Cuiabá, nos anos 60, era uma cidade de aparência provinciana e tranqüila, com cerca de 57 mil habitantes. Era menos populosa que Araçatuba (70 mil) ou São José do Rio Preto (90 mil), em São Paulo, naquele tempo.
Hoje Cuiabá tem quase 600 mil habitantes, Araçatuba 180 mil, e São José do Rio Preto já passou de 400 mil habitantes. Isso serve para mostrar a explosão demográfica da capital do Mato Grosso.
Os cuiabanos eram muito comuns em Araçatuba, ou em São José do Rio Preto, por causa dos negócios de compra e venda de gado. Naquela época eram cidades com muitos pecuaristas.
A violência urbana nos níveis atuais era algo impensável, então. Isso era coisa de cinema, de Los Angeles, Nova York, ou São Paulo e Rio de Janeiro, grandes capitais brasileiras.
Os cuiabanos eram gente boa, de fala mansa, lenta e arrastada, tranqüilos, não lutavam contra o tempo. Eram levados por um tipo de relógio diferente dos usados pelos apressadinhos de hoje.
Talvez os cuiabanos continuem tão boa gente como há 50 anos, mas a sua vida mudou demais, e isso parece, às vezes, um verdadeiro inferno.
Hoje Cuiabá é um inferno. Que coisa estranha, um inferno perdido no interior do Brasil rural, na porta de entrada da Amazônia, a uns 300 quilômetros da Bolívia, juntinho da Chapada Diamantina.
O que transformou aquela vila fundada no tempo dos bandeirantes, passagem de tropa, nessa cidade grande, moderna, mas violenta que existe hoje? Antes de mais nada o trabalho. Um povo lutador de verdade. Mas que agora padece de um mal comum às cidades grandes, a violência.
Basta uma breve pesquisa na Internet para se verificar que a violência cresce a cada dia na região e na cidade. O que estimula isso? Impunidade? Falta de infraestrutura? Desemprego elevado? Proximidade com rotas do tráfico de drogas? O que tornou uma população trabalhadora, mas tranqüila, receptiva, de fala mansa e arrastada, nessa população desconfiada, arredia, e muitas vezes de comportamento agressivo?
As matérias falam de assaltos e mais assaltos, mortes, tiroteios, estupros, saidinhas, brigas de trânsito sem fim.
De um dia para o outro duas histórias de jovens mortos a tiros abalam a cidade.
Na primeira história, um garoto de 13 anos, segundo a imprensa e relatos da polícia, portando uma arma de imitação tentou assaltar um motociclista. Deu azar, pois o motociclista era policial, estava armado e revidou à tentativa de assalto, matando o garoto. De noite. Como saber se uma arma é verdadeira ou falsa? Vai esperar o outro puxar o gatilho.
E não me venha com a conversa do desarmamento, pois o blog é contra. Mas se réplicas de armas são proibidas, o que pretendia um garoto fazer com uma réplica de arma, impressionar as garotinhas do bairro? Claro, tais informações são a versão da imprensa e da polícia.
A família do menor diz que não é nada disso e que o garoto teria sido vítima de um acerto de contas. Tudo bem. Mas que tipo de acerto de contas leva uma criança de 13 anos a ser baleada e morte? Em que havia se metido o garoto? Bem, essa pergunta terá que ser respondida pelas testemunhas e pela investigação policial. Logo saberemos a verdade.
O motociclista atirou e fugiu do local, apresentando-se horas após à Delegacia de homicídios e Proteção à Pessoa. Trata-se de um policial militar e trabalha na Corregedoria da PM. A pistola de brinquedo (pistola réplicas são proibidas no Brasil por lei) foi apreendida e será anexada ao inquérito.
Campeão de Tiro
Há não muito tempo Cuiabá se emocionou e discutiu muito quando um rapaz de 19 anos à época, Mário Roversi, reagiu e atirou contra dois assaltantes que invadiram a sua casa. Um deles morreu. Roversi acabou indiciado por homicídio doloso (intenção de matar) e por porte ilegal de arma. Detalhe: o rapaz é campeão de tiro e teve a chance de pegar uma arma e atirar contra dois sujeitos que poderiam ter matado a sua mãe, segundo os relatos da imprensa.
"Não me arrependo do que fiz", disse ele. Um dos assaltantes, Denis S. Barros tinha 16 anos, levou dois tiros e morreu na hora. O outro também levou dois tiros e foi hospitalizado gravemente ferido. "Faria de novo, desde que eu sofresse ameaça, mesmo porque a intenção não foi matar. Eu faria tudo de novo, desde que tomasse as precauções necessárias", afirmou, então, em entrevista exclusiva ao MidiaNews. Mas é claro, como não é maluco, apesar de sua reação ter tido êxito, o jovem admitiu estar abalado emocionalmente.
"Não tem como eu falar que estou normal. Tô com muito medo. Não posso esconder que estou com medo de represália dos comparsas, mesmo que isso possa parecer difícil. Ontem eu fui sair de casa e tinha um suspeito de moto. Não sei te falar se era alguém de alguma casa, fazendo algum serviço, pra mim ele era um suspeito. Ele tava com a moto, perto de casa, sentado na moto. Com o capacete próximo, tranqüilo, olhando pra minha casa. Mesmo assim saí, passei por ele, peguei a placa da moto, liguei pra polícia e fiz a denúncia", afirmou na ocasião.
Segundo Roversi, no momento em que conseguiu pegar seu revólver 45, que utiliza em seus treinamentos de tiro, ele teve a certeza de que perderia a sua mãe se não atirasse nos assaltantes: "Eu agi em legítima defesa, para defender minha família e meu patrimônio".
Após os fatos, Roversi foi encaminhado para o Cisc Planalto e depois para a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoas (DHPP), onde ficou preso em uma cela especial por dez horas. O delegado, André Renato Gonçalves, indiciou Mário por homicídio doloso consumado, homicídio tentado e porte ilegal de arma de uso restrito.
Vítima da violência que assola, cada vez mais, a antigamente pacata Cuiabá, Mário Roversi não sente orgulho do que fez. "Na verdade eu sinto revolta. Você acha que eu gostaria de sacar uma arma e atirar contra duas pessoas? De matá-las? Alguém, em sã consciência, acha isso legal? É um bem que eu gostaria de angariar pra minha vida? Não, com certeza não", disse emocionado.
Jovem morre a tiros em escola
Um corriqueira briga de escola teria sido a causa da morte de um estudante de 16 anos hoje de manhã (20/07), no pátio da escola estadual Antônio Figueiredo Cesário Neto, no centro de Cuiabá.
Segundo a Polícia Militar, os suspeitos do crime também seriam alunos da instituição. Os dois, maiores de idade, foram presos pela polícia minutos depois do assassinato, nas redondezas da escola. Conforme a PM, a vítima foi atingida por cinco tiros de um revólver calibre 38. A arma foi apreendida, provavelmente uma arma ilegal, como é corriqueiro em todo o País, embora o governo insista em desarmar os cidadãos que têm armas legalizadas guardadas em casa, como se estes fossem os criminosos.
Três casos recentes. Os moradores de Cuiabá têm, certamente, muito mais casos para contar. E muitos terão tristes lembranças desses acontecimentos.
Um país jovem, uma população jovem, um sistema educacional de quinta categoria, uma classe política de onde só vem péssimos exemplos, muitos policiais corruptos, impunidade generalizada.
Três casos recentes. Os moradores de Cuiabá têm, certamente, muito mais casos para contar. E muitos terão tristes lembranças desses acontecimentos.
Um país jovem, uma população jovem, um sistema educacional de quinta categoria, uma classe política de onde só vem péssimos exemplos, muitos policiais corruptos, impunidade generalizada.
Na verdade, penso que o inferno não é ou está apenas em Cuiabá. Está é em todo o território nacional. Quase moramos no inferno, apesar de toda essa propaganda ufanista e nacionalista do governo federal.
De fato, o inferno hoje, é o país inteiro.
OS LEITORES SERIAM CAPAZES DE APONTAR QUAIS AS ARMAS VERDADEIRAS E QUAIS AS FALSAS? |
Foto Cuiabá: Wikipedia
Informações coletadas na Imprensa.Armas: são todas de brinquedo!
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