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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O PT NÃO É QUADRILHA? Transformo a afirmação do professor Demétrio Magnoli (O PT não é quadrilha) em uma pergunta. Como diriam velhos marxistas, do ponto de vista formal, o PT é um partido que, num dado momento, foi comandado por quadrilheiros. Mas a coisa seria tão simples assim? Nem sempre o que não parece não é.


MAGRITTE: ISTO NÃO É UM CACHIMBO
CLARO QUE NÃO: APENAS UM PINTURA DE UM CACHIMBO.
PODERIA COMPLICAR:
TAMBÉM NÃO É UMA PINTURA. APENAS UMA REPRODUÇÃO VIRTUAL
DE UMA PINTURA QUE NÃO É UM CACHIMBO.
O PT É UMA QUADRILHA?
O PT PARECE UMA QUADRILHA?
COM CERTEZA NÃO É UM CACHIMBO!

 
O professor Demétrio Magnoli, costumeiro critico do governo petista, publicou hoje no jornal O Globo, um artigo que está provocando muitos comentários em diversos blogs críticos ou a favor do governo e do PT.  O titulo do artigo é “O PT não é Quadrilha”, e, o professor discorda da abordagem de José Serra na campanha pela Prefeitura de São Paulo quando associa Fernando Haddad à imagem dos quadrilheiros do PT.

Uma coisa é fato: o PT tem, sim quadrilheiros, conforme a Procuradoria Geral da República e a decisão do Superior Tribunal Federal, a instancia máxima da Justiça no Brasil. José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, petistas de alto coturno, foram condenados por várias coisas, inclusive por formação de quadrilha.

Não adianta expoentes petistas e esquerdistas históricos, ou petistas mal disfarçados na imprensa sugerirem ou advogarem que o trio, o que interessa no caso, por exemplo, não forma uma quadrilha, ou que o STF condenou sem provas (o que não é verdade), ou que se foram presos devem ser considerados presos políticos.

A questão do uso do termo quadrilha começa neste ponto. Aqui está o divisor de águas. Assim, não concordo com os argumentos do professor Demétrio. Acho que a campanha de Serra não está errada. Isso é política. Caso contrário, porque petistas falam de um livro eivado de inverdades como Privataria tucana e o vinculam a Serra, por ser do PSDB?

Há política feita com mentiras e política feita com constatações. Parece que analistas, como no caso o prf. Magnoli, desta vez, estão parecendo aqueles que criticam o modelo mais agressivo de propaganda, como a americana, em relação à brasileira. Argumentos duros, baseados na realidade, nunca são ofensivos ou um ataque pessoal. São apenas o que são: duros e reais. 

PLURARISMO E ESTADO DE DIREITO

Ou um partido está plenamente integrado à democracia, ao pluralismo político, religioso e de idéias em geral, à liberdade de pensamento, expressão e de imprensa, e à livre iniciativa, à propriedade, e ao Estado de Direito, com a divisão clara dos três poderes, conforme a nossa Constituição, ou há alguma coisa errada.

Um dos ministros do STF assinalou que o que o Mensalão configurou foi o andamento de um assalto ao Estado democrático. O Mensalão, como ação de corrupção seria um processo para comprar votos e enfraquecer outros poderes da República. Por isso quem agiu no sentido de viabilizar o Mensalão agiu conforme o plano e procedimento de uma quadrilha.

Sim, uma quadrilha que agiu para derrubar, em tempo ainda, indeterminado, a República. Quem acompanha a situação política na Argentina, Colômbia, Venezuela ou Equador, apenas como exemplos (há outros casos), sabe que há em andamento um projeto para a conquista do Estado por um movimento ou partido. Ora, se um partido deixa de ser parte do governo – o que é transitório – e se confundo com o poder, isso nada mais é que poder absoluto.

Nesse sentido, uma quadrilha teria agido, sim, no PT, para obter o poder absoluto, conforme se depreende dos julgamento do Mensalão.

A questão séria que se coloca agora é: cada petista militante ou eleitor simpatizante do PT tem essa percepção dos fatos e das metas? Não sei. Se o PT, como partido num regime pluralista aceita as regras do jogo, e tem membros metidos em encrenca criminosa, para provar essa boa fé, deveria expulsar os quadrilheiros envolvidos com o Mensalão. Não é bom sinal essa defesa intransigente de condenados por crimes que envolvem uso de dinheiro público, como se os condenados fossem perseguidos políticos.

Essa posição apenas indica que o PT se coloca, como entidade, acima das leis, ou do quadro da democracia que temos. Resta imaginar que o partido só aceitaria, então  outra realidade, que ele criasse. Isso não seria uma ditadura?  

Os partidos de origem ou formação marxista europeus abriram mão da luta armada e de tentativas de golpe contra o regime pluralista. Ganhou a eleição, governa; perdeu, cai fora. Há rotatividade.

A impressão que se tem é a de que o PT não sente-se bem nesse contexto. Isso não faz dele uma quadrilha, mas indica forte incômodo com o que chamam de democracia formal. Para os velhos marxistas democracias formais só serviam para serem derrubadas em troca de outro regime.

DEMOCRACIA POPULAR

Não era isso que queriam José Dirceu e seus companheiros, Dilma Rousseff  inclusive, quando lutaram contra a ditadura militar? Lutaram contra a ditadura militar, não pelo democracia formal, desprezada por marxistas, mas pela implantação de uma ditadura comunista, eufemisticamente chamada de democracia popular.

O uso indiscriminado da palavra “democracia” pode confundir as pessoas. Por isso não concordo com o professor Magnoli. Serra, quando  mistura as figuras de Haddad a Dirceu ou Genoíno e pergunta o que poderá fazer, de fato, o PT em São Paulo, não está fazendo mais que perguntar óbvia. Quem estará vindo a São Paulo: um partido que aceita as regras do jogo, ou um partido que diz aceitar as regras do jogo mas aceita em seu meio quadrilheiros (vistos como heróis)? 

Até agora altos dirigentes petistas continuam a expressar um pensamento estranho, de recusa pelo julgamento do STF, como se o pais estivesse dividido entre nós (PT) e eles (os inimigos). Essa não é a concepção de uma democracia decente.

Ou o PT joga democraticamente, de forma cristalina, ou dá indícios de que finge jogar um jogo do qual não acredita nas regras. Isso veremos mais adiante.

GUTENBERG J. 

O BLOG CORONELEAKS (Coturno Noturno) publicou hoje um comentário meu sobre o artigo de Magnoli. Algumas das idéias expus acima. Mas creio que se complementam.


CECI N´EST PAS JOSÉ DIRCEU


MAGNOLI E O PT

Acho interessantes muitas das observações de Magnoli e, por exemplo, de seu livro "Uma Gota de Sangue", sobre as políticas racialistas.
No caso do PT, de fato, o partido não é uma quadrilha, é um partido. Caso contrário não poderia existir.

Mas isso esconde uma coisa que a maioria da população não percebe:
o PT, enquanto partido de origem marxista (formado nas brumas do catolicismo marxista da Teologia da Libertação) não aceita, de fato, e dá sempre demonstrações concretas disso, coisas básicas em uma democracia.

Por exemplo, os diretores do PT não aceitaram a nova Constituição (1988). A direção do partido vive pregando o controle da imprensa e as práticas partidárias parecem confundir coisa pública com coisa privada e Estado com interesses partidários.

Em suma: um cidadão do interior de Pernambuco que vota no PT pensa essas coisas? NÂO!

Ele imagina o que está por trás das intenções do Foro de São Paulo? Não!. Nem sabe o que é isso. Um petista, filiado, tem noção dessas coisas? A maioria creio que não.

O núcleo de antigos, mais velhos, com formação marxista é que manobra o partido.
Assim, o partido existe, está dentro da lei. Mas o partido sim, usando as regras do jogo, faz coisas que deveriam ser proibidas na democracia.

Assim, em termos, mesmo sendo pessoa jurídica legal age, muitas vezes, por conta de interesses não confessados, como de uma quadrilha que quer tomar o poder. Nesse sentido, sim, é uma quadrilha, mas as pessoas não sabem disso.

Na imprensa é outra coisa. A maioria dos jornalistas concorda com isso, por uma falsa consciência. A esquerda gosta de criticar os meios de comunicação. Não há nada mais esquerdista no Brasil que a linha editorial dos meios de comunicação, conduzidos por jornalistas editorialmente, não por empresários, etc...

Magnoli sabe que o PT tem um grupo dentro dele que não gosta deste modelo de democracia. Esse é o perigo oferecido pelo PT. Está no jogo dentro da lei, mas atua para mudar o jogo, mas não fala muito sobre isso.

Basta ler o programa partidário. Basta ver os apoios do PT aos governos de Chávez, Cuba, e outras ditaduras por aí.

Assim, o PT é um partido. De fato não é uma quadrilha, mas suas metas são conduzidas por uma zona de sombras, de ambiguidades, que termina por autorizar a conclusão de que há um comando que age como quadrilha, cujos fins não são nunca muito claramente discutidos. Sempre por meias palavras. Devem imaginar que são dialéticos.

Querem controlar a imprensa; as igrejas; o poder judiciário (basta ver os comentários dos petistas sobre o mensalão! - perseguidos políticos!). É um partido dirigido por pessoas que não parecem acreditar muito nos valores realmente democráticos, pluralistas, e do Estado de Direito.

Gutenberg J.


Um outro comentarista do Coroneleaks, não identificado, escreveu algo muito verdadeiro:

“Se os petistas honestos (supondo que existam) não querem que o seu partido seja considerado uma quadrilha, que afastem da sua direção aqueles que o STF condenou como quadrilheiros. Até agora, no entanto, o que temos visto é o contrário: ataques ao STF e atos de desagravo aos quadrilheiros. A conclusão é óbvia. A oposição seria muito covarde se, para evitar a "linguagem policial", silenciasse sobre isto: estamos diante de um grupo de políticos que, para atingir seus objetivos, não se recusa a agir como quadrilha. Ite missa est.”

ABAIXO, TRECHO INICIAL DO ARTIGO DE MAGNOLI EM O GLOBO: 


"Fernando Haddad está cercado por José Dirceu e Paulo Maluf. Sobre Dirceu, aparece a palavra "condenado"; sobre Maluf, "procurado". Contaminada pelo desespero, a propaganda eleitoral de José Serra não viola a verdade factual, mas envereda por uma perigosa narrativa política. O candidato tucano está dizendo que eleger o petista equivale a colocar uma quadrilha no comando da prefeitura paulistana. A substituição da divergência política pela acusação criminal evidencia o estado falimentar da oposição no país e, mais importante, inocula veneno no sistema circulatório de nossa democracia.

Demóstenes Torres foi expulso do DEM antes de qualquer condenação, quando patenteou-se que ele operava como despachante de luxo da quadrilha de Carlinhos Cachoeira. José Dirceu foi aclamado como herói e mártir pela direção do PT depois da decisão da corte suprema de uma democracia de condená-lo por corrupção ativa e formação de quadrilha. O mensalão é um tema legítimo de campanha eleitoral e nada há de errado na exposição dos vínculos entre Haddad e Dirceu. Contudo, a linguagem da política não deveria se confundir com a linguagem da polícia.

Dirceu permanece na alta direção petista pois é um dos artífices de uma concepção da política que rejeita a separação entre o Estado e o partido. No mensalão, a imbricação Estado/partido assumiu o formato de um conjunto de crimes tipificados. Entretanto, tal imbricação manifesta-se sob as formas mais diversas desde que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto. O código genético do mensalão está impresso no movimento de partidarização da administração pública, das empresas estatais, dos fundos de pensão, dos sindicatos, das políticas sociais e da política externa conduzido ao longo de uma década de lulismo triunfante. Na linguagem da política, Dirceu figuraria como símbolo da visão de mundo do lulo-petismo. Mas a campanha de Serra não é capaz de escapar ao círculo de ferro da linguagem policial.

LEIA O TEXTO INTEGRAL DO PROF. MAGNOLI EM O GLOBO:

FOTO JOSÉ DIRCEU

QUADRO "O CACHIMBO", RENÉ MAGRITTE




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