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terça-feira, 30 de agosto de 2011

VOCÊ AINDA NÃO SABE, TAMIRIS, MAS MORRERÁ DAQUI A POUCO. Tamiris Brito de Carvalho, ao encontrar-se com o ex-namorado Lucas Matos, não sabia que marcava um encontro com a morte. Ela ia fazer um concurso da Prefeitura de Santos naquela manhã de domingo e tentaria mudar sua vida para melhor. Lucas, inconformado com o fim do namoro, atravessou uma faca em seu caminho.

A história humana é cheia de altos e baixos e de repetições. O drama rodriguiano, eternamente recorrente, nunca nos deixa. Sempre há o inconformado que não consegue ouvir um não.

Para alguns, ouvir um não é um obstáculo incontornável, imenso, doloroso, que precisa ser removido. O triste é que o obstáculo é, geralmente, quem disse o não.

Tamiris, de 18 anos de idade, disse não a Lucas, de 18 anos de idade,  e Lucas resolveu matá-la. Para Lucas viver era preciso vê-la morta. 


Só a morte de Tamiris o libertaria. Mais uma vez Nelson Rodrigues: “se não podes ser minha, não serás mais de ninguém.”

Na imaginação do rejeitado forma-se um circuito fechado, um círculo vicioso, em que apenas um final é possível: ou fica comigo ou morre. E essa idéia se repete sempre, e sempre, e sempre, num processo que parece não ter fim. “Mas eu sou bacana, porque não quer ficar comigo?” Algo estranho acontece na mente de quem se dispõe a matar aquele a quem diz amar. Só a morte do outro representa a sua liberdade!

E Lucas Matos resolveu procurar mais uma vez Tamiris. Ela ia fazer um concurso público e aceitou uma carona na moto do rapaz. Lá pelas 7h30 da manhã de domingo Lucas e Tamiris tomaram café na casa dela e saíram. 



Ele iria levá-la até o local do exame. Tamiris e Lucas moravam  de um lado da cidade, o exame seria no lado oposto. A cidade de Santos é dividida ao meio por uma série de morros. Do outro lado poderia estar um futuro melhor, pode ter pensado Tamiris.

Eles saíram da Travessa José Caetano, no Ilhéu Baixo, perto da avenida Jovino de Melo, e andaram pouco mais de mil metros. Talvez Tamiris tenha percebido que o caminho tomado por Lucas não era o certo. Mas ele lhe disse que precisava parar para urinar.

De fato estavam em rua sem saída, que termina de frente para um canal que separa, de um lado o Bom Retiro, do outro o Jardim São Manoel. A rua reta, curta, cercada pelos altos muros de empresas de containeres e transportadoras. Um local realmente deserto.

Lucas afastou-se após uma discussão e voltou em seguida. Desferiu vários golpes de faca no pescoço no rosto e abdome de Tamiris. Ela caiu no chão de terra. Iria morrer ali. Com o sangue que escorria escorreram, lentamente, seus sonhos. Escorreu sua vida, por obra de um inconformado.

Lucas a arrastou cerca de 60 metros para jogá-la, talvez, à beira do canal (braço de mar), no mangue. Ali a deixou, não sem antes colocar a faca em uma de suas mãos.

O local onde Lucas matou Tamiris não pode ter sido outra coisa que uma escolha cuidadosa de um local deserto e sem testemunhas. Um lugar muito bom para matar alguém, desde que alguém tenha a coragem ou a insanidade necessária para isso.



Lucas pareceu ter. Estava com uma faca serrilhada. Isso mostra que, ou andava armado com uma faca, ou levava uma faca, no domingo, para matar Tamiris.

E o sujeito ainda teve a coragem e a cara de pau de tomar café com ela mais cedo. Quem sabe imaginasse  convencê-la a reatar o namoro interrompido. Se não aceitasse... parece que ele já sabia o que deveria fazer.

Num minuto Tamiris vai de encontro ao futuro. Ao futuro que ela havia imaginado para si, cheio de oportunidades e surpresas agradáveis. No minuto seguinte está caída no chão de terra, sofrendo, agonizando, por obra de um sujeito que quis brincar de Deus e resolveu mudar o futuro de Tamiris.  

Por sorte, tudo o que Lucas Matos fez a Tamiris em seus últimos momentos foi gravado em uma fita pelo equipamento de segurança de uma empresa próxima. E foi visto, por cima de um muro, por um vigilante que percebeu uma discussão, foi verificar e não foi percebido pelos dois. O vigilante anotou a placa da moto e chamou a policia.

Segundo a imprensa santista, a delegada Deborah Perez Lázaro, que cuida do inquérito, vai pedir tripla qualificação do crime de morte. Ele estava armado, desviou de sua rota, pretendeu esconder o cadáver e deixou Tamiris sem chance de defesa.

Que Deus a tenha, e que ele possa refletir longamente sobre o ocorrido, atrás das grades.

HISTÓRIAS DO BAIRRO

Segundo o jornal Expresso Popular, de Santos, os dois cresceram no mesmo bairro, sendo conhecidos por muita gente. Lucas era quietão, mas nunca pareceu ser agressivo. Tamiris era mais extrovertida, mas sempre respeitou Lucas enquanto o namorou.

Segundo o jornal, uma tia dele disse que ambos estavam meio perturbados psicologicamente com o ata e desata do namoro. Algumas pessoas chegaram a perceber um ciúme excessivo por parte dele. Uma vez a mãe dela percebeu que ela havia tentado apertar o pescoço dela.

Várias pessoas chegaram a advertí-la para terminar o namoro. O Expresso conta que o rapaz sofre de eplepsia e toma três remédios diários. Todos sabem que um dos traços mais fortes do epilético é a persistência.

O advogado do rapaz, Cristiano Marcos dos Santos tentará, na Justiça, obter a liberdade provisória, uma vez que foi preso em flagrante. Segundo o advogado, ele não premeditou o crime. Nem estaria com a faca. A faca teria sido achada no momento em que o rapaz foi urinar. Segundo o advogado Lucas não premeditou nada.

É uma tentativa de defesa bem curiosa. O rapaz desvia a rota, discute com a moça, acha uma faca e mata quem ama. Não teria feito de outra forma se tivesse planejado. Planejado ou não, qual o resultado concreto? Tamiris está morta, e Lucas foi preso em flagrante por homicídio. O resto caberá à polícia, à investigação, ao promotor e à Justiça.

Histórias...

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