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Repentinamente, a imprensa mundial começa a dar novamente atenção à Líbia. A Líbia, aquela ditadura controlada por Muamar Kadafi, com mãos de ferro, desde 1969, foi redescoberta. Porém, agora, a imprensa Ocidental olha de modo compassivo não Kadafi, mas o povo líbio. Repentinamente Kadafi não serve mais para a imprensa.
A história da Líbia, com relação à Imprensa, é curiosa.
Nos anos 70, Kadafi, por meio de seu modo histriônico e sua pinta de galã conseguiu ocupar muito espaço na imprensa e no imaginário ocidental, como se fosse uma espécie de Che Guevara do mundo árabe. Sempre agitando o seu Livro Verde (uma cópia islamizada do Livro Vermelho, de Mao Tse Tung).
Com sua revolução socialista-islâmica - algo tão nebuloso quanto o bolivarianismo de Hugo Chávez, o Kadafi da Venezuela - Muamar Kadafi era olhado com imensa simpatia pela esquerda, pelo seu discurso violento contra os americanos, o capitalismo e o Ocidente. Portanto, era olhado com extrema simpatia boa parte da imprensa, infiltrada pela esquerda. Isso não difere muito da situação da imprensa brasileira, em que jornalistas agem muito mais como agentes de propaganda que jornalistas.
É bom lembrar que eram os tempos da Guerra do Vietnã (aquele lugar em que os americanos não perderam a guerra nos campos de batalha). Naquele período, de plena guerra fria, a agitação comunista assolou a America e a Europa, disfarçada em meio ao mundo universitário e artístico. Multidões de americanos iam às ruas protestar, contra os americanos!
E, assim, a Opinião Pública, alimentada pela paixão ideológica de boa parte da imprensa, do establishment universitário, foi manipulada até que continuar a guerra foi impossível. A guerra foi vencida pelos vietcongues dentro da America, com a ajuda da esquerda americana e mundial. No cenário da guerra guerra, nas trilhas de Ho Chi Mim, os vietcongues estavam sendo vencidos (essa é outra história que precisa ser recontada: como uma derrota militar transformou-se em uma vitória política).
Alguns anos depois disso, com a America abalada, Kadafi financiou terroristas, cedeu terrenos na Líbia para treinamento e o mundo passou por uma série de atentados. Muitos deles por ordem de Kadafi, ou estimulados por ele.
O Ocidente mostrou-se fraco para reagir aos ataques corrosivos da estratégia de Moscou de solapar a America por dentro, e parte da Imprensa e do mundo das artes cultuava Che, Kadafi e outros revolucionários que queriam colocar fogo no mundo.
No fim dos anos 80 Kadafi acabou bombardeado em seu próprio território, quando mísseis americanos destruíram seu palácio, ocasião em que ele ficou bastante ferido e desfigurado e em que perdeu sua filha Hannah. Ele havia ido além do limite e explodido uma discoteca, em Berlim, cheia de americanos.
Depois disso Kadafi não interessou mais à imprensa. Pressionado pelo Ocidente reconheceu a culpa da Líbia em diversos atentados e pagou indenizações à famílias das centenas de vítimas. A Líbia tem muito petróleo, Kadafi podia gastar à vontade (mais uma coincidência com a Venezuela).
Mas as coisas mudam. Assim como muitos ditadores árabes Kadafi, embora muçulmano, afastou das proximidades do poder os religiosos comandantes do Islão. A atual onda de rebeliões no mundo árabe está sendo percebida, de modo geral, de forma absolutamente equivocada pela imprensa ocidental. (Ao menos, prefiro imaginar isso).
Não é curioso que as revoltas para derrubar os ditadores (os árabes têm reis ou ditadores, nunca conheceram a democracia) ocorram, sempre, nos países em que os religiosos estão fora do poder como no Irã?
Não é mais curioso ainda que as revoltas ocorram apenas na ditaduras aliadas aos americanos? Sim, os americanos também são aliados de ditaduras, mas essa é outra história.
Não há revoltas populares gigantescas no Irã. Houve uma ameaça por estes dias, mas o governo já avisou que será implacável e soltará os pitt-bulls da Guarda Revolucionária. A guarda é aquela que Ahmadnejadi (o outro amigão de Lula, como Kadafi, como Chávez, e como Fidel...) soltou contra a oposição iraniana quando houve aquela fraude brutal em que ele foi reeleito (estou falando de Ahmadnejadi!). Por que não há revolta na Síria?
A imprensa ocidental, afinada com a esquerda, é incapaz de ter o mesmo olhar compassivo com relação aos que são perseguidos no Irã, ou em Cuba, ou na Coréia do Norte, aquele olhar longo e intenso que é capaz de dispensar aos líbios.
Mas, não se iludam! Hoje, o povo líbio está sendo olhado pela imprensa e pela esquerda porque Kadafi só usa uma retórica socialista-islâmica (isso nunca foi uma coisa muito clara), e fez as pazes com os americanos. Assim, ele foi abandonado pela esquerda e poderá ser jogado do navio. É tão claro!
Até aquele grupo suave e doce dos componentes do Hamas condenaram ontem a violência de Kadafi contra seu povo. Mas é uma compaixão cínica e mentirosa, pois eles mesmo usam seu próprio povo palestino como escudo quando atacam Israel. São covardes da pior espécie. Se Kadafi estivesse nas graças dos esquerdistas islâmicos, nunca seria dado um pio em protesto contra Kadafi, ele poderia eliminar milhares de líbios, sem maior repercussão na imprensa internacional.
Os grupos islamicos como o Hamas e outros semelhantes, que ora criticam a violência de Kadafi, explodem ônibus escolares cheios de crianças com a despreocupação de quam pisa distraído em uma barata. Crianças israelensses, é claro. (Ah! então tudo bem né?).
Se estivesse ainda nas graças da esquerda, Kadafi teria a mesma paz que Sadam Hussein conseguiu quando eliminou vilas inteiras de curdos do norte do Iraque, ou a mesma paz mundial concedida aos malucos dos talebãs que aterrorizaram e cometeram barbaridades contra seu próprio povo, em nome de Alá. Os talebãs tinham carta branca para a destruição.
Para fechar: a imprensa chia, denuncia, e mostra mãos crispadas e mães chorando na TV sempre de um lado só. Não há quam se compadeça com as centenas de presos políticos de Cuba (desordeiros comuns, diria Lula?) ou com a morte dos que se opuseram ao governo do Irã. Ou com as mães de Israel.
Este é um tempo que envergonha os jornalistas, os verdadeiros jornalistas, aqueles que militam para buscar a verdade dos fatos, e não aqueles que já não são jornalistas, abandonaram a profissão, não passando de meros militantes engajados na promoção de ditadores totalitários.
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