Lula é um mito, é certo. Lula é um político inteligente, é
certo. Mas Lula não é, ao contrário do apregoado por Marta Suplicy, um deus, e
nem um homem acima das leis de seu país.
Lula é um mortal comum, que a curriola
que sempre existe à volta do poder, fez acreditar que era especial demais, a
ponto de ter liberdade para fazer qualquer coisa.
Não é assim que funciona no Estado de Direito. A argumentação
de alguns petistas de alto escalão e assessores próximos a Lula chega a ser
pueril.
Ele fez bons governos? Será que foi tudo o que dizem? Mesmo que tenha
sido, isso não o isenta de suas responsabilidades.
Há acusações contra ele, ele precisa falar. O comportamento
padrão: não sei de nada, fui traído, já desgastou-se. É preciso que fale. É
impossível que ele repita ao modo de José Dirceu: “estou cada vez mais
convencido de minha inocência”. Lula diria: “estou a cada dia mais convencido
de que de nada sei” . Será mesmo?
Gutenberg J.
EDITORIAL DO ESTADÃO
Lula deve, sim, explicações
15 de dezembro de 2012
O Estado de S.Paulo
Pelo mais elementar bom senso, a vítima de acusações
caluniosas é sempre a principal interessada na imediata e rigorosa apuração das
maquinações que a atingem, para que a verdade cristalina venha à tona,
eliminando qualquer resquício de dúvida sobre uma reputação ilibada. Por que,
então, diante da torrente de denúncias que têm colocado a reverenciada figura
de Luiz Inácio Lula da Silva na berlinda, ele próprio e o PT têm preferido
atacar a se defender, esforçando-se para desqualificar liminarmente os acusadores
e as acusações?
Por que a presidente Dilma Rousseff, que vinha primando por
manter prudente distância do mar de sujeira que ameaça o lulopetismo, decidiu
agora mobilizar o governo na tentativa de blindar seu padrinho? Por que não
exigem, todos, que se abra rapidamente uma investigação oficial do Ministério
Público que coloque em pratos limpos toda essa infamante campanha articulada
pelas forças do mal para destruir Lula e o PT? Afinal, quem não deve não teme.
Mas a verdade, e é por isso que o lulopetismo anda batendo
cabeça em evidente sintoma de pânico, é que Lula deve, sim. Deve, pelo menos,
muitas explicações à Nação.
Muitos preferem não ver, outros não conseguem, mas o
desapreço do Grande Chefe por aquilo que os petistas ideológicos chamam de
"moral burguesa" é marca registrada de seu comportamento. Até mesmo
como chefe de governo, Lula deu claras demonstrações desse desvio de conduta
nas várias oportunidades em que, ao longo de seus dois mandatos, não hesitou em
tratar publicamente com indulgência ou com inconveniente deboche os
companheiros "aloprados" pegos com a boca na botija.
E despediu-se da Presidência demonstrando em grande estilo
como se sente "mais igual" do que todo mundo, ao ordenar ao
obsequioso chanceler Celso Amorim que, ao arrepio da lei, distribuísse
passaportes diplomáticos para toda a sua prole. E logo depois, já como
ex-presidente, "a convite" do então ministro da Defesa, foi
refestelar-se às expensas do agradecido povo brasileiro em dependências do
Exército nas praias do Guarujá. Comportamento típico de quem se considera
todo-poderoso, acima do bem e do mal. Não exatamente de alguém que, como
apregoam seus acólitos, ostenta "reputação ilibada".
Lula, portanto, deve realmente muitas explicações ao País.
Mas prefere, com o apoio da habitual corte de bajuladores e beneficiários de
sua liderança, fazer aquilo em que ele próprio e o PT são craques: atacar.
A estratégia para blindá-lo está se desenvolvendo em vários
planos: no comando do partido, na base aliada e nos quadros governamentais, por
decisão, até certo ponto surpreendente, de Dilma Rousseff. Vários ministros já
procuraram jornalistas para protestar contra a "falsidade
impressionante" das denúncias que envolvem o Grande Chefe.
A direção nacional do PT, por sua vez, divulgou mais uma
nota oficial, desta vez conclamando a militância, parlamentares e governadores
a "expressarem sua indignação diante de mais esse ataque, essa sucessão de
mentiras envelhecidas que a mídia conservadora, com setores do Ministério
Público, insiste em continuar veiculando".
Como de hábito em manifestações de autoria de Rui Falcão,
boa parte da nota, e do depoimento gravado veiculado pelo site oficial do PT,
dedica-se a atacar a imprensa, porque dá ouvidos às mentiras de "um
condenado". Para o PT, definitivamente, Marcos Valério não está entre os
condenados injustamente pelo STF.
Na base aliada, além do notório José Sarney, para quem Lula
está acima de qualquer suspeita, agora Fernando Collor - logo quem! -, dá uma
mãozinha, como presidente da Comissão de Controle das Atividades de
Inteligência do Congresso, ao fogo de encontro solicitado pelo líder petista na
Câmara, Jilmar Tatto: propôs o convite a FHC e ao procurador-geral Roberto
Gurgel para deporem sobre supostas irregularidades cometidas, no passado, sob
suas respectivas responsabilidades. Como explicou Tatto, "se eles querem
guerra, vão ter".
Não há dúvida. Pela primeira vez, desde que chegou ao
governo em 2003, Lula sentiu um golpe. Pela primeira vez teme as consequências
dos seus atos.
Esta história está apenas começando.
IMAGEM DE LULA:
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