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terça-feira, 16 de agosto de 2011

A MACONHA É UMA DROGA, UM ATRASO DE VIDA. Quem começa a usar é por curiosidade e pressão do grupo. Segundo a Organização Mundial de Saúde não há espaço para a liberação da maconha.


Cuidado, companheiro

Sérgio de Paula Ramos

Já havia sido bem demonstrado que o uso de maconha, por jovens, está associado à queda no desempenho escolar, à evasão escolar, à formação acadêmica inferior e ao aumento do desemprego medido aos 25 anos. Igualmente, está bem demonstrado o aumento da prevalência dos quadros depressivos em usuários de maconha. 

Agora, a prestigiosa revista British Medical Journal acaba de publicar um estudo bem controlado de seguimento de 10 anos e conduzido em diferentes centros de pesquisa, entre os quais o King’s College of London e o Max Planck Intitute de Munique, com jovens usuários de maconha, concluindo o que outros autores tinham suspeitado: que o uso de maconha duplica a chance de alguém ter um quadro psicótico.

Por outro lado, também está bem demonstrado, em nossa cultura, que na história natural de um dependente químico a primeira droga de experimentação é o álcool. A segunda, a maconha, que, no Brasil, é a droga ilícita mais consumida e, infelizmente, Porto Alegre a campeã no seu consumo por jovens que, ensinam-nos os últimos achados das neurociências, apenas aos 22, 23 anos completam seu amadurecimento cerebral. Antes disso apresentam importantes dificuldades no processo de tomada de decisões razoáveis, posto que sua região cortical responsável por fazer isso, o córtex pré-frontal, encontra-se imatura.

Devido a esta grande imaturidade do cérebro juvenil é que se impõe que tanto os pais quanto os educadores tomem conta de seus filhos/alunos adolescentes. De fato, pais que sabem onde seu filho está, com quem e fazendo o quê, têm 12 vezes menos filhos envolvidos com drogas do que os que não sabem. Igualmente, um Estado que protege seus adolescentes impedindo-os de consumir bebidas alcoólicas e reduzindo a oferta das drogas ilícitas está cumprindo o seu papel.

Portanto, um dos vértices importantes de um programa de prevenção dos problemas decorrentes do consumo de drogas é diminuir o aporte global destas em nossa sociedade. Mecanismos eficazes de controle estão bem delineados. Entre eles a lei seca no trânsito, a proibição de propaganda de álcool e tabaco, bem como o desestímulo geral de consumo de drogas ilícitas.

Quando os jovens que já experimentaram maconha são perguntados por que o fizeram, a resposta universal é por curiosidade e pressão do grupo. Quando os não experimentadores, a maioria, são inquiridos sobre os motivos da não experimentação, a resposta é porque faz mal para a saúde e porque é proibido. Logo, qualquer grau de liberação de seu consumo haverá de elevá-lo, com consequente aumento de todos os problemas acima mencionados.

Conclusão: dependência química é uma doença evitável, sua prevenção se faz através de programas públicos bem orquestrados em que, segundo a Organização Mundial de Saúde, não há qualquer espaço para a liberação do consumo de maconha.

Como os profissionais de saúde que lidam com a questão encontram-se bem preparados para colaborar na elaboração destes programas, colocamo-nos à disposição. A primeira colaboração deverá ir no sentido de proteger as autoridades de expressarem opiniões que colidam com o que a ciência tem nos demonstrado e que, em boa hora, a Organização Mundial de Saúde acaba de defender.


Sérgio de Paula Ramos
Psiquiatra e psicanalista, membro do Conselho Consultivo da associação brasileira de estudos sobre o álcool e outras drogas 
Artigo publicado no jornal Zero Hora
(08/04/2011)
Texto reproduzido do site: 

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