Comunista de El Salvador e encarregar o Ministério da Aviação Civil com a organização, no período de Setembro-Outubro de 1980, do envio de 60-80 toneladas de armas ligeiras e munições de fabricação ocidental de Hanói para Havana, de modo que os camaradas cubanos possam então transferi-las aos nossos amigos de El Salvador."

Acima de tudo, os documentos sugerem que o fruto mais duradouramente pernicioso da União Soviética foi a sua propaganda. A visão clichê dos Estados Unidos como uma nação cuja política externa pode ser melhor entendida como uma expressão de racismo - uma interpretação que continua a dificultar os esforços americanos para fazer algo de bom para o mundo - em grande parte surgiu graças aos enérgicos esforços da União Soviética, como um documento de 1970:

"Porque a ascensão do protesto negro nos EUA trará dificuldades definitivas para as classes dominantes dos EUA e vai distrair o governo Nixon da persecução de uma política externa ativa, poderíamos considerar viável a implementação de uma série de medidas para apoiar este movimento e ajudar o seu crescimento.

Por isso, é recomendado utilizar as possibilidades da KGB em países africanos para inspirar figuras políticas e públicas, organizações sindicais, juvenis e nacionalistas para que enviem petições, pedidos e declarações para a ONU, para as embaixadas dos EUA em seus países e para o governo dos EUA, em defesa dos direitos dos negros americanos. Também para que publiquem, na imprensa de vários países africanos, artigos e cartas acusando o governo dos EUA de genocídio.{Ainda se recomenda} empregar as possibilidades da KGB em Nova York e Washington para influenciar os "Panteras Negras" a endereçar apelos à ONU, e outros organismos internacionais de assistência, pedindo ajuda para pôr um fim à política de genocídio do governo americano contra os negros daquele país."

Mesmo se tivessem nenhuma relevância atual, estes arquivos deveriam ter ampla divulgação e atingir um grande público. O mundo deve esse tanto de respeito às vítimas do comunismo. Mas é óbvio que eles também são de relevância imediata para o mundo contemporâneo. Entre outras coisas, eles desenham, como Stroilov escreve, "uma imagem bastante impressionante de uma rede mundial de terrorismo, e não deixam dúvida de que a União Soviética merece todo o descrédito pelo surgimento do terrorismo internacional como um fator importante na política mundial".

Atribuir todo o descrédito aos soviéticos é de uma generosidade excessiva; há muito para ser distribuído por aí. No entanto, os documentos recém-traduzidos confirmam que a União Soviética merece boa parte da desonra e mostram claramente as muitas maneiras pelas quais uma árvore de malícia pode continuar a dar frutos muito tempo depois da morte do jardineiro.

Claire Berlinski, editora do City Journal, é uma jornalista americana que vive em Istambul.
City Journal, edição do inverno de 2011

Tradução: Alessandro Cota

TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:

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