A região Noroeste de São Paulo tinha fazendas com plantações de café, algodão, amendoim, milho, e muitas outras variedades, e muito gado leiteiro. Mas, nos últimos 30 anos, a paisagem foi ficando igual, cada vez mais igual, monótona, como o verde claro dos canaviais.
E foi num desses canaviais intermináveis, no município de Penápolis, cerca de 50 quilômetros de Araçatuba, que Giovana Mathias Manzano, resolveu dar cabo da própria vida. Uma advogada, jovem, de 35 anos, bonita. Cansada de lutar contra o cotidiano, atormentada por suas vozes internas. "Não, não quero mais viver. Eu quero morrer, eu preciso morrer."
O céu azul, as nuvens brancas num céu imenso, o canto dos pássaros. As amizades. Nada interessa a Giovana.
Ela está decidida. Sofre. Sofre muito, desde que voltou do Mato Grosso onde era casada e separou-se do marido.
Já não é a mesma pessoa, as pessoas parecem monótonas, não há o que chame a sua atenção.
O que fazer numa situação dessas? Algumas pessoas pediriam ajuda. Tentariam sair desse poço horrível e escuro que é a depressão. Mas Giovana parecia não conseguir. Parecia não estar ligando muito para essa tristeza e desinteresse que sentia pela vida. Até um tratamento psiquiátrico tentou.
Giovana foi encontrada caída na terra, há alguns metros de seu carro, um Gol, que estava incendiado. Ao lado havia uma carta. Na carta Giovana contava os motivos de sua morte. Os suicidas sempre deixam caras, bilhetes, recados. Como se fossem ganchos, pontes, cordas com os quais querem se prender a alguém.
Mas nunca fazem isso quando em vida. É muito triste. Giovana não conseguiu tratar de sua tristeza com ninguém. Preferiu curtir a solidão e enfrentar a morte.
A morte é uma presença constante em nossas vidas. Geralmente não pensamos nela. Mas ela sempre está à espreita: uma doença, um acidente, um fato da vida que nos deixe muito tristes e deprimidos.
Ao invés de tentarmos nos afastar da morte, buscando a vida, a luz, as amizades, procuramos as sombras, o escuro, a ausência, para, talvez, encontrar a felicidade perdida neste mundo.
É impossível julgar Giovana. Ela buscou a morte como a única saída para o seu sofrimento. Há quem pule de uma ponte, de um edifício, sob um trem. Giovana fez algo muito raro, procurou alguém para repartir com ela os últimos minutos de sua vida. Qual a razão? Ninguém nunca saberá.
Giovana partiu. Não nos contará mais seus motivos. E o seu matador? O seu último "amigo" talvez nunca venha a dizer porque puxou o gatilho. Três vezes. Pam, Pam. Pam.
Poderia ter levado Giovana ao canavial e dito: "não vou matar você. Fique com o seu dinheiro. Você é muito jovem para morrer. Porque não procura viver sua vida? Arranje novos amigos. Mude de cidade."
Mas o matador era um matador. Não era psicólogo, não era um padre, um amigo e, pelo visto, não sentiu dó, pena ou compaixão por Giovana. Não. Para ele ela era mais um serviço. Como roubar um carro. Matar alguém. Brigar na rua. Acender um cigarro de maconha e perder-se na fumaça. Uns tragos de pinga ou uma garrafas de cerveja.
O que pensou o rapaz na hora em que puxou o gatilho? Lá vai outro para o outro mundo? Pode ser que Giovana fosse seu primeiro crime de morte. O primeiro crime de morte a gente nunca esquece. O nosso primeiro amor também não, é o que dizem. Teria sido essa a causa do sofrimento de Giovana? Como será para seu matador conviver com esse estranho crime?
Você pode matar alguém na rua, por acidente, numa briga. Você pode ficar com muito ódio e desejar que alguém morra. Imaginação. É humano. Mas alguns podem se dar ao luxo de matar por emprpeitada. Assim como Giovana não conseguiu ligar-se ao mundo, seu matador não pode ligar-se às coisas, às pessoas. Não é que não queira. Não pode. É dele.
Não é que Giovana quisesse apenas morrer. Podemos pensar nisso uma ou outra vez na vida. Mas para ela, em depressão, tornou-se uma obcessão. E os obcecados não conseguem impedir alguma coisa. Era a sua meta, o seu alvo. Não podia impedir. Não é que não queria. Não podia. Era dela.
Fico condoído, deprimido mesmo, com a história dessa jovem advogada de 35 anos que para ficar em paz precisa encontrar a morte. A vida é cheia de surprêsas. Pensem nisso.
Segundo a polícia, a advogada teria pago dois mil reais para Wellington de Oliveira Macedo, de 21 anos, que foi ajudado por outro rapaz, de 18 anos. Wellington disse que o combinado inicial eram vinte mil, mas acabou recebendo dois mil. O corpo de Giovana foi encontrado no dia 14 de maio em uma estradinha de terra, no bairro rural Córrego dos Pintos, no meio de um canavial, com três tiros na nuca. Na carta ela se despedia de seus familiares.
Pouco antes das duas horas da manhã alguém percebeu um incêndio e avisou a polícia. Era o carro de Giovana. A vida de Giovana terminou na madrugada do dia 14, junto a dois estranhos. Um matador, e seu auxiliar. Naquele momento, pam. pam. pam. Wellington transformou-se na própria morte.
Informações da imprensa
Foto:
VÍDEO SOBRE O ENCONTRO DE UMA JOVEM COM A MORTE.
AQUI A MORTE QUER LEVÁ-LA, MAS A MOÇA NÃO QUE IR.
TRECHO DE UMA OBRA DE FRANZ SCHUBERT
"DER TOD UND DAS MÄDCHEN" CANTADO POR DANIEL WESTPHAL.
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A LOUCA HISTÓRIA DE ARIF, O PAQUISTANÊS QUE MATOU SEIS FILHAS A TIROS
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