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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

RÉQUIEM PARA O JT. SÃO PAULO PERDE O JORNAL DA TARDE. UM DOS DIÁRIOS MAIS BONITOS DA IMPRENSA BRASILEIRA.



Nunca mais teremos um jornal como o JT. Outros tempos, outro Jornalismo. 

O Jornal da Tarde, o JT, um dos jornais mais bonitos e agradáveis de ler já publicados no Brasil deixará de existir na quarta-feira, quase véspera de finados. A sua última edição, no dia 31, decorre de uma decisão tomada pelo Grupo Estado, por razões econômicas. O jornal surgiu matutino, em janeiro de 1966, passando a vespertino em 1988.  

Certamente as mudanças na realidade das comunicações na sociedade informatizada foram as responsáveis pela decisão de decretar a morte do JT. Lamento, pois fui seu leitor voraz, especialmente nos anos 60 e 70, que considero a sua fase mais criativa, bonita, genial mesmo, quando os repórteres tinham o incentivo das chefias para irem atrás de detalhes profundos e de uma narrativa com estilo literário, aos moldes do chamado Novo Jornalismo Americano, o New Journalism. 

JÂNIO QUADROS, ELEITO PREFEITO 

Uma coisa muitíssimo interessante, e intrigante, é que o jornal surgiu dois anos após o golpe militar de 1964.

Muitos estudantes universitários de Jornalismo não fazem a menor idéia da qualidade das matérias publicadas, mesmo com toda a censura existente. Também é do período posterior à ditadura militar o surgimento da Revista Realidade, outro marco do Jornalismo Brasileiro.

ATRAPALHANDO A DEMOCRACIA

Quem duvidar, basta procurar, por exemplo, um livro chamado “Violência e Repressão”, em que foram reproduzidas reportagens investigativas de repórteres de texto excelente, como Percival de Souza, Fernando Portela e Marcos Faerman. Este, um dos melhores textos da Imprensa Brasileira, até hoje. Lamentavelmente Faerman faleceu há alguns anos.

A História da Famíla Bensadon, sobre uma jovem que morava em um bairro periférico de São Paulo, quando ainda não havia a violência de hoje, e que desapareceu, é um texto lindíssimo de Faerman, e um trabalho de pesquisa e levantamento que durou trinta dias. Ao fim, descobre-se que ela havia tido uma discussão com uma vizinha, mulher de um soldado, e isso significou o seu fim. A morte. A matéria levou os responsáveis à prisão.
PROTESTO PELA CENSURA

As primeiras páginas do JT eram fantásticas, abrindo amplo espaço para a Fotografia, além de serem extremamente criativas, do ponto de vista do design gráfico e arrojo editorial.

Nos tempos em que Maluf (o atual aliado dos petistas) era governador e ligado ao governo militar, resolveu encontrar petróleo no Estado de São Paulo. O JT começou a publicar um desenho seu, todos os dias, como um Pinnochio, até que fosse cumprida a promessa da descoberta do petróleo. Ao fim de alguns meses, o nariz gigantesco tomava conta da primeira página, em diagonal. O nariz de Maluf cresci um pouco a cada dia.

QUANDO PERDEMOS TOM

E há a famosa capa do menino chorando, de 1982, quando o Brasil foi desclassificado na Copa. Fantástica. Quando censurado, o jornal publicava receitas de bolos e doces no lugar da matéria vetada, indicando aos leitores a ação da censura.


DO WIKIPEDIA:

O JT foi concebido e idealizado por Mino Carta, com o auxílio de Murilo Felisberto. Eles foram incumbidos pela família Mesquita, de O Estado de S. Paulo, para criar um novo modelo de jornal no Brasil, diferente do tradicional, buscando inspiração no intenso movimento cultural e as mudanças de comportamento que ocorriam na segunda metade da década de 1960. Sua primeira manchete, por exemplo, passou longe da política e da economia, assuntos que quase invariavelmente marcavam as manchetes dos outros jornais: "Pelé casa (sic) no Carnaval".

Essa manchete representou ainda a primeira vez que um veículo de comunicação publicou o nome da noiva, Rosemere dos Reis Cholbi, até então mantido em segredo pelo jogador, embora a foto mostrada na capa fosse da irmã da noiva, o que só se descobriria no dia seguinte.

Apesar do "generoso" orçamento inicial, a empresa previa que o jornal fosse deficitário em seus primeiros anos. Os jornalistas da redação, em sua maioria muito mais jovens que a média de outras redações, começaram a publicar edições experimentais conhecidas como "número zero" já em dezembro de 1965, um mês antes do lançamento, embora a Edição de Esportes tenha servido como laboratório.

A cada edição gerada seguia-se um debate, com correção diária de rumo e de visão, em busca do que seria o produto final, que inicialmente seria baseado no vespertino francês France Soir, mas que progressivamente foi abandonado como modelo. A preocupação, de acordo com o diretor Ruy Mesquita, era "fazer alguma coisa que seria um misto entre um jornal diário e uma revista semanal". O primeiro editorial definiu a nova publicação como de "estilo vibrante, irreverente, de um vespertino moderno que visa a atingir um público diferente daquele que, normalmente, lê apenas os matutinos".

Com nova linguagem gráfica, claramente contrastando com o visual quase padronizado dos jornais da época, muitas vezes eram os próprios editores que cuidavam do desenho das páginas, ao contrário de outros jornais em que essas tarefas eram exclusivas dos diagramadores e diretores de arte.

Os repórteres não só tinham permissão, como eram encorajados a escrever textos mais próximos do estilo literário, inclusive na reportagem policial, com narração semelhante a um romance policial.

A juventude da redação do JT era evidenciada pela diferença em relação à redação do Estado, que ficava do outro lado de um corredor no quinto andar do prédio onde ficava à época o Grupo Estado, na Rua Major Quedinho, no centro de São Paulo. Enquanto a primeira era muito barulhenta, com todos vestindo jeans e alguns até calçando sandálias, na segunda imperava o silêncio e todos, mais velhos ou mais jovens, usavam gravatas. 

O corredor que dividia as redações era conhecido como "túnel do tempo", e a redação do JT era conhecida do outro lado do corredor como "os meninos do Ruy", em referência ao diretor do jornal, Ruy Mesquita.

LEIA MAIS SOBRE O JT NO WIKIPEDIA:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornal_da_Tarde_(São_Paulo)


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