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RESISTIR É PRECISO
Editorial do jornal O Estado de S.Paulo
27 de outubro de 2012
Mais de 8,6 milhões de paulistanos estão aptos a ir às urnas
amanhã (domingo), no segundo turno do pleito que elegerá o novo prefeito da
capital. Na maior metrópole do País, onde vivem mais de 11,3 milhões de
pessoas, o crescimento demográfico tem sido, nas últimas décadas, muito mais
rápido do que a capacidade dos governantes de planejar e desenvolver uma
infraestrutura urbana e social minimamente capaz de garantir qualidade de vida,
em especial para os habitantes da periferia, onde o aumento da população é
muito maior.
O momento de depositar na urna o voto que decidirá quem
estará à frente da Prefeitura da capital nos próximos quatro anos reveste-se,
portanto - particularmente na atual quadra da vida política nacional -, de um
sentido de acentuada responsabilidade cívica, tanto maior quanto mais
excepcionalmente desafiadora é a tarefa à espera do novo prefeito.
Assim, é de esperar que, tanto quanto possível acima das
paixões partidárias e da mistificação marqueteira que costumam dar o tom das
campanhas eleitorais, o eleitor cumpra seu dever cívico depois de sopesar
criteriosa e objetivamente os programas de governo e as credenciais de cada um
dos candidatos. A eleição de prefeito deve ser sempre considerada, antes e
acima de tudo, como a escolha de um governante verdadeiramente capaz de
resolver os problemas da cidade.
Trata-se de uma obviedade, ostensiva até. Mas que precisa,
sem embargo, ser devidamente assinalada pelo fato de a conjuntura política de
âmbito nacional em que o pleito paulistano se realiza tornar essa questão muito
mais complexa e delicada do que seria normalmente. Em outras palavras, ao
depositar seu voto nas urnas amanhã, o eleitor paulistano não estará apenas
elegendo um novo alcaide, mas influindo decisivamente nos destinos políticos do
País.
Não é suficiente, portanto, levar em conta apenas as
qualificações político-administrativas de Fernando Haddad e José Serra. É
necessário ter em mente o que a vitória de um ou de outro poderá significar
para o futuro do País.
A eleição paulistana é estrategicamente fundamental para o
PT, conforme apregoam as próprias lideranças do partido. Neste momento em que,
por um lado, se jogam as preliminares do quadro sucessório de 2014 e, por
outro, o grupo político liderado por Lula vê suas "vísceras expostas"
pelo julgamento do mensalão no STF, a vitória em São Paulo é essencial
para o lulopetismo, tanto para cacifar as pretensões de consolidar sua
hegemonia no cenário político nacional como para lançar uma cortina de fumaça
sobre o grave ônus que representa o atestado de inidoneidade ao modo petista de
governar representado pela condenação de José Dirceu&Cia.
Foi o próprio ex-ministro da Casa Civil, já então na
condição oficial de quadrilheiro, quem anunciou, no dia seguinte à sua
condenação, que "a prioridade" no momento é vencer a eleição em São Paulo.
Fernando Haddad, a nova invenção de Lula, tem dado de ombros
ao escândalo do mensalão com o argumento de que, pessoalmente, não tem nada a
ver com isso. Provavelmente é verdade. Mas ninguém, nem mesmo o próprio, é capaz
de imaginar que uma eventual administração petista na mais importante cidade do
País possa ser mantida imune ao contágio de uma mentalidade que deliberadamente
confunde Estado e partido.
A voracidade com que, estimulados pelos prognósticos
eleitorais, quadros do PT e aliados se lançam à disputa antecipada por espaço
numa futura administração da cidade é sintoma claro de que se tentará
reproduzir aqui, na hipótese da vitória petista, o lamentável fenômeno do forte
aparelhamento partidário que tem comprometido a eficiência da administração
federal na última década.
Nessa perspectiva, a vergonhosa realidade dos fatos expostos
pelo julgamento do mensalão, antes de constituir um argumento eleitoral
antipetista, é um vigoroso brado de alerta sobre a grave ameaça que significa
para o futuro da democracia no Brasil a desmedida ambição de poder e o
abominável sentimento de impunidade de um grupo político cuja liderança não
hesita em atacar e desqualificar o papel da Suprema Corte quando esta,
constituída por uma maioria esmagadora de membros escolhidos por ela própria,
ousa contrariar seus interesses políticos.
São Paulo precisa continuar resistindo a esse desatino.
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