O professor Demétrio Magnoli, costumeiro critico do governo
petista, publicou hoje no jornal O Globo, um artigo que está provocando muitos comentários
em diversos blogs críticos ou a favor do governo e do PT. O titulo do artigo é “O PT não é Quadrilha”,
e, o professor discorda da abordagem de José Serra na campanha pela Prefeitura
de São Paulo quando associa Fernando Haddad à imagem dos quadrilheiros do PT.
Uma coisa é fato: o PT tem, sim quadrilheiros, conforme a
Procuradoria Geral da República e a decisão do Superior Tribunal Federal, a instancia
máxima da Justiça no Brasil. José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, petistas
de alto coturno, foram condenados por várias coisas, inclusive por formação de
quadrilha.
Não adianta expoentes petistas e esquerdistas históricos, ou
petistas mal disfarçados na imprensa sugerirem ou advogarem que o trio, o que
interessa no caso, por exemplo, não forma uma quadrilha, ou que o STF condenou
sem provas (o que não é verdade), ou que se foram presos devem ser considerados
presos políticos.
A questão do uso do termo quadrilha começa neste ponto. Aqui
está o divisor de águas. Assim, não concordo com os argumentos do professor Demétrio. Acho que a campanha de Serra não está errada. Isso é política. Caso contrário, porque petistas falam de um livro eivado de inverdades como Privataria tucana e o vinculam a Serra, por ser do PSDB?
Há política feita com mentiras e política feita com constatações. Parece que analistas, como no caso o prf. Magnoli, desta vez, estão parecendo aqueles que criticam o modelo mais agressivo de propaganda, como a americana, em relação à brasileira. Argumentos duros, baseados na realidade, nunca são ofensivos ou um ataque pessoal. São apenas o que são: duros e reais.
PLURARISMO E ESTADO DE DIREITO
Ou um partido está plenamente integrado à democracia, ao
pluralismo político, religioso e de idéias em geral, à liberdade de pensamento,
expressão e de imprensa, e à livre iniciativa, à propriedade, e ao Estado de Direito,
com a divisão clara dos três poderes, conforme a nossa Constituição, ou há
alguma coisa errada.
Um dos ministros do STF assinalou que o que o Mensalão
configurou foi o andamento de um assalto ao Estado democrático. O Mensalão,
como ação de corrupção seria um processo para comprar votos e enfraquecer
outros poderes da República. Por isso quem agiu no sentido de viabilizar o Mensalão
agiu conforme o plano e procedimento de uma quadrilha.
Sim, uma quadrilha que agiu para derrubar, em tempo ainda,
indeterminado, a República. Quem acompanha a situação política na Argentina, Colômbia,
Venezuela ou Equador, apenas como exemplos (há outros casos), sabe que há em
andamento um projeto para a conquista do Estado por um movimento ou partido.
Ora, se um partido deixa de ser parte do governo – o que é transitório – e se
confundo com o poder, isso nada mais é que poder absoluto.
Nesse sentido, uma quadrilha teria agido, sim, no PT, para
obter o poder absoluto, conforme se depreende dos julgamento do Mensalão.
A questão séria que se coloca agora é: cada petista
militante ou eleitor simpatizante do PT tem essa percepção dos fatos e das
metas? Não sei. Se o PT, como partido num regime pluralista aceita as regras do
jogo, e tem membros metidos em encrenca criminosa, para provar essa boa fé,
deveria expulsar os quadrilheiros envolvidos com o Mensalão. Não é bom sinal
essa defesa intransigente de condenados por crimes que envolvem uso de dinheiro
público, como se os condenados fossem perseguidos políticos.
Essa posição apenas indica que o PT se coloca, como
entidade, acima das leis, ou do quadro da democracia que temos. Resta imaginar
que o partido só aceitaria, então outra
realidade, que ele criasse. Isso não seria uma ditadura?
Os partidos de origem ou formação marxista europeus abriram
mão da luta armada e de tentativas de golpe contra o regime pluralista. Ganhou
a eleição, governa; perdeu, cai fora. Há rotatividade.
A impressão que se tem é a de que o PT não sente-se bem nesse
contexto. Isso não faz dele uma quadrilha, mas indica forte incômodo com o que
chamam de democracia formal. Para os velhos marxistas democracias formais só
serviam para serem derrubadas em troca de outro regime.
DEMOCRACIA POPULAR
Não era isso que queriam José Dirceu e seus companheiros,
Dilma Rousseff inclusive, quando
lutaram contra a ditadura militar? Lutaram contra a ditadura militar, não pelo
democracia formal, desprezada por marxistas, mas pela implantação de uma
ditadura comunista, eufemisticamente chamada de democracia popular.
O uso indiscriminado da palavra “democracia” pode confundir
as pessoas. Por isso não concordo com o professor Magnoli. Serra, quando mistura as figuras de Haddad a Dirceu
ou Genoíno e pergunta o que poderá fazer, de fato, o PT em São Paulo, não está
fazendo mais que perguntar óbvia. Quem estará vindo a São Paulo: um partido que
aceita as regras do jogo, ou um partido que diz aceitar as regras do jogo mas aceita
em seu meio quadrilheiros (vistos como heróis)?
Até agora altos dirigentes petistas continuam a expressar um
pensamento estranho, de recusa pelo julgamento do STF, como se o pais estivesse
dividido entre nós (PT) e eles (os inimigos). Essa não é a concepção de uma democracia
decente.
Ou o PT joga democraticamente, de forma cristalina, ou dá
indícios de que finge jogar um jogo do qual não acredita nas regras. Isso
veremos mais adiante.
GUTENBERG J.
O BLOG CORONELEAKS (Coturno Noturno) publicou hoje um comentário
meu sobre o artigo de Magnoli. Algumas das idéias expus acima.
Mas creio que se complementam.
CECI N´EST PAS JOSÉ DIRCEU |
MAGNOLI E O PT
Acho interessantes muitas das observações de Magnoli e, por
exemplo, de seu livro "Uma Gota de Sangue", sobre as políticas
racialistas.
No caso do PT, de fato, o partido não é uma quadrilha, é um
partido. Caso contrário não poderia existir.
Mas isso esconde uma coisa que a maioria da população não
percebe:
o PT, enquanto partido de origem marxista (formado nas
brumas do catolicismo marxista da Teologia da Libertação) não aceita, de fato,
e dá sempre demonstrações concretas disso, coisas básicas em uma democracia.
Por exemplo, os diretores do PT não aceitaram a nova
Constituição (1988). A direção do partido vive pregando o controle da imprensa
e as práticas partidárias parecem confundir coisa pública com coisa privada e
Estado com interesses partidários.
Em suma: um cidadão do interior de Pernambuco que vota no PT
pensa essas coisas? NÂO!
Ele imagina o que está por trás das intenções do Foro de São
Paulo? Não!. Nem sabe o que é isso. Um petista, filiado, tem noção dessas
coisas? A maioria creio que não.
O núcleo de antigos, mais velhos, com formação marxista é
que manobra o partido.
Assim, o partido existe, está dentro da lei. Mas o partido
sim, usando as regras do jogo, faz coisas que deveriam ser proibidas na democracia.
Assim, em termos, mesmo sendo pessoa jurídica legal age,
muitas vezes, por conta de interesses não confessados, como de uma quadrilha
que quer tomar o poder. Nesse sentido, sim, é uma quadrilha, mas as pessoas não
sabem disso.
Na imprensa é outra coisa. A maioria dos jornalistas
concorda com isso, por uma falsa consciência. A esquerda gosta de criticar os
meios de comunicação. Não há nada mais esquerdista no Brasil que a linha
editorial dos meios de comunicação, conduzidos por jornalistas editorialmente,
não por empresários, etc...
Magnoli sabe que o PT tem um grupo dentro dele que não gosta
deste modelo de democracia. Esse é o perigo oferecido pelo PT. Está no jogo
dentro da lei, mas atua para mudar o jogo, mas não fala muito sobre isso.
Basta ler o programa partidário. Basta ver os apoios do PT
aos governos de Chávez, Cuba, e outras ditaduras por aí.
Assim, o PT é um partido. De fato não é uma quadrilha, mas
suas metas são conduzidas por uma zona de sombras, de ambiguidades, que termina
por autorizar a conclusão de que há um comando que age como quadrilha, cujos
fins não são nunca muito claramente discutidos. Sempre por meias palavras.
Devem imaginar que são dialéticos.
Querem controlar a imprensa; as igrejas; o poder judiciário
(basta ver os comentários dos petistas sobre o mensalão! - perseguidos
políticos!). É um partido dirigido por pessoas que não parecem acreditar muito
nos valores realmente democráticos, pluralistas, e do Estado de Direito.
Gutenberg J.
Um outro comentarista do Coroneleaks, não identificado, escreveu
algo muito verdadeiro:
“Se os petistas honestos (supondo que existam) não querem
que o seu partido seja considerado uma quadrilha, que afastem da sua direção
aqueles que o STF condenou como quadrilheiros. Até agora, no entanto, o que
temos visto é o contrário: ataques ao STF e atos de desagravo aos
quadrilheiros. A conclusão é óbvia. A oposição seria muito covarde se, para
evitar a "linguagem policial", silenciasse sobre isto: estamos diante
de um grupo de políticos que, para atingir seus objetivos, não se recusa a agir
como quadrilha. Ite missa est.”
ABAIXO, TRECHO INICIAL DO ARTIGO DE MAGNOLI EM O GLOBO:
"Fernando Haddad está cercado por José Dirceu e Paulo
Maluf. Sobre Dirceu, aparece a palavra "condenado"; sobre Maluf,
"procurado". Contaminada pelo desespero, a propaganda eleitoral de
José Serra não viola a verdade factual, mas envereda por uma perigosa narrativa
política. O candidato tucano está dizendo que eleger o petista equivale a
colocar uma quadrilha no comando da prefeitura paulistana. A substituição da
divergência política pela acusação criminal evidencia o estado falimentar da
oposição no país e, mais importante, inocula veneno no sistema circulatório de
nossa democracia.
Demóstenes Torres foi expulso do DEM antes de qualquer
condenação, quando patenteou-se que ele operava como despachante de luxo da
quadrilha de Carlinhos Cachoeira. José Dirceu foi aclamado como herói e mártir
pela direção do PT depois da decisão da corte suprema de uma democracia de
condená-lo por corrupção ativa e formação de quadrilha. O mensalão é um tema
legítimo de campanha eleitoral e nada há de errado na exposição dos vínculos
entre Haddad e Dirceu. Contudo, a linguagem da política não deveria se
confundir com a linguagem da polícia.
Dirceu permanece na alta direção petista pois é um dos
artífices de uma concepção da política que rejeita a separação entre o Estado e
o partido. No mensalão, a imbricação Estado/partido assumiu o formato de um
conjunto de crimes tipificados. Entretanto, tal imbricação manifesta-se sob as
formas mais diversas desde que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto. O
código genético do mensalão está impresso no movimento de partidarização da
administração pública, das empresas estatais, dos fundos de pensão, dos
sindicatos, das políticas sociais e da política externa conduzido ao longo de
uma década de lulismo triunfante. Na linguagem da política, Dirceu figuraria
como símbolo da visão de mundo do lulo-petismo. Mas a campanha de Serra não é
capaz de escapar ao círculo de ferro da linguagem policial.
LEIA O TEXTO INTEGRAL DO PROF. MAGNOLI EM O GLOBO:
FOTO JOSÉ DIRCEU
QUADRO "O CACHIMBO", RENÉ MAGRITTE
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