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sábado, 2 de julho de 2011

HACKERS NÃO SÃO LÚDICOS GRAFITEIROS DIGITAIS COMO PENSA MERCADANTE.

Uma das ideias mais ridículas das últimas semanas foi a do agora ministro Aloizio Mercadante de pretender chamar hackers para uma conversinha em Brasília. Ele pensa que está lidando com adolescentes abobalhados que ficariam deslumbrados em passar uma tarde tomando chá e comendo bolachas na sala dele no Ministério da Ciência e da Tecnologia.

Isso preocupa, porque mostra o quanto o ministro pode ser elástico no que se poderia chamar de definir um crime. Enquanto ele, talvez habituado a pesquisas e dossiês, quer bater um papinho com criminosos, que é o que são, o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo mandou a Polícia Federal encontrar e prender os sujeitos. 

E agora, quem está certo?

Leiam este texto de hoje do Nelson Motta, no Estadão, e tirem as suas coclusões.

PERDIDOS NO CIBERESPAÇO

Nelson Motta

O Estado de S.Paulo

Quando vários sites do governo são invadidos e o ministro da Ciência e Tecnologia diz que quer convidar "os hackers" para um encontro no ministério "para ajudarem a construir os indicadores e a forma da transparência", a coisa está feia: ou ele não sabe o que é um hacker ou pensa que pode usá-los como os "blogueiros progressistas", pagando-os com patrocínios estatais.

Astuto e sagaz como um Suplicy, Mercadante pensa que um hacker é um cracker do bem, que pode ser cooptado. Ele quer conversar, ele acredita no diálogo democrático (rs). Ele nunca ouviu falar do cibergênio do mal Kevin Mitnick e de seu rival Tsutomu Shinomura, que protagonizaram o mais célebre e sensacional duelo de hackers da história digital. No final, Shinomura conseguiu rastrear Mitnick e o entregou ao FBI, mas depois também passou para o lado escuro do ciberespaço.

Hackers de verdade invadem redes de computadores de bancos, de cartões de crédito, de companhias telefônicas, de governos, roubam bases de dados, inventam sistemas diabólicos de multiplicação de spams, não são lúdicos grafiteiros digitais do ciberespaço, como crê o analógico ministro.

Ele acha que os crackers são malvados que "invadem sistemas para divulgar mensagens políticas", mas acredita que os hackers são bonzinhos, que vão adorar conversar com ele no ministério, todos com os seus crachás de "hacker", tomar um lanche e acertar a data do "Hacker"s Day" patrocinado por uma estatal. Cuidado, ministro, se eles vierem, não são hackers: são nerds.

A ignorância e ingenuidade do ministro sobre temas básicos de sua pasta envergonha, mas não surpreende, é compatível com os conhecimentos de Edison Lobão sobre energia e a expertise de Pedro Novais em turismo.

Só com seus currículos e experiência na área, a maioria dos atuais 37 ministros não conseguiria emprego, mesmo mal pago, em qualquer empresa privada séria. E certamente não passaria em nenhum concurso público para cargos de terceiro escalão nas pastas que ocupam.

Quem sabe os hackers progressistas de Mercadante possam ser úteis nos "núcleos de inteligência" do PT nas próximas eleições ?


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