Flávia Anaí de Lima, 16 anos |
Aprendi com um professor fantástico que uma das raízes para a formação da cultura humana é a consciência que todos temos da morte. Desde o início dos tempos o ser humano percebeu que há um tipo de sono diferente, do qual não se volta mais. Assim surgiram muitos rituais para cuidar do corpo que está imóvel. A certeza da morte sempre nos incomodou e alimentou o nosso imaginário.
Uma outra raiz da cultura é a idéia de que algo pode acontecer, para o bem ou para o mal, a qualquer um, a qualquer momento: é a presença da sorte, ou do azar. Muitas das histórias que mais nos fascinam (exatamente porque podem acontecer conosco) giram em torno da morte, do azar e da sorte. Gostamos de apostar, de loteria, de esperar certos resultados.
O rapaz caminha pela calçada, voltando de madrugada para casa e é atropelado por um veículo que sobe na calçada. Morre algumas horas depois.
Uma pessoa anda distraidamente e a tampa do bueiro voa devido a uma explosão, e ela morre. Uma outra, que caminhava ao seu lado escapa por pouco, sem ferimentos.
O azar e a sorte. Isso nos atrai. Poderia acontecer conosco. No tempo da mitologia grega, há mais de dois mil anos, a deusa Fortuna era levada muito a sério.
Todos os dias os jornais e as TVs estão cheios de casos assim. Isso atrai as pessoas não por um desejo de ver a dor, o sangue a desgraça alheia. Não. Isso acontece devido a um mecanismo de identidade. Poderia ser conosco. Somos humanos, apenas isso.
As pessoas ficam intrigadas. Como isso aconteceu? Como a vida é estranha. Num segundo estamos vivos, no outro poderemos estar mortos. Brinco com alunos sobre a verdadeira patologia moderna que é o culto ao corpo. Ter saúde é bom, tentar manter a saúde é bom. Mas as coisas podem adquirir dimensões patológicas.
O sujeito toma vitaminas, deixa de comer carne, faz ginástica, anda de bicicleta, vai ao médico a cada dois meses, faz academia, pensando em viver 80, 100 anos, ou na imortalidade (pois o ser humano, apesar da morte que nos ronda, sempre acredita ser imortal). Num belo dia, após suar na malhação atravessa a avenida meio distraído e é atropelado. Morre. Acabou.
A vida é fugaz. Devemos tomar precauções, mas devemos vivê-la sem cuidados exagerados. Na verdade, Fortuna anda sempre ao nosso lado e, um dia, pode distrair-se, ela tem tanto trabalho!
Rafael Silva estava com Flávia Anaí em um bar. No sábado à noite. A vida do casal parecia eterna, cheia de possibilidades, e também de altos e baixos.
No entanto, algumas horas depois, na madrugada de domingo Rafael está só, e Anaí está morta, caída no chão.
Três segundos de queda. Um. Dois. Três.
Três míseros segundos são suficientes para a morte. Muitos se perguntam: Anaí pulou da sacada? Foi um mero acidente? Ou foi um crime? Eu não sei, e nenhum de vocês que lêem sabe.
Li muitos comentários hoje sobre a relação de Rafael e Anai. Muitos julgamentos, a maior parte inadequados. Quem somos nós para julgar Anaí ou os pais de Anaí, de apenas 16 anos, ou Rafael, de 20 anos? Só Deus poderá julgá-los. Essa não é tarefa nossa.
Claro que o caso tem que ser apurado. As três perguntas continuam: Suicídio? Acidente ou crime? Para isso existe a polícia.
A mim interessa refletir sobre a precariedade da vida. Um momento de cabeça quente. Um momento de pavio curto. Um segundo de emoção em demasia e pronto. Tudo acabado. Somos humanos, nos emocionamos.
Além de Deus, que tudo sabe, por enquanto duas pessoas poderiam responder a questão sobre a morte de Anaí. A própria Anaí, que durante seus últimos três segundos, em pleno ar, talvez tenha percebido o que fez a si mesma em seu desespero. Mas ela jamais dará suas explicações.
Rafael que, após o início da queda, se a presenciou, teve a constatação da inutilidade de qualquer reação. Uma vez iniciada a queda, nada mais poderia ser feito.
Aquele três segundos, uma verdadeira eternidade para Anaí, antes do desfalecimento, serão uma imensa carga para Rafael.
Serão os três segundos mais longos de sua vida. Intermináveis. Talvez uma visão da qual nunca mais consiga se livrar.
Assim é a vida, cheia de surpresas, de sorte, e de azar.
Todos já devem ter lido que ambos moravam juntos e que ela era ciumenta. Todos leram que eles brigavam muito. Agora, todos lêem que ele prestou depoimento em estado de choque e todos sabem que ela não volta mais.
Suicídio, acidente, crime? A respostaa a essa pergunta, agora, é fundamental para o conforto da família dela e para a paz de espírito de Rafael.
Deus a tenha.
foto: reprodução da Internet
Foi horrivel o que qconteceu com ela, hoje quem sorem são os pais e o marido, só ñ entendi por que os pais deixaram ela ir morar tão cedo com ele, brigas em relacionamentos acontecem, e nem por isso deixam de se gostarem, mais hj td é questão de posse, de ciumes, só ñ posso aceitar é os pais colocarem a culpa no jogador, pq isso, será que é uma maneira de se sentirem menos culpado pelo que ocorreu, as pessoas jamais podem esquecer que eles se amavam, indepedente de qualquer tempestade que estavam passando, desejo que **Deus** possa confortar a tds familiares.
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