A onda de rebeliões civis nos países do norte da África e no Oriente Médio, que abalou ditaduras, e que está transformando o cenário político daquelas regiões, parece estimular especialistas militares e em redes computacionais a darem grandes passos nos próximos meses.
Os especialistas imaginam alternativas capazes de criar redes móveis de comunicações -por telefonia celular- que possam burlar toda a censura, vigilância e capacidade de interferência das autoridades locais, geralmente ditaduras políticas e religiosas.
Seriam equipamentos portáteis (do tamanho de uma maleta) que seriam levados para dentro dos países com ditaduras e colocados nas mãos de grupos que lutam pelos direitos humanos. Os equipamentos permitiriam formar redes, via Internet, de telefones celulares, e seriam de pequeno volume, para serem manejados e transportados com rapidez e relativa segurança. Isso também inviabilizaria as tentativas dos governos ditatoriais de cortar o sistema telefôniCo ou de Internet, desconectando as ligações com os satélites.
Financiado com dois milhões de dólares, o projeto seria adequado a países como a Síria, o Irã e a Líbia, permitindo uma conexão segura com o exterior, sem detecção pelas autoridades da área de segurança interna.
Para o caso do Afeganistão, o Pentágono destinou 50 milhões de dólares para a criação de uma rede de telefonia independente, móvel, que aproveite as torres das instalações militares. Um dos riscos seria um ataque militar talebã a uma base e um possível corte da conexão dos usuários.
A idéia de uma rede paralela e autônoma foi estimulada após a crise do Egito, quando Hosni Mubarack mandou cortar o acesso a Internet durante as semanas de revolta popular. O mesmo acontece com a Síria que impede o acesso ao Internet para dificultar o acesso e a comunicação com o exterior. Ao mesmo tempo o governo de Assad impede o trabalho da imprensa estrangeira no país.
O equipamento seria constituido por uma maleta portando pequenas antenas e um computador para administrar os dados; CDs para armazenar programas de mensagem cifrada e cabos ethernet. Os computadores funcionariam como as torres de comunicação para os telefones móveis.
Segundo o New York Times experiências foram feitas na Indonésia e na Venezuela e foram utiizados sistema "bluetooth" dos celulares móveis. É um método de menor alcance, mas serviria para pequenas redes alternativas. Mesmo na isolada Coréia do Norte os habitantes próximos à China usam a conexão que permite obter acesso via as torres de telefonia chinesas.
De fato, a telefonia celular, os satélites e os computadores alteraram o panorama das comunicações de um modo definitivo. E conseguir desenvolver redes independentes da interferência central do governo parece ser fundamental.
Essa ideia havia ocorrido, com as devidas proporções, ao alemão Hans M. Enzensberger, no final dos anos 60, quando escreveu um pequeno ensaio sobre a censura dos países totalitários e a eletricidade. Para o alemão, ao tentar bloquear o acesso à energia elétrica da telefonia, à época, os censores bloqueariam as próprias comunicações do sistema. Isso traria um enorme dano à economia. Enzensberger acreditava que, já àquela época, as pessoas detinham uma grande quantidade de meios de comunicação. Apenas não sabiam bem como usá-los para garantir uma vida melhor e pressionar tiranos.
Parece que as pessoas sabem mais hoje em dia, assim como a tecnologia evoluiu bastante, permitindo realizar o imaginado há 40 anos.Os tiranos que coloquem as barbas de molho.
Resta saber se isso acontecerá mesmo em Cuba, na Venezuela, na Coréia do Norte. Creio que será mais fácil nas ditaduras que oscilam entre ajudar ou não o Ocidente com petróleo e na luta anti-terrorismo. As ditaduras de esquerda não seriam abaladas, penso, não por Barack Obama. Mas essa é outra história.
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