Puggina toca em uma questão importante, a aparente falta de percepção dos brasileiros ao que ocorre no País. Parece que basta ter um pouco de dinheiro no bolso e está tudo resolvido. Se alguns roubam mais e outros roubam menos, do ponto de vista da gestão da coisa pública, isso não faz a menor diferença.
Se partidos políticos tramam colocar em risco a democracia, isso não faz a menor diferença. LIberdade de expressão, educaçõ, saúde, tudo fica distante se o mercado interno vive momentos de euforia. Mas o elástico foi esticado e, agora, restam incertezas crescentes. Sobre isso escreve Percival Puggina.
Gutenberg J.
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No que vai dar isso aí?
Percival Puggina
08 Dezembro 2012
Nem a economia, como fator isolado, será suficiente para
desconstruir a imagem do governo se a imagem de Lula não desabar.
Não sou nenhuma celebridade, nem gostaria de ser. Mas volta
e meia alguém me pára na rua. Felizmente não querem autógrafos. Querem saber no
que vai dar isso aí. A pergunta se refere a essa coisa em que transformaram o
Brasil. Minha resposta acaba sendo comprida. Então, doravante, para simplificar
as coisas, passarei a responder por escrito. Andarei com a resposta no bolso.
O Brasil está no olho de um furacão e não toma conhecimento.
Como nunca antes neste país os problemas são graves e têm efeitos cumulativos.
Mencionarei apenas os principais, relacionando-os à nossa posição no contexto
mundial: a) estamos em 88º lugar no ranking da educação básica e no 66º da
educação superior; b) este ano, pela primeira vez, entramos na lista das 50
economias mais competitivas, com um modestíssimo 48º lugar; c) nossas péssimas
instituições nos deixam no 79º lugar em relação ao quesito qualidade das
instituições nacionais; d) ocupamos o 99º lugar no ranking da liberdade de
imprensa; e) somos o país lanterna do BRIC quanto ao número de registro de
patentes nos Estados Unidos (apenas 7% do total obtido pela China no ano
passado); f) ocupamos o 84º posto entre 187 países no ranking do
desenvolvimento humano (IDH); g) somos o 69º país mais corrupto, com uma
vergonhosa nota pouco superior a três. Junto com a proverbial impunidade, os
sucessivos casos de corrupção, na novilíngua oficial, viraram
"malfeitos" - assim como se fossem travessuras de gente grande.
Não bastasse isso, 2012 foi um ano perdido. Nossa economia
cresceu uma ninharia, pouco mais de um por cento, índice que nos coloca em
penúltimo lugar entre os 20 países ibero-americanos. Como consolação, ganhamos
do Paraguai. As tarefas centrais de qualquer governo - Educação, Saúde,
Segurança e Infraestrutura - vão de mal a pior. Um governo desses só pode ser
bem pontuado distribuindo dinheiro para os pobres e para os ricos, e mandando a
conta para a classe média. Dos primeiros vêm os votos; dos segundos a grana.
A alegria dos criminosos brasileiros é a falta de policiais
e presídios. Milhares de condenados operam livremente, ora por falta de quem os
capture, ora porque não tem onde ficar detidos. Assim, convivemos com tenebrosa
sensação de insegurança. E o governo aplicou, até o mês de novembro de 2012,
apenas um por cento do que estava previsto no orçamento federal para construção
de estabelecimentos penais. Aliás, em relação ao orçado para investimentos
neste ano, o governo da União, em todos seus setores de atuação, só conseguiu
usar 34%.
Quanto ao ano de
2013, é visível que o governo esgotou os truques para fazer a economia crescer
à base do consumo interno: baixou juros, ampliou prazos de financiamento,
concedeu substanciais reduções de IPI e chamou à sociedade ao endividamento.
Haverá algo mais, na cartola das demagogias oficiais, além do nunca feito dever
de casa?
Não obstante tudo isso e muito mais, o governo e a população
não têm tal percepção. E ninguém está mais longe de resolver um problema do que
quem sequer sabe que ele existe. Os sucessivos escândalos que enxovalham o
momento histórico e atingem danosamente nossa imagem internacional parecem não
afetar as figuras centrais da república. Os patifes vivem à vida regalada,
convictos da perenidade do regabofe em que se lambuzam.
Então, as pessoas me perguntam: no que vai dar isso aí?
Minha resposta é política. Quem está no poder só sabe fazer mais do mesmo. As
expectativas relacionadas a uma possível implosão do núcleo duro desse poder
dependem exclusivamente da combinação de dois fatores: o que vier a acontecer com
a imagem de Lula junto à opinião pública e dos rumos que forem tomados pela
economia.
Se, contrariando todas as probabilidades, a galinha que voou
em meados da década passada, sair por aí planando como um falcão, continuaremos
com mais do mesmo. O brasileiro, com dinheiro no bolso, pouco quer saber de
democracia e de princípios morais. Mas nem a economia, como fator isolado, será
suficiente para desconstruir a imagem do governo se a imagem de Lula não
desabar.
E Dilma? É preciso compreender que Dilma, assim como
precisou de Lula para subir, precisará de Lula para descer. Se e quando a
imagem de Lula desabar, Dilma cai junto. Fora disso não há salvação.
TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:
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