A HIDRA PETISTA
RODRIGO SIAS
22 OUTUBRO 2012
Como o PT nasceu com o "DNA gramsciano" e seu o objetivo
final sempre foi estar acima do Estado, seus membros pensam estar além das
leis. Por isso, não se sentem na obrigação de defendê-las.
A mitologia grega era riquíssima em personagens. O monstro
chamado Hidra possui um corpo de dragão e cabeças de serpente. Os guerreiros
que o enfrentavam deparavam-se com uma grande dificuldade: a cada cabeça
cortada, logo surgiam duas no lugar.
O guerreiro Hércules foi aquele que venceu a Hidra. Ao invés
de tentar decepar as inúmeras cabeças que sempre se multiplicavam, desferiu um
ataque fulminante na cabeça principal do monstro, liquidando com um golpe
certeiro também as outras cabeças.
A lição da história é clara: certos impasses só são
resolvidos atacando diretamente no centro de geração dos problemas. Ataques em
zonas periféricas não resolvem: no lugar de uma cabeça cortada, logo nascerá
outra tão mortífera como a anterior.
O julgamento da Ação Penal 470, o Mensalão, vem sendo
comemorado como uma grande vitória na luta contra a corrupção. De fato, o STF,
em sua maioria, vem se posicionando de forma resoluta contra o terrível esquema
de compra de votos e eternização no poder por meios ilícitos.
Entretanto, de nada adiantará condenar figuras proeminentes
se a "cabeça principal" for mantida intacta. O Judiciário, duro com
os atos de corrupção, não ataca o centro do partido que nos governa,
corroborando a impressão que o PT quer passar de que tais atos seriam meros
desvios dos belos ideais proclamados. Essa tática de se limpar na própria
sujeira é antiga.
Leiam o livro ‘New lies for old’ do ex-agente da KGB
Anatoliy Golitsyn, sobre os planos de desinformação soviéticos, e entenderão o
que se passa no Brasil de hoje.
A verdade é que a origem do Mensalão está na gestação do PT.
Ao invés de criar um partido para defender,como alegavam, direitos dos
trabalhadores e fazer a necessária pressão sobre os lucros para dividir a
prosperidade capitalista, o PT foi criado com a ideia gramsciana de
organização.
Um "Partido Príncipe" - que incorporaria a virtu
imoral de Maquiavel - deveria crescer, se infiltrar no Estado e dominá-lo até
que não haveria diferença entre o que seria o Estado e o que seria o partido.
Ou melhor, haveria sim uma grande diferença: o partido estaria acima do Estado.
Uma vez que o Estado decodifica as leis e regulamentos, quem
se coloca acima do Estado, por definição, se posiciona acima das leis. Como PT
nasceu com o "DNA gramsciano" e seu o objetivo final sempre foi estar
acima do Estado, seus membros pensam estar além das leis. Por isso, não se
sentem na obrigação de defendê-las.
Ao contrário, o grande impulso é o de justamente
transgredi-las até que o partido seja a própria lei. Não é preciso ser gênio
para entender que um partido assim não tem a intenção de respeitar a
democracia, a alternância de poder ou a separação entre governo e Estado.
Se as lideranças do partido não forem investigadas de nada
vai adiantar o julgamento do Mensalão. Não se pode permitir a entrega dos anéis
para preservar os dedos.
A não ser que o mal - o "DNA gramsciano" - seja
cortado pela raiz, escândalos atrás de escândalos continuaram a ocorrer. E ao
lado de cada cabeça petista condenada, duas novas vão surgir, tal como a hidra
da mitologia grega.
A corrupção simbolizada pelo Mensalão é apenas o meio para o
alcance dos objetivos. Punir os meios e deixar os fins intactos. Essa é a
tática para a manutenção da corrupção endêmica. E para destruir a democracia.
Publicado no jornal Brasil Econômico.
Rodrigo Sias é economista do Instituto de Economia da UFRJ.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:
PS.
Para complementar o excelente artigo de Rodrigo Sias, sugiro
a leitura do livro de Luís Mir sobre a história de como foi a gestação e o
nascimento do PT.
O produto de sua longa pesquisa está em “Partido de Deus”,
em que o autor mostra as profundas raízes católicas do partido, depois cruzadas
com uma perspectiva marxista. O resultado foi a criação de um agrupamento que
se vê especial, acima do quadro político normal, e com uma missão redentora de recriação
do Brasil.
PARTIDO DE DEUS - FÉ, PODER E POLÍTICA do historiador Luís
Mir
A epopéia do catolicismo no Brasil sempre foi a de um Estado
religioso ortodoxo com braços políticos, atuando diretamente na sociedade
brasileira. Neste contexto, o historiador Luís Mir apresenta um estudo original
sobre as idéias de um Deus-Estado e as esperanças estilhaçadas da população
brasileira, uma história político-religiosa de cinco séculos, marcada pelo
conflito entre a fé e a razão.
SOBRE O LIVRO:
No Brasil, referir-se à religião católica como religião
estatal (e portadora de um teologismo político) é incorrer em pecado, um
anátema. Faz-se exclusivamente sua abordagem como fé, doutrina, teologia,
jamais como Estado religioso.
Partido de Deus - Fé, Poder e Política explora os caminhos
que levaram o Estado religioso católico na construção de um partido
político-religioso. Sua investigação inicia com o primeiro passo do Deus de
Roma ao lado de Pedro Álvares Cabral, quando da descoberta de uma grande ilha a
caminho das Índias.
Mergulhando na epistemologia da atuação política do Estado
religioso católico no Brasil, desde o Descobrimento até os dias atuais, o
historiador Luís Mir aponta as condições que levaram a CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, a herdeira legítima da Ação Católica, a aventurar-se na constituição de
um partido político/central sindical no derradeiro dos anos 1970. O autor
desvenda os alicerces da maior invenção político-religiosa do Estado católico
em toda a sua história no Brasil, o Partido dos Trabalhadores e a Central Única
dos Trabalhadores.
Partido de Deus descreve as estrututras ideológicas que
engendraram o plano salvacionista da CNBB e a fabricação de um líder
messiânico, a partir de uma emergente liderança sindical, Luiz Inácio da Silva.
A figura do líder sindical do ABC, respeitável, que dividia o palco com outros
líderes sindicais e políticos tão ou mais importantes que ele, era fenômeno
restrito e não suficientemente emblemático para uma jornada que se pretendia
como a reconquista da Terra Prometida. Esgotado seu papel como líder sindical,
a marcha libertadora, a romaria dos despojados, exigiria muito mais, ordenava a
construção do mito.
No final do século XX, o Estado religioso católico se
defronta com a maior crise em toda sua história: o fracasso ético e moral de
sua grande criação, o Partido dos Trabalhadores e o desmoronamento do ídolo de
pés de barro, o pai dos pobres, Luiz Inácio da Silva, o novo Antônio
Conselheiro, eleito pelo Deus de Roma para a consumação da redenção nacional.
Teríamos um novo país, uma nova história, uma nova ética, uma nova política.
Essa ação divina acabou em tragédia republicana e nos condenou, mais uma vez, a
repetir a farsa do passado, a falência do presente e a destruição do futuro.
Partido de Deus - Fé, Poder e Política é uma imperdível
investigação sobre a biografia do Estado religioso católico dentro da história
secular brasileira e as personalidades que fizeram parte deste cenário.
SOBRE O AUTOR:
Luís Mir é historiador, autor de A Revolução Impossível
(1994) e Guerra Civil (2004). Recebeu o Prêmio Jabuti 2005 por Genômica (2004).
"Impressionou-me sempre a seriedade com que Luís Mir,
há anos, pesquisa o tema. Bem como o volume de informações que processou e a
competência com que nos apresenta suas conclusões, num discurso fluente,
estimulado pela paixão de quem busca a verdade, sem medo do que possa lhe
acontecer por parte dos bem-pensantes. Recomendo a leitura de Partido de Deus
aos que sejam capazes de não se escandalizar farisaicamente com as verdades que
o autor nos lança em face. Quem sabe ele não nos esteja oferecendo uma ocasião
para testar a profundidade de nossas convicções? Partido de Deus é um corcel
bravio de um cavaleiro apaixonado."
Francisco Catão, professor titular de Teologia do Instituto
Pio XI, Doutor em Teologia pela Universidade de Strasbourg
HERCULES E A HIDRA:
Nenhum comentário:
Postar um comentário