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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A MORTE DE CAROLINE SILVA LEE E A ABSOLUTA FALTA DE SOLIDARIEDADE NOS GRANDES CENTROS. Um gesto de ajuda poderia ter salvo Caroline? Seu namorado Jardel, que a viu morrer após tomar dois tiros no pescoço, no domIngo, em Higienópolis, não tem a resposta. Ele só sabe que ninguém parou para ajudar.


Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. É, a desconfiança é gigantesca entre as pessoas que circulam pelos grandes centros. Tantos assaltos, tanta violência, tanta crueldade.

Jovens bandidos parecem absolutamente destituídos de qualquer traço de humanidade, piedade, compaixão. Já não basta tomar o que é do outro, uma câmara, um celular, alguns trocados, uma bolsa velha desgastada. Não. É preciso tomar a vida também.    

E essa violência estimula um círculo vicioso: mais crimes, mais desconfiança, mais medo, mais descaso e maior falta de solidariedade. Se há ajuda, como se verificou no caso da trágica morte de Caroline, foi de modo asséptico, seguro, à distância. Sim, alguns vizinhos do local onde ela tomou os tiros, passados alguns minutos, colocaram a cabeça para fora da janela e informaram Jardel de que haviam chamado socorro.

Mas uma bela reportagem da Folha, de autoria de Rogério Pagnan, informa que Jardel quase foi atropelado, uma vez que procurava, em desespero, chamar a atenção de motoristas e conseguir que algum veículo parece. 

Ninguém parou. É o medo do comprometimento, o medo do envolvimento, o medo de que seja uma armadilha, uma arapuca. Todos desconfiam de todos. Isso não pode acabar muito bem.

Abaixo um trecho da narrativa de Pagnan sobre o sofrimento de Jardel na Folha:

Jovem diz que ninguém ajudou adolescente morta em Higienópolis
ROGÉRIO PAGNAN


(Eduardo Knapp/Folhapress)    
O servente de obras Jardel Alves do Nascimento, 24, presenciou a morte da namorada Caroline Silva Lee, 15, em um assalto no domingo em Higienópolis, região central de São Paulo. Jardel afirma que faltou ajuda quando tentava evitar a morte da garota. No HC (Hospital das Clínicas), diz ele, ela teve de esperar por socorro. O hospital, em nota, afirma que o atendimento foi imediato.

Jardel:

“Foi tudo muito rápido. Vínhamos conversando sobre minha tatuagem, que ela queria retocar pela manhã, e de sua primeira aula de acupuntura marcada para as 9h.

Eles chegaram dizendo "passa a bolsa, passa a bolsa." Foi um susto. Eram dois. Um deles estava armado.

Não reagimos. Apenas tentei puxar Caroline para atrás de mim, escondê-la, mas não deu tempo. Um veio por trás e puxou minha mochila.

O outro ficou agarrado na mochila dela. Ela não queria entregar. "Eu vou atirar, eu vou atirar", dizia ele.

“Ela também queria ser tatuadora. Desenhava muito bem. Tenho uma tatuagem no peito feita por Caroline. Eu criei a frase, eu gosto de vampirismo, e ela tatuou. Deixei ela treinar no meu corpo. Ela queria retocar pela manhã.

Minha próxima tatuagem será em homenagem à Caroline. Ela tinha uma tatuagem de um símbolo chinês que significa eternidade.

Para mim, ela será eterna.”

LEIA O TEXTO INTEGRAL AQUI:

FOTO DE JARDEL:
Eduardo Knapp/Folhapress           


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