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Pouco importa se Anders Behring Breivik, 32 anos, o El Cid de Oslo, o autor confesso do chamado Massacre da Noruega (77 mortos) é cristão fundamentalista, radical de direita, ultraconservador, nazista, ou neonazista.
Poderia muito bem ser radical de esquerda, ateu, à toa, ultra-progressista, ou comunista-maoista. De fato, nada disso explica Anders Breivik. Carimbá-o de ultra-direita ou cristão fundamentalista parece é muito bom e oportuno para a esquerda multiculturalista e politicamente correta que domina a Noruega e a Europa. Especialmente a Europa em crise.
Ele poderia, perfeitamente, ter feito o que fez sendo de esquerda. Não sei porque os esquerdistas estão tão espantados. Temos exemplos dos terroristas de esquerda em toda a América Latina e no Brasil, pois não? Matar o outro para mudar o mundo! A esquerda matoumais de 100 milhões em nome de um mundo melhor e mais feliz e temos o que temos!
Mas pelos escritos dele ("2083, an European Declaration of Independence"), cristão ele não é. Não aprecia o multiculturalismo que invade e destrói os valores da individualidade como se fosse um ácido. Mas também não se pode vê-lo como um democrata. É difícil, impossível penetrar na mente de alguém como Breivik.
Não creio que ele fez o que fez para mudar o mundo. Mas quis deixar um sinal. Foi direto a elite norueguesa. Poderia ter explodido um quarteirão islâmico.Como indivíduo que matou tanta gente (e poderiam ter sido muitos mais) após haver planejado por vários anos poderíamos concluir que se coloca acima do Bem e do Mal, podendo matar como se dotado de poderes para isso. Pois matou.
Sente alguma culpa? Parece que a sua formação não o levou a isso, uma vez que, diante do juiz, e para seu advogado de defesa, disse não ter feito nada errado, razão para não se achar culpado.Das duas uma, ou não consegue sentir remorso, por falta de uma visão cristã, que o faça perceber, o quanto cedeu ao Mal, ou por falta de emoções, o que poderia influir nas suas decisões, retirando o freio para a realização de coisas abomináveis. Do ponto de vista medico, seria um psicopata.
A Noruega, conforme artigo de Chuck Colson (publicado no Midia Sem Máscara e que reproduzi aqui) é um país secular, em que não se dá mais importância à questão do pecado e da culpa. Como uma pretensa sociedade científica, pretende-se o poder de restaurar o ser humano por meios externos, isto é, médico-científicos. Comunistas e nazistas também imaginavam poder consertar o mundo e as pessoas. Estas, quando teimavam em não ser consertadas morriam.
Não dão a menor oportunidade a que possa haver um esforço interior, de reflexão sobre Culpa e Pecado. Isso é algo possível apenas em uma sociedade verdadeiramente de bases cristãs.
A Noruega, com aquela aparência de Ilha da Felicidade, parece estar distante de entender o que aconteceu e porque aconteceu.
Os noruegueses ficaram estupefatos, abanando rosas (rosen gegen den terror) (com os devidos respeitos aos mortos e seus parentes).
Parecem não ter a quem apelar, uma vez que a fé já não existe.
Não havendo responsabilidade pessoal e senso moral, ninguém tem culpa. Enterram-se os mortos, coloca-se Breivik no estaleiro, trocam-se uns parafusos e ele, em alguns anos, estará pronto para outra.
PESQUISANDO NO ARQUIVO ENCONTREI ESTE TEXTO DE OLAVO DE CARVALHO, DE 1999, SOBRE "VIVER SEM CULPAS", A PROMESSA DOS IDEÓLOGOS PROGRESSISTAS.
ARTIGO DE EXTREMA ATUALIDADE. SE PUDEREM, LEIAM TAMBÉM O DE CHUCK COLSON ( O terrorismo do mal e do pecado: a tragédia na Noruega, Chuck Colson).
VIVER SEM CULPAS
Olavo de Carvalho
“É isso que eu procurei a vida inteira: alguém que me dissesse que é possível viver sem culpas.” (Marilena Chauí, Diálogo com Bento Prado Jr. , Folha de S. Paulo , 13 de março de 1999.)
“Viver sem culpas” é um objetivo que toda a cultura progressista oferece à humanidade. O sentimento de culpa é condenado como um resíduo de antigas tradições repressivas, que deve ser abandonado às portas de uma nova era de felicidade e realização pessoal. Esse é hoje um ponto de acordo entre adeptos das correntes mais opostas. Sacramentada pelo consenso, a condenação da culpa tem tantas legitimações diversas, que na verdade já não precisa de nenhuma delas e vive perfeitamente bem como uma auto-evidência que prescinde de argumentos.
Mas o que é, propriamente, viver sem culpas? Sobretudo, qual a nuança precisa que tem em vista aquele que nos propõe esse objetivo?
Só há três sentidos em que um ser humano pode ser dito isento de culpas.
A primeira hipótese é a da inocência, a efetiva inocência de Adão no Paraíso, do Bom Selvagem ou da infância num filme da Disney. A Bíblia e Rousseau, com muita precaução, remeteram essa hipótese a um passado mítico. Santo Agostinho confessava-se perverso desde o berço, e o pouco que ainda pudesse restar de credibilidade na imagem da inocência infantil foi impiedosamente desmoralizado pelo dr. Freud.
O desejo de “viver sem culpas” não teria o menor atrativo para as almas se apelasse a uma idéia desacreditada. Não pode ser portanto a inocência primordial o que o moderno progressismo tem em mente quando nos convida a “viver sem culpas”. A inocência completa e absoluta é um mito, uma qualidade divina que ninguém pode realizar neste mundo.
Um segundo sentido em que se pode “viver sem culpas” é o da inocência relativa, trabalhosa e periclitante em que o homem consegue se manter quando se abstém conscientemente de fazer o mal e, se o faz, procura remediá-lo com devotada boa-fé. É uma norma de perfeição razoável ao alcance de muitos seres humanos.
Mas não pode ser esse o sentido de “viver sem culpas”, pois a possibilidade de um homem corrigir o mal que fez repousa inteiramente no sentimento de culpa que o acomete quando peca; e para refrear-se de fazer novos males ele tem de conceber em imaginação a culpa que sentiria se os fizesse.
Nesse sentido, a inocência relativa não é de maneira alguma viver sem culpas: é, precisamente, valorizar o sentimento de culpa como uma bússola que nos guia para longe do mal.
Mas “viver sem culpas” pode significar ainda uma terceira coisa: pode significar a abolição pura e simples da idéia de culpa.
Neste caso, faça o indivíduo o que fizer, seus atos não serão examinados sob a categoria da culpa, do arrependimento, da pena e da reparação. Não importando a natureza desses atos nem as conseqüências que deles decorram para terceiros, serão sempre enfocados de modo a evitar o constrangimento de um acerto de contas moral. Poderão ser explicados sociologicamente, psicologicamente, pragmaticamente, ser avaliados em termos de vantagem e desvantagem, descritos em termos de desejo, gratificação e frustração. Só não poderão ser julgados.
Este último sentido é, com toda a evidência, o único em que é possível, na prática, “viver sem culpas”. É ele, evidentemente, que os ideólogos modernos têm em vista quando oferecem à humanidade esse ideal de futuro.
Mas, no presente, já há muitas pessoas que vivem sem culpas, que não se submetem ao exame da consciência moral, que não se sentem constrangidas quando suas ações produzem danos para terceiros.
Chamam-se sociopatas. Não são doentes mentais, nem retardados. São indivíduos inteligentes, capazes, não raro dotados de certa genialidade e impressionante desenvoltura social, e apenas desprovidos de sensibilidade moral para sentir culpa pelos seus atos. Entre eles encontram-se assaltantes, traficantes, chefes de gangues – e todos os líderes de movimentos totalitários, sem exceção. Quem deseje ser como eles sente seu coração bater forte, cheio de esperança, quando ouve alguém anunciar que é possível viver sem culpas.
Nossa civilização começou quando Cristo ordenou ao apóstolo: “Toma tua cruz e segue-me.” Dois milênios depois, o ideal que se anuncia é jogar a cruz fora, pouco importando em cima de quem ela caia, e seguir correndo o carro da História, pouco importando quem ele venha a esmagar pelo caminho.
Jornal da Tarde, 13 de maio de 1999
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE DE OLAVO DE CARVALHO
Publicado no Jornal da Tarde de 13 de maio de 1999
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