Foram necessários seis longos meses, de fevereiro a 21 de agosto, e dezenas de milhares de mortos, para que as forças rebeldes (com o auxílio vergonhoso da Otan) , conseguissem chegar, de fato, às ruas de Trípoli.
A Otan está a cinco meses bombardeando as forças de Kadafi.
O cerco e a tomada de Trípoli, capital da Líbia, lembram o avanço dos aliados e dos russos sobre Berlim, na Segunda Grande Guerra Mundial. Fanatizados por décadas de doutrinação, os líbios pró-Kadafi lutam em diversos bairros da capital, resistindo em nome do ditador, com a mesma tenacidade que jovens alemães (adolescentes da Hitler Jugend) demonstravam ao enfrentar soldados profissionais dos exércitos aliados.
Três filhos de Kadafi já estão detidos pelos rebeldes, mas o tirano ainda resiste em seu quartel principal (se é que já não abandonou o país a alguns dias, uma vez que aviões de transporte venezuelanos foram vistos há alguns dias no aeroporto de Trípoli). Na última semana circularam rumores de que Kadafi poderia se hospedar na Venezuela, a convite de Hugo Chávez, que vem protestando contra o ataque dos aliados da OTAN contra a capital líbia.
Os rebeldes chegaram no domingo até a Praça Verde,no centro da cidade, e o governo informou que morreram quase duas mil pessoas nos ataques e nos combates. Os hospitais estão lotados de feridos.
No cerco que vem avançando sobre Trípoli, os rebeldes ocuparam diversas refinarias e controlaram a estratégica cidade de Zauiya, 50 quilometros a oeste da capital. Kadafi tem pedido ao povo que lute contra os rebeldes e disse que Trípoli irá arder.
Os filhos de Kadafi capturados foram Saif al Islam, Saadi e Mohamed. Musa Ibrahim, porta-voz de Kadafi disse que a cidade está bem defendida por milhares de soldados profissionais e voluntários, inclusive mulheres, que receberam armamento para resistir aos rebeldes. Na cidade petrolífera de Brega há forte resistência aos rebeldes. Nos últimos dias a aviação da OTAN bombardeou o aeroporto de Trípoli, para dificultar a defesa da cidade. Enquanto isso tropas rebeldes partiram de Misrata, a este da capital,
por mar, para chegar a Trípoli.
Talvez, agora, nessa fase, morram milhares de pessoas. Com relação à capital, talvez sejam realizados combates sangrentos, uma vez que as forças da OTAN não podem arriscar bombardeios pesados uma vez que podem matar centenas de civis. A força aérea européia ajudou bastante nas operações que abriram caminho às tropas rebeldes. Tomar Trípoli será tarefa exclusiva dos rebeldes líbios.
Muamar Kadafi, ditador há 50 anos, governou com mão de ferro e praticamente fez a Líbia moderna, um conglomerado de tribos nômades. Meteu-se em muitas ações de terrorismo nos anos 70 e financiou, por conta do petróleo, muitos grupos terroristas ao longo de anos.
Nesse particular é muito parecido com Hugo Chávez, o Chapolin de Caracas, pois este, acreditando estar sentado em um campo de petróleo à prova de crises meteu-se, também, a fazer ameaças aos vizinhos, aos americanos e a financiar grupos terroristas.
O curioso é que nos últimos meses houve especulações de que Caracas poderia ser o destino final de Kadafi. Seria muito natural, dada a imensa afinidade entre eles. Chávez é o Kadafi bolivariano. Kadafi é o Chávez islâmico.
Nesta altura dos acontecimentos, talvez, o ditador (ou ex-ditador?) líbio esteja acompanhando o noticiário sobre os combates de algum ponto da Venezuela.
A OTAN e os líderes europeus e Barack Obama terão a responsabilidade direta, sem desculpas de qualquer natureza, de cuidar para que a situação líbia não descambe, agora, para uma mortandade sem fim, com os grupos eliminando uns aos outros sem piedade, como costumam fazer islâmicos e luta entre si. Basta ver o exemplo do Iraque e do Afeganistão.
Obama foi quem mandou atacar as forças de Kadafi, interferindo numa guerra civil. Se grupos islâmicos mais radicais tomarem a Líbia e iniciarem outro foco de tensões no Norte da África, a culpa será do presidente americano. Kadafi, que não é flor que se cheire, havia alertado que os rebeldes recebiam apoio da Al Qaida, o que já ficou bastante comprovado.
Creio que dificilmente a Líbia irá na direção de implantar uma democracia aos moldes ocidentais. Aliás, não creio que isso vá acontecer em qualquer um dos países da chamada Revolta Árabe ou Primavera Árabe.
Para mim, isso não passa de nomes para mascarar algo muito diferente: a transição do poder das mãos de ditadores de um tipo para ditadores de outro tipo. Isto é, de ditadores civis ou militares, para a ditadura de caráter religioso, como a que governa há 30 anos o Irã.
Com as rebeliões, as coisas poderão ficar ainda piores por aqueles lados.
Foto: The Telegraph:
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