TARZAN E CHITA |
No dia 24 de dezembro a imprensa divulgou a morte de Cheetah, um chimpanzé de 80 anos, que vivia no santuário Suncoast, na Florida, USA, desde os anos 60.
Para um chimpanzé que teria atuado ao lado do lendário Johnny Weissmuller, na década de 30, um dos atores que representaram Tarzan, aquele que desenvolveu o famoso grito do Rei das Selvas, Cheetah teve uma longa, muito longa aposentadoria. Segundo informações, estaria no santuário desde os anos 60! Cinquenta anos!
De fato, muita gente discordou de que esse chimpanzé que morreu na Florida fosse a verdadeira Cheetah, pois quase não há notícias de que um primata dessa espécie viva tanto tempo. Segundo biólogos, chimpanzés, na selva, duram uns 45 anos, no máximo.
Mas claro que num local seguro e bem alimentado poderia viver mais. Basta ver o aumento da idade media da própria população humana. Vivemos cada vez mais, para desespero da Previdência Social.
Assim como as donas de casa aguardam hoje os lances do próximo capítulo das novelas, dia a dia, num sofrimento de ano inteiro, as crianças, nos anos 50 ou 60, aguardavam a semana toda para saber o que aconteceria aos seus heróis na próxima etapa do seriado, nas sessões de cinema de domingo à tarde.
O que acontecerá com o Cobra, com o doutor Satã? Sempre no fim do episódio o herói ficava em uma enrascada: o carro saltando pelo precipício, o herói preso em uma sala da qual as paredes vão se fechando, cheio de pontas, para esmagá-lo. Conseguirá escapar dessa vez? Para sabermos, só na próxima semana...
A cada vez que Tarzan dava seu forte grito nunca sabíamos o que poderia acontecer. Poderia surgir elefantes, leões, crocodilos e, Chita, para livrá-lo de alguma confusão ou perigo.
Chita não morreu. Chita permanecerá, para sempre, ao lado de Tarzan, o Rei das Selvas. Personagens não morrem. Quem morreu foi um dos chimpanzés que representaram a endiabrada auxiliar de Tarzan.
O CHIMPANZÉ QUE MORREU FOI CHEETAH NO CINEMA |
Na verdade, existiram muitos chimpanzés que fizeram o papel de Chita, desde os anos 30. Chimpanzés machos ou chimpanzés fêmeas.
O sexo do chimpanzé não tinha a menor importância para a garotada. Chita era Chita. Isso bastava.
Em um mesmo filme podem ter atuado mais de um chimpanzé. Cada chimpanzé tinha um treinador. E o animal era usado em um certo tipo de cena conforme as suas habilidades.
Assim, com relação aos filmes de Tarzan, sempre tivemos uma Chita estável, representada por muitos animais diferentes. Detalhes...
Isso lembra a reflexão de Jorge Luis Borges sobre os indivíduos e as espécies (Platão) em Ficções (A História da Eternidade, a Doutrina dos Ciclos).
Citando Schopenhauer o grande argentino escreveu: “Os indivíduos e as coisas existem enquanto participam da espécie que os inclui, que é a sua realidade permanente.” (...) Schopenhauer, o apaixonado e lúcido Schopenhauer, dá uma razão: a pura atualidade em que vivem os animais ( ...) E acrescenta logo, não sem um sorriso: “Quem me ouvir assegurar que o gato cinzento que está a brincar no pátio é o mesmo que brincava e fazia travessuras há quinhentos anos, pensará de mim o que quiser, mas loucura mais estranha é imaginar que fundamentalmente é outro.”
E a seguir: «Destino e vida de leões requer a leonidade que, considerada no tempo,
é um leão imortal que se mantém por meio da infinita reposição dos indivíduos,
cuja geração e cuja morte formam o pulso desta imperecível figura.”
Assim, o mesmo animal que fez o primeiro filme seria o que fez o último. Sempre um único e mesmo Chimpanzé. Essa é uma abordagem de natureza platônica. De qualquer modo, morreu um chimpanzé na seqüência temporal da Espécie.
Quanto a Chita, personagem, a questão do indivíduo (unidade) e da espécie, na Natureza, pouco importa.
No imaginário Chita estará sempre viva, como personagem da imaginação humana. Chita não morrerá, jamais.
FOTOS COLETADAS NA INTERNET
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