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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

FREAKS. DO HOMEM ELEFANTE À MULHER MAIS GORDA DO MUNDO. O CIRCO DA VIDA.

No final Século XIX e até o início do Século XX pessoas diferentes, com doenças raras e anomalias físicas ou ficavam trancadas em casa, se as famílias as quisessem, e não tomavam conhecimento do mundo, ou  teriam que sobreviver por conta própria. 

E, como sobreviver em um emprego comum, por conta própria, a mulher barbada, o homem elefante, o anãozinho, o homem de duas cabeças? 

De modo algum. Eram freaks (aberrações, como se dizia na época). O único lugar possível para eles era o circo.

Eram expostos pelos donos de circo como enormes atrações, ao lado de mágicos, malabaristas, equilibristas e animais exóticos. Muitos desses seres absolutamente estranhos, de tão famosos, deixavam os donos de alguns circos muito  ricos.

Um  dos livros mais curiosos sobre o assunto, uma bela coleção de fotografias do começo do Século XX, publicado por  Akimitsu Naruyama,  é o chamado Freaks, editado em 1999. 

O mundo do espetáculo Freak era alimentado pela exposição daquelas "aberrações".

A curiosidade humana pelo diferente é que alimentava aquela indústria. Então, sob a perspectiva civilizacional cristã muitos criticavam tal exploração do outro, vista como um certo tipo de humilhação. 

Para a “vitima”, o Freak, muitas vezes ficar em exposição como se fosse um animal enjaulado era a única forma de sobreviver. Eles tinham que ser muito realistas.

Com a evolução dos tempos os circos começaram a deixar de exibir aquelas pessoas estranhas, assim como hoje já muitos também já não tem mais animais exóticos.

Mas o mundo é curioso, e muitas coisas vão e voltam. Na era dos direitos civis (chamada por muitos de Pós-Modernidade), cada um adquiriu o direito de ser o que quiser (dentro da lei)  e explorar a sua imagem. Como lhe aprouver. De modo que do que parecia antes ser um Freak humilhado,  temos hoje a modalidade do freak orgulhoso, que explora a si mesmo. Não há limites para o diferente na Era da Imagem. 

MERRICK
No caso da primeira referência, temos para refletir a história de John Merrick (O Homem Elefante). No segundo caso, a estranha história de Susanne Eman, moça do Arizona que quer ser a mulher mais gorda do mundo, chegando aos 700 quilos.

John  Merrick era um cidadão inglês que sofria de uma doença agora conhecida por neurofibromatose, uma deformação por acréscimo de tecidos corporais, que tomava 90 por cento de seu corpo. Isso em plena era Vitoriana, no Século XIX. O que fazer?

Era obrigado a viver em um circo a ser exibido como a um animal exótico. John sofria, e não tinha consciência de sua feiúra. 

A sua história acabou se transformando num belíssimo e sensível filme chamado O Homem Elefante (The Elephant Man), com Anthony Hopkins (Hannibal) no papel de um médico (Frederick Treves) que o coloca em um hospital para escapar à zombaria das pessoas e tentar curá-lo. É um excelente filme e merece ser visto. Para refletirmos sobre a vida e a crueldade humana.

Já, mais de 100 anos depois de Merrick, Susanne Eman, uma moça agora com 32 anos, do Arizona, e que não conseguia combater a sua obesidade (há algum tempo estava com 200 quilos) resolveu tirar partido de sua doença (a obesidade dela é claramente mórbida) e, fazendo um brutal regime alimentar chegou a gora a 330 quilos. Ela mal consegue ficar em pé e necessita utilizar carrinhos especiais para locomover-se às vezes.

Num processo de clara racionalização, ela que de 220 passou a 330 quilos e ingere 21 mil calorias por dia! Ainda pretende chegar aos quarenta anos e atingir 700 quilos, para ser conhecida como a mulher mais gorda do mundo. 

Os conhecimentos médicos atuais poderiam ajudá-la a emagrecer, mas ele parece preferir ir na direção contrária, engordando mais e mais, parece então preferir ser a exploradora de sua própria imagem de Freak. 

Do meu ponto de vista, por mais que ela se diga bem, feliz e sexy, é praticamente impossível que isso seja verdade. Penso que ela desistiu de lutar para perder peso e então tenta se aproveitar do que resta, engordar, virar notícia e sobreviver.

Eman faz seu próprio circo. O Arizona está em um pais livre, e as pessoas decidem sobre sua vida. Mas parece estranho uma pessoa decidir pesar 700 quilos. Os médicos já disseram que as chances são mínimas, que ela, provavelmente, morrerá bem antes.

Na sociedade moderna, em que já não parece haver compaixão, as pessoas parecem assistir ao espetáculo circense montado pela mídia, em torno de Eman, tomando coca-cola e comendo pipoca combo, enquanto Susanne ameaça explodir. Ao mesmo tempo reclamam da falta de ética da mídia, curtindo o triste e bizarro espetáculo oferecido pela mídia, e a que eles incentivam.

Se Susanne Eman estivesse sobre o telhado de um edifício de 50 andares decidida a pular para a morte, o que seria o correto a fazer?

Empurrá-la para que pudesse matar seu desejo (certamente equivocado e doentio) ou estender-lhe as mãos para ajudá-la? 

Por que para Ema não aparece um doutor Frederick Treves?

Você decide, caro leitor.

FOTO SUSANNE EMAN:
http://blogs.phoenixnewtimes.com/valleyfever/2011/08/casa_grande_fatso_wants_to_be.php

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