IRÃ, ANOS 60, NA PRAIA |
Quem não tem um álbum de fotografias de família, dos anos 50, 60 ou 70, com um grupo na praia, sentado na areia, algumas garrafas de refrigerante, o sol na cabeça, e o tempo passando bem devagar? Ou uma moça bonita, de maiô, encostada em um automóvel também na areia? Sim, já tivemos um tempo em que isso era possível...
Moças de bikini, moças com a cabeça descoberta, moças estudando ao lado de rapazes, mulheres guiando automóveis. Qual o problema que há nisso? Imagens que fazem parte do nosso cotidiano, há décadas. Umas garrafas de refrigerante, Coca Cola, uma moça que fuma, uma garota de minissaia. Imagens de uma Pérsia moderna, apagada pela tomado do poder pelos aiatolás irados do Irã.
Quantos passos para trás deu a Pérsia com a subida dos fanáticos religiosos? Não dá para saber, posto que os aiatolás implantaram uma ditadura sangrenta, fechada, avessa à liberdade de informações e desconfiada dos estrangeiros. O Irã de Ahmadinejad é muito distante da Pérsia do Xá Reza Pahlev
Sei, não precisam me lembrar de que o regime do Xá também era ditatorial, uma monarquia absolutista em que esquerdistas e islâmicos fanáticos não tinham vez. Mas muitas das liberdades que temos hoje os persas tinham, as mulheres persas tinham. E esse povo, cujo regime do Xá foi corroído por uma revolução islâmica, nos anos 70, com a ajuda dos socialistas, recuou no tempo, a um comportamento do Século XIX e intolerante.
NA PRAIA, SEM O RANÇO RELIGIOSO DOS FANÁTICOS |
Comparando ditaduras – sim, elas são comparáveis, embora detestáveis – a ditadura do xá era uma ditabranda, como diria a Folha de São Paulo (com razão, nesse caso). A ditadura dos aiatolás é terrivelmente retrograda, e permite apedrejamento de mulheres (homens também), faz uso do açoite, enforca pessoas.
É um dos paises em que há enorme desprezo pela convenção internacional sobre Direitos Humanos. E é um pais que busca a potência atômica, com o discurso nada pacifista, declarado pelo presidente Ahmadinejad (manejado pelos aiatolás), de varrer Israel do mapa.
Pois é, costumo visitar vários blogs por dia. Os blogs que tratam de notícias do mundo e do Brasil, alguns deles, são muito, muito melhores que os jornais rançosos que temos hoje em dia. Para começo de conversa não há mais censura, mas os jornalões outrora gloriosos e independentes, parecem extensões das assessorias de imprensa e comunicação do governo.
Um desses blogs é o do Aluízio Amorim. Assim, foi no blog dele que vi o vídeo que está no YouTube, que apresento a seguir (Iran Before 1979), com algumas reflexões sobre o Irã dos aiatolás, a Pérsia do Xá e Farah Diba, a chamada Primavera Árabe e o papel dos socialistas nisso tudo.
Sempre é bom deixar registrado para algum curioso que pretenda pesquisar temas interessantes.
PÉRSIA
Rudyard Kipling, o grande viajante e escritor, nascido na Índia educou-se na Inglaterra. Um dia resolveu escrever sobre a sua terra natal e descobriu que à medida em que você mergulha numa realidade ela parece ficar mais e mais complexa. O que parecia fácil, escrever inspirado pelas primeiras impressões e lembranças foi se transformando em uma tarefa quase impossível, de uma vida.
Essa é a desculpa que uso, como não sou persa, nem Kipling, para tentar escrever algumas linhas sobre um pais tão antigo e de uma história rica como a da Pérsia, baseado em poucas leituras e impressões indiretas. Por ora, basta saber que a Pérsia tem profundas raízes no passado, há pelo menos 600 anos antes de Cristo.
Saltando todos esses séculos e mais os dois mil anos de história cristã chegamos ao Século XX, em que muitos governantes de paises do Oriente e Ásia, pressionados pela expansão do poder ocidental, resolveram adotar a modernização ao estilo do Ocidente.
Uma das primeiras experiências foi a promovida na Turquia, pelo líder Ataturk. De um dia para o outro decretou que todos os turcos passariam a se vestir à ocidental, por exemplo, lá pelos anos 20. Ele modernizou vários setores da sociedade, e afastou a tentação do governo teocrático, tão comum no mundo islâmico. Esse caso foi bem estudado pelo historiador inglês Arnold Toynbee que concluiu que, de fato, Ataturk até não gostava muito do Ocidente.
O que ele fez foi uma tentativa de vacina, ocidentalizar para conservar aspectos essenciais da vida turca. Isso começa, sempre, pela profissionalização e modernização das forças armadas. (Irã, Iraque, Líbia, Egito). A coisa acontece de tal modo que, por necessidade de estudar disciplinas novas, os oficiais militares acabam se transformando na elite modernizadora de cada país. Estranho? Mas verdadeiro. Estudem atentamente a nossa república e verão a influência positivista nas forças armadas no início do Século XX.
PARA ONDE LEVA O BONDE DA REVOLUÇÃO?
Dessa tentativa, resultou, devido a imenso jogo de pressões internas, um pais que atravessou todo o Século XX sem definição: ocidental ou islâmico? Até hoje os turcos não conseguiram, por causa disso, captar a confiança européia e entrar para o agora falido clube da Comunidade Européia. Situada nas fronteiras da Europa a Turquia vive como um pais ciclotímico, de dupla personalidade. Ora europeu, ora islâmico. Ou tudo ao mesmo tempo, o que afeta a estabilidade política local enormemente.
Estudar a Turquia é adiantar o quadro de muitos outros paises árabes ou islâmicos que tiveram, também, no Século XX, um movimento em direção ao Ocidente, quanto à adoção de costumes, além da industrialização.
A Pérsia, agora Irã, segue quase o mesmo modelo, embora o Xá Reza Pahlevi não tenha sido tão impositivo como Ataturk. Embora fosse uma monarquia absolutista, o xá era aberto à modernização dos costumes persas, e as mulheres tiveram muito a ganhar com isso, pois podiam andar com a cabeça descoberta, trabalhar, estudar, até fumar em público. A Pérsia dos anos 50, 60, 70 era, sim, um regime duro com oponentes, geralmente religiosos xiitas e esquerdistas disfarçados de democratas.
Foi assim que o aiatolá Komeini, exilado na França, em plenos anos 60 e 70, anos de grandes agitações sociais de natureza revolucionária, começou a pensar na queda do Imperador da Pérsia. Certamente com a ajuda dos socialistas persas e dos europeus.
Uma vez começada movimentação como a da Primavera Árabe, em que se bate por dentro e por fora, fica difícil a quem está no poder manter-se por muito tempo. Hoje em dia, com o grau de intervencionismo da ONU, se o governo fechar demais, se for muito dura a repressão, ocorre o que aconteceu na Líbia.
Se o governo não for duro e permitir uma abertura democrática, vencerão, certamente, os mestres da agitação e manipulação esquerdista ou os especialistas que agem nas sombras das mesquitas. Nos paises islâmicos geralmente os religiosos contam com o apoio da esquerda e depois colocamos esquerdistas na cadeia. E os esquerdistas não aprendem nunca.
Em suma, uma vez começado um movimento como a Primavera Árabe, ele não tem freios. O bonde descerá a ladeira e chegará a uma estação inesperada pela maioria: a Estação Ditadura (ou de esquerda ou religiosa). A Estação Liberdade será vista de relance, apenas pelas janelas do bonde.
O que vocês verão no vídeo é um pais que, nos anos 70, era bem parecido com o nosso. Uma juventude cosmopolita, modernizada, mais livre. Para onde foram levados todos pelos aiatolás? Ao paraíso? Certamente não. Deve ser muito difícil para gerações inteiras educadas de um modo mais aberto voltar a um comportamento quase medieval.
GUTENBERG J.
O IRÃ ANTES DE 1979
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