WENDY GUERRA ENTRA E SAI À VONTADE DE CUBA. (FOTO DE DANIEL MORDZINSKI) |
Todos os cubanos são iguais perante a lei, mas alguns são
mais iguais que os outros. A imprensa dos paises democráticos está a cada dia
descendo um degrau em estupidez e incapacidade de colocar as notícias em seu
contexto, chamando as coisas pelo nome que têm.
Com uma pretensa neutralidade ou objetividade, jornais de
todo o mundo noticiam que agora os cubanos poderão sair livremente de seu pais!
Ora vejam só, agora os cubanos poderão fazer aquilo que nós sempre fizemos,
assim como milhões de habitantes de inúmeros países. Entrar e sair do pais
livremente, sem ter que pedir autorização para o governo. Que avanço! Estão
trancados na ilha desde 1959!
Cuba, uma feroz ditadura, desde 1959, fechou-se ao mundo
como um regime totalitário para, mais uma vez, como sempre acontece nas ditaduras
totalitárias, produzir o novo homem e o novo mundo melhor. O resultado desse
mundo melhor é que 1,5 milhões de cubanos vivem fora da ilha (fugiram nos
primeiros anos após a revolução) transformada em um presídio para a sua própria
população.
Cuba virou um tipo de jardim zoológico humano, com suas bizarrices,
como os carros antigos americanos, dos anos 50, as prostitutas que desfilam
seus corpos morenos pelo Malecón coletando os dólares dos turistas
deslumbrados. E os turistas, que ficam quase restritos a praias realmente
paradisíacas, são alimentados pela propaganda de um povo feliz. Mas eles são
abordados na rua para vender dólares, relógio, calças Levis, ou entrar em uma
loja exclusiva de turistas e comprar para o cidadão sabonetes, creme de barbear
ou outras bugigangas inacessíveis aos simples mortais. Como é singelo morar em Cuba, como eles
conseguem fazer ali o que antes milhões no resto mundo faziam nos anos 50!
Quase um museu ao ar livre.
RESTRIÇÕES
YOANI SÁNCHEZ FICA DETIDA NA ILHA |
Certamente, como continua sendo uma ditadura, controlada por
uma elite de cerca de 300 mil cubanos ligados ao PCC (não se assustem, Partido
Comunista Cubano), o governo da ilhota continuará a controlar seus habitantes,
vigiados diuturnamente.
Quem leu o famoso Animal Farm (A Revolução dos Bichos), de
George Orwell, saberá entender perfeitamente a primeira frase deste texto: “Todos
os são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais do que os outros”.
Em
Cuba, essa ficção do sucesso da revolução comunista, a lei se aplica
perfeitamente. E agora, com essa tal permissão para entrada e saída do pais sem
controle do governo, a lei é aplicada mais uma vez.
Vejamos: segundo o publicado no diário oficial cubano, o
Granma, nem todos
poderão usufruir de tal benefício. Exemplo: os dissidentes,
os “cérebros”, os críticos, os médicos, esportistas, e talvez outras categorias
consideradas especiais ou estratégicas para o regime.
Então, exceto as
exceções, que serão muitas, todos (os que sobraram poderão sair do pais. Geralmente
gente ligada o regime e que não criará problemas ao governo. Ou aqueles dos
quais o PCC queira se livrar.
É uma piada.
Claro que para os muitos que poderão agora entrar e sair de
Cuba, apenas com o passaporte. Será muito bom. Mas isso não resulta de bondade
alguma do sistema. É apenas uma forma de tentar aliviar as tensões internas,
que são muitas, e crescem a cada dia, devido à escassez pela qual passa o pais.
Com o afastamento de Fidel Castro em 2006, que passou o
comando para seu irmão mais novo,
Raul, houve um movimento no paquidérmico sistema para tentar algumas medidas de
abertura na área econômica. Mas tudo muito difícil de funcionar, tal o grau de
controle, burocracia e receio de perda do controle da situação. Aliás, a dita democracia
cubana, para os comunistas, é a passagem do comando da ditadura de um irmão
mais velho para um irmão um pouco menos velho, do mesmo modo.Em suma, Cuba é
uma gerontocracia. Socialismo monárquico!
Em Cuba, ninguém é dono do próprio nariz, o estado comunista
que é dono de tudo e de todos.
MENTIRAS DO EMBARGO
Ao longo do tempo venderam a mentira de que o atraso
constante era produto da política de restrições americanas, o embargo. Isso
jamais foi verdade. Em primeiro lugar, durante todo o tempo da antiga União
Soviética Cuba pode comerciar com todos os países da então chamada Cortina de
Ferro. Ocorre que seria como dois mendigos fazendo comércio: um não tem
dinheiro a oferecer, e nem produz nada para vender, sendo a recíproca
verdadeira, pois o outro não produzia nada para vender e nem tinha dinheiro
para comprar. Simples assim.
Durante todos os anos da União Soviética, a URSS, com todas
as suas carência também, mas por ser bem mais complexa, e para efeitos de
propaganda, deu mesadas anuais de 4 bilhões de dólares aos cubanos. Cuba viveu
de mesadas. O que é inacreditável, pois qualquer enciclopédia ou livros e
relatórios sobre economia de até meados dos anos 50 mostrarão que Cuba tinha
uma economia excelente, exportava vários produtos agrícola, e já tinha um
excelente padrão de vida, superando quase todos os paises latino-americanos e
até, alguns europeus.
Havia, claro, nos anos 50, a ditadura cruel de Fulgêncio
Batista, assim como o mito do domínio total dos mafiosos americanos (que
estavam lá mesmo) sobre o pais inteiro. Mas sempre é preciso alimentar algumas
boas mentiras e algumas verdades para que se faça a revolução.
E foi assim que Fidel Castro chegou ao poder com seus
guerrilheiros. Desde então, Cuba só mudou: para muito, mas muito pior. Toda a
euforia dos comunistas e simpatizantes sobre os avanços de Cuba é resultante de
pura propaganda.
A economia cubana, assim como toda economia socialista não
para de pé. Hoje os cubanos nada produzem, nada exportar, portanto não
importam, pois não tem recursos para isso. Os socialistas, com a mania de
interferir no processo econômico desmontam a máquina do mercado e interferem
nos preços. Preços não podem ser regulados pelo governo. Cuba comercia, hoje, com
mais de 100 países. Ocorre que não passar de um sistema de quase escambo
rudimentar. Nada exporta, porque nada produz. Não produzindo, não vende. Não tendo
dinheiro não pode comprar. É um círculo vicioso. No caso da Venezuela, por
exemplo, exporta mão de obra (na verdade agentes doutrinadores) e importa petróleo.
O Brasil está “financiando”, provavelmente a fundo perdido, um porto em Cuba. Uma forma de dar o suado imposto
dos brasileiros aos comunistas cubanos.
O resultado disso tudo foi que Cuba, o maior produtor de
açúcar do mundo nos anos 50, em 2011 voltou aos níveis de produção de 1901.
Recuou um século. A única coisa que funciona em Cuba são as áreas ligadas ao
turismo externo, para receber turistas e receber dólares.
Bem, este texto já se alongou demais. Era apenas um breve
comentário sobre que agora um cidadão cubano – sempre aqueles aprovados pelo
governo – poderá entrar e sair do país. Para nós rotina, para uma ditadura, um
avanço? Não creio, realmente, parece mais uma forma de destampar a panela de
pressão. Qualquer dona de casa sabe disso. Se não deixar escapar um pouquinho
da pressão, o feijão poderá ir pelos ares.
OS ESPECIAIS
Para fechar. O seu filho estuda engenharia na POLI-USP? Ao
se formar poderá obter um bom emprego no Brasil ou se quiser, poderá ir ara o
exterior estudar ou trabalhar.
Na ditadura, no caso a cubana, como o governo investiu nos estudos
do seu filho, ele torna-se uma propriedade do Estado. É considerado “um
cérebro”, não poderá sair do pais.
Raul Castro disse que os EUA roubam cérebros cubanos. Não é
verdade. A América, apesar da crise, ainda exerce fascínio. Atrai cérebros do
mundo inteiro porque incentiva pesquisas e paga bem. Ainda há boas oportunidades
para pessoas bem preparadas. Aliás, como em qualquer pais decente.
O Brasil tem recebido espanhóis que fogem da crise européia.
O Brasil não está roubando cérebros espanhóis. O Brasil não está roubando
argentinos, bolivianos ou chineses. Eles é que vem para cá para tentar o
futuro.
A idéia do “roubo” de cérebros mostra bem a mentalidade
comunista ditatorial. São os donos das pessoas. Pessoas são apenas peças do
sistema. Além dos “cérebros”, há os críticos, os esportistas, os dissidentes.
Estes nunca terão passaportes liberados.
Estes, são um capítulo à parte. Alguém como Yoani Sánchez,
uma critica supervisionada para efeitos de propaganda, pode fazer criticas pela
Internet, que são lidas apenas no exterior, mas não pode, ela mesma, sair do
país.
Por outro lado a escritora Wendy Guerra, a queridinha dos
comunas, pode sair e fingir que não gosta das falhas do regime, mas seus livros
também não podem ser vendidos e lidos pelos cubanos.
É, tanto Yoani como Wendy têm uma certa margem de liberdade
para criticar falhas do regime, coisas leves do cotidiano, mas nunca analisam analisam
a monstruosidade do estado ser dono de alguém. De certo modo, são a oposição
consentida, como o MDB foi nos tempos em que polarizava com a Arena, aqui no Brasil.
Mas com uma margem de manobra ínfimamente menor do que os opositores tinham no
Brasil no tempo dos militares. Aqui a oposição era quase uma oposição. Lá é uma manobra de propaganda pra inglês
ver. Yoani e Wendy tem milhares de fãs... fora de Cuba.
Mas a Wendy Guerra tem uma vantagem muito grande. Ela é
bonitinha demais, tem um belo sorriso e deve deixar embasbacados e confusos os
burocratas comunistas, e isso ajuda bastante a vender o peixe cubano.
Enquanto Yoani fica presa em Cuba, Wendy Guerra, que faz o
mesmo papel, pode entrar e sair livremente. Para a primeira, de nada adiantarão
as novas medidas, ela não poderá usá-las. Para a segunda, são inúteis, pois ela
é uma cidadã especial e os especiais fazem valer o ditado usado inicialmente:
todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que os outros. Wendy
entra e sai de Cuba quando quer.
Wendy é igual, mas é diferente, entenderam? Basta olhar as fotos das duas.
YOANI SÁNCHEZ:
http://www.desdecuba.com/generaciony/
WENDY GUERRA:
http://www.danielmordzinski.com/fotografias/latino-americanos/
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