A chamada Primavera Árabe forneceu alguns exemplos; a crise grega e espanhola
outros tantos. A periferia londrina também se manifestou fortemente, assim como italianos protestaram
contra os escândalos de Berlusconi.
Mas, no Brasil, a última onda de protestos foi a dos caras-pintadas. Muito intrigante. Jovens foram às ruas contra a corrupção, para derrubar Collor de Mello, no início da década de 90.
Vinte anos!
Mas, no Brasil, a última onda de protestos foi a dos caras-pintadas. Muito intrigante. Jovens foram às ruas contra a corrupção, para derrubar Collor de Mello, no início da década de 90.
Vinte anos!
A GERAÇÃO DOS CARAS PINTADAS CHEGOU AOS 40! HOJE NÃO SE ESPANTAM COM MAIS NADA. E NÃO CRIARAM HERDEIROS PARA A SUA INDIGNAÇÃO. O BRASIL É O PAÍS PERFEITO. |
O Mensalão foi o maio escândalo de corrupção da República,
liderado, segundo a PGR e o STF, pelo ex-deputado e lide petista José Dirceu, além
de outras figuras carimbadas do entorno de Lula.
E o que aconteceu? Nada. A população segue a sua marcha de passividade bovina fazendo parecer que o Brasil é um novo tipo de paraíso.
E o que aconteceu? Nada. A população segue a sua marcha de passividade bovina fazendo parecer que o Brasil é um novo tipo de paraíso.
O PIB estaciona e começa a cair, exames internacionais
mostram a degradação da educação dos jovens, os escândalos envolvendo desvios
gigantescos de dinheiro púbico se sucedem, uma CPI como a do Cachoeira acaba
numa imensa pizza.
É como se a população, a imprensa e outras instituições e
movimentos sociais, antes tão combativos e indignados tivessem tomado uma dose
extra de algum chá alucinógeno e mágico, que mudou as cores da realidade.
Os brasileiros estão enfeitiçados, e este tempo de feitiços nos deu Rose. É sobre Rose que escreve Guilherme Fiúza.
Os brasileiros estão enfeitiçados, e este tempo de feitiços nos deu Rose. É sobre Rose que escreve Guilherme Fiúza.
Afinal, o que está acontecendo entre nós?
Gutenberg J.
Rosemary, a mulher do ano
GUILHERME FIUZA
Nesses tempos de devoção às minorias, não é justo deixar de
destacar a contribuição de Rosemary Noronha para a causa feminina. O Brasil
progressista explode de orgulho por ser governado por uma mulher — que aliás
deu a Rosemary sua chance de brilhar — e não pode agora se esquecer de
reverenciar mais uma expoente do gênero. Assim como Dilma, Rose chegou lá. O
fato de estar enrolada com a polícia é um detalhe.
Rose e Dilma escreveram seus nomes na história do Brasil por
serem, ambas, utensílios de Lula. A finalidade de cada uma para o ex-presidente
não vem ao caso. O que importa é que ambas funcionaram muito bem. Como se nota
pelo ufanismo nacional em torno de Dilma, não se espera mais da mulher moderna
opinião própria, autonomia e iniciativa. Basta botar um tailleur vermelho, um
colar de pérolas e decorar suas falas. E muito importante: falar o mínimo, para
errar pouco. Até outro dia isso era piada entre Miguel Falabella e Marisa Orth
(“cala a boca, Magda!”). Hoje é sinal de poder.
O grande símbolo feminino brasileiro da atualidade, que
desperta a admiração de Jane Fonda — que tempos! — não tinha feito nada de
extraordinário na vida até ser levada pela mão do padrinho ao topo. O feminismo
realmente mudou muito.
Lá chegando, seu maior mérito foi usar vestido e não ser o
Lula (para os que não suportavam mais o ogro bravateiro), ou ser o Lula de
vestido (para os que seguem venerando o filho do Brasil). Sem nenhum plano de
governo, com um ministério fisiológico de cabo a rabo, sem um mísero ato de
estadista em dois anos de mandato, Dilma se destaca por ser ou não ser Lula,
dependendo do ponto de vista. É a apoteose da nulidade, que o Brasil
progressista e feminista consagra com aprovação recorde.
Diante desses novos valores, seria injusto não consagrar
Rosemary também. A representante da Presidência da República em São Paulo fez exatamente
o que Dilma fez em Brasília: cacifada por Lula, passou a reger o parasitismo do
PT, cuidando da nomeação de companheiros e dando blindagem política às suas
peripécias para sucção do Estado.
No caso de Dilma, a grande orquestra fisiológica foi
desmoronando ao vivo, com nada menos que sete ministros nomeados (e protegidos
até o fim) por ela caindo de podres, graças à ação da imprensa. A mulher-modelo
de Jane Fonda ainda havia parido uma Erenice, a quem preparava para ser a dama
de ferro de seu governo (Jane não pode imaginar o que seria isso) — derrubada
por fazer na Casa Civil algo muito parecido com as operações fantásticas de
Rosemary. Até o uso da Anac como balcão de negócios se repetiu. Por que só
Dilma é ícone feminino, se Rosemary mostrou ser um prodígio da mesma escola?
Por algum mistério insondável, a Polícia Federal não fez
escutas nos telefones de Rose, ou diz que não fez. As conversas da mulher que
regia uma quadrilha grudada em Lula, se apresentando como sua namorada, e que
tramou até sabotagem ao julgamento do mensalão — o mesmo que Lula tentara com
Gilmar Mendes — não interessou aos investigadores. O ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, disse que não havia motivos para grampear Rosemary — uma
suspeita que está impedida pela Justiça de sair de sua cidade. Esses ministros
farsescos do PT podiam ao menos ser mais criativos. Mas não precisa, porque o
Brasil engole qualquer coisa.
Marcos Valério disse que Lula teve despesas pagas pelo
esquema do mensalão e autorizou operações bancárias do valerioduto. É comovente
a desimportância atual dessas declarações. Lula é o líder de um projeto
político montado para a permanência no poder a qualquer custo — e essa fraude
está exaustivamente demonstrada pelo mensalão, por Dirceu, Erenice, Palocci,
Pimentel, aloprados, Rosemary e praticamente todo o estado-maior petista, tanto
de Lula quanto de Dilma, flagrados em tráfico de influência para se aferrar ao
poder na marra. O que mais é preciso denunciar?
O eleitor brasileiro está brincando com fogo. Enquanto o
desemprego estiver baixo, vai continuar afiançando a fraude que finge não ver.
O país vai sendo empurrado com a barriga pelos fisiológicos — e essa conta vai
chegar. O governo desistiu de controlar a inflação, que vai se afastando da
meta (apesar da mudança de cálculo que reduziu o índice). A gastança pública é
disfarçada com truques contábeis para esconder o déficit. A arrecadação brutal
banca a farra dos companheiros, sem sobra para investimentos decentes — e tome
literatura de trem-bala e tarifas mentirosas de energia, que já multiplicam os
apagões por manutenção precária.
Como se viu na funesta CPI do Cachoeira, a mafiosa Delta
comandava o planejamento da infraestrutura terrestre.
Mas está tudo bem, e oito governadores podem ir de cara
limpa prestigiar Lula e sua democracia de aluguel. Se este é o país que
queremos, Rosemary é a mulher do ano.
GUILHERME FIUZA é escritor.
21/12/12
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