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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A MORTE VIAJA DE FUSCA. A Defesa Civil do Rio de Janeiro encontrou o carro em que cinco pessoas de uma família morreram soterradas pela avalanche de lama, em Jamarapá, Sapucaia. As autoridades ainda estão procurando o rumo a seguir, desnorteadas pela própria incompetência. Chove todos os anos na mesma época! Onde está o Código Brasileiro do Eleitor Enganado?


O simpático Fusca aqui no Brasil é Käfer (besouro) na Alemanha. O Volkswagen do Sr. Edézio, o chefe da família morta, cujo nome em alemão significa Carro do Povo, teve uma trágica última tarefa para a pobre família:  de Volkswagen transformou-se em Leichenwagen (rabecão), o carro que guarda os corpos. Morreram o Sr. Edézio, a esposa grávida de 3  meses, duas filhas e um menino. Apenas em Sapucaia as chuvas mataram 18 pessoas, segundo as auroridades.

Três dias a Defesa Civil e os bombeiros lutaram para encontrar o veículo que, após ter sido utilizado como esconderijo pela família, em busca de proteção contra o desbamento do morro, foi levado violentamente pela avalanche de lama. Nem a dignidade (se é que há alguma em morrer pelo descaso das autoridades em meio à lama) dos mortos de Pompéia e Herculano eles tiveram.

Como esperar a morte com certa calma, resignação, tal os cristãos jogados aos leões no Coliseu, abraçados uns aos outros, o que parece ter acontecido na velha Roma em Pompéia e Herculano, no ano 79 DC?  Não, a violência da enxurrada na descida do morro, de madrugada, deve ter feito rolar o apertado veículo algumas vezes, brutalmente, impedindo um simples e terno abraço entre os parentes. Um olhar de despedida. Morrer esmagado dentro de um Fusca soterrado na lama em Sapucaia foi muito pior que morrer em Pompéia ou Herculano.

O Vesúvio, quando varreu do mapa Pompéia e Herculano,  deixou imenso rastro de destruição, algumas dezenas de milhares de pessoas morreram. Mas um vulcão não explode todos os anos na mesma época. E, apesar do calor de 250 graus, das cinzas, apesar de saberem que iriam morrer, centenas conseguiram ficar juntas umas às outras se confortando. Isso é mais digno que morrer de supetão, pela incúria alheia. 

É por conta dessas histórias, que me impressionam muito, que fico pensando como o brasileiro chega a ser idiota. A Constituição de 1988 preparou o terreno para criar, abaixo do Equador, nos trópicos, um lugar muito melhor que a Suíça.

O próprio paraíso. 

O que temos? Infernos parciais que se repetem todos os anos, como a crônica da morte anunciada de Garcia Márquez, não tanto por culpa da Natureza, pois ela chega a ser, em alguma medida previsível: a estação das secas, a estação das chuvas, o tempo da dengue, a epidemia de cólare,etc... mas pela imprevidência, irresponsabilidade, descaso e a falta de vergonha e punição das autoridades, as verdadeiras culpadas pelo que acontece.

Pelo que li, na região serrana do Rio, após as milhares de mortes do ano passado, nenhuma casa foi construída. É muito cinismo, muita promessa demagógica, muita perversidade.

Não sei como a Constituição de 1988, que fez do brasileiro um reivindicador de direitos de todo tipo, mais até do que um cidadão cônscio de que a cada direito deve corresponder um dever, que criou o Código  Brasileiro do Consumidor, não criou, também, um Código Brasileiro do Eleitor Enganado.

Um Código do Eleitor para colocar na cadeia e permitir processar por danos morais e propaganda enganosa todo aquele ou aquela que for à TV, em épocas de campanha eleitoral, prometer mais do que aquilo que é possível realmente fazer.

O papel aceita tudo, dizem alguns, os ouvidos dos eleitores também. Isso tem que mudar. Quando alguém processar um administrador público e o colocar na cadeia por haver falado demais, alguma coisa começará a se resolver.

Se você compra um móvel e ele não é entregue no prazo ou inteiro você apela ao Código e a coisa  pode ser resolver. Há Procons, Cidocs, Ouvidorias, promotorias do consumidor, delegacias do Consumidor.

Alguém vender um sonho que sabe ser impossível entregar, uma ilusão,  uma mentira que se sabe mentira, além de imoral, de anti-ético, isso não é um verdadeiro crime?

Pessoas morrem por conta dessas promessas. Vidas e propriedades são destruídas.
Até quando, senhores?         

FUSCA ENCONTRADO:

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