Se Adam Lanza fosse um romano dos tempos mitológicos poderia
dizer foram os deuses, Marte conduziu minhas mãos para a matança. Nos tempos do
velho e glorioso Império Romano era assim que os guerreiros explicavam quando a
espada penetrava a carne do inimigo. Os homens eram canais para as estranhas
vontades divinas. Os soldados não eram diretamente responsáveis pela matança.
Um bom cristão poderia dizer, entristecido, mas conformado, “Deus
sabe o que faz. Deus escreve certo por linhas tortas”. E, com o apoio da fé, as
feridas se cicatrizariam.
Um rancoroso de esquerda diria: “Adam é um produto da
sociedade capitalista de consumo”. Já um apologista do desarmamento civil, um tipo
de crente na bondade natural do homem, à la Rousseau, diria que a culpa é da
sociedade e das armas de fogo”.
Há dezenas de possíveis hipóteses explicativas para o que
aconteceu em Sandy Hook. Mas ninguém saberá a verdade final, uma vez que Adam
Lanza morreu e levou com ele as suas razões. Mesmo assim talvez ele não tivesse
muito claro o motivo de tudo isso.
ADAM LANZA: COMPORTAMENTO ESTRANHO |
ARMAS DE FOGO E DOENÇAS MENTAIS
O massacre de Sandy Hook trouxe à tona, como sempre
acontece, nos Estados Unidos e no Mundo, o debate sobre a necessidade de
controle sobre as armas de fogo. Ou a culpa é dos deuses, ou das armas, ou da sociedade
capitalista.
Nunca querem discutir a personalidade, o caráter, ou a sanidade mental dos que cometeram tais massacres ao longo do tempo. É curioso que uma sociedade
que tenha se desenvolvido na crença do homem que se faz sozinho (self-made man),
de que as pessoas devem construir seu caminho, passem a colocar a culpa em
fatores fora do indivíduo que produziu tanta dor.
Claro, não basta apontar o dedo para Adam Lanza e dizer: era
perturbado, era esquisito, era louco, era diferente. Claro que não. Claro que
se pode discutir se armas tão poderosas devem ficar em local de fácil acesso
(assim como se pode advogar que crianças aprendam a lidar com as armas para
evitar acidentes), mas não se pode colocar a culpa exclusiva no mensageiro, no caso, as
armas de fogo.
Talvez possamos olhar à volta e encarar uma verdade: será
que tratamos os doentes mentais ou indivíduos com comportamentos estranhos de
modo correto? Será que aceitamos que sejam doentes e procuramos a ajuda
correta? Ou fingimos não perceber a sua estranheza? Será que todos tratavam
Adam fazendo de conta que era normal? Afinal, pode ser doloroso para um pai,
uma mãe, encarar o fato de que um filho tenha problemas. Será que muitos pais não querem tapar o sol com a
peneira?
Será que um clima familiar deteriorado não colabora para com o
acentuamento de esquisitices? Na falta da presença de um pai ou uma mãe
afetuosos, atentos, amigos, será que o indivíduo que já tenha problemas, não fica
mais perdido ainda em seu mundo solitário?
ESQUISITO
Pelas fotografias espalhadas pela Internet Adam Lanza
parece, sim, um esquisitão. Muito magro, talvez alto, roupas muito largas, cabelos
cobrindo o rosto, num estilo antigo. Assim, teria sofrido de bullying na infância
e na adolescência?
Seus amigos e conhecidos disseram, está em vários sites, que
era retraído, mas inteligente. Fazia parte de um clube de tecnologia. Se tinha
a Síndrome de Asperger, isso não o atrapalhava nos estudos. A questão parecia
ser de relacionamento.
A policia investiga ainda o caso procurando uma explicação
para a ação violenta de Adam Lanza. Por que Adam fez o que fez, e do modo como
escolheu fazer? Ele foi fortemente armado para a escola. Invadiu o prédio. Ao
perceber a chegada da polícia, matou-se com um tiro de pistola.
QUAL O SENTIDO DE MATAR CRIANÇAS INDEFESAS?
Talvez fosse matar mais crianças. Qual a razão? Talvez seu
plano fosse matar todos que pudesse e, ao fim, atirar em si mesmo, independente
da chegada dos policiais.
A mim parece que a questão não é discutir quantas armas
existem nos Estados Unidos. Existem 270 milhões de armas de fogo nas mãos dos
civis americanos. E lá, as armas de fogo estão envolvidas em apenas 8 mil mortes por ano. No
Brasil, em mais de 30 mil casos. O bom seria se ninguém morresse, mas essa é outra história.
É possível proteger melhor as escolas? Sim. Mas por que um
sujeito como Adam não poderia ter ido a um Shopping Center? O estrago seria imenso
também. Fica parecendo que a questão não é transformar cada lugar em um forte, uma
barreira intransponível. Sempre existirão brechas. Todos teriam que ser blindados.
Acho que a pergunta que os americanos devem fazer é: “quantos
Adams existem entre nós”? Como identificá-los, como tratá-los? Como prevenir
que venham a produzir dor? Será que eles estão realmente preocupados com isso?
Talvez na correria da vida moderna não exista mais tempo
para prestar maior atenção aos problemas que afetam pessoas que, às vezes, estão
perto demais de nós mesmos.
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