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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

BOM MESMO ERA O PT QUE NUNCA EXISTIU. O jornalista Mino Carta derrapa na maionese e tem saudade de um partido socialista imaginário, utópico. Que romântico.



Desde as grandes agitações trabalhistas no ABC, berço do PT, muita gente atribui a Lula a paternidade exclusiva do partido. Assim o faz, também, Mino Carta no texto reproduzido a seguir. Ele acaba se esquecendo de todo o trabalho realizado pela esquerda católica, não marxista, das comunidades eclesiais, o que facilitou o surgimento do mito messiânico de Lula.

Foi o “povo da Igreja” que deu sustentáculo ao “povo do PT”, especialmente a Lula, o redentor do Brasil, desde as andanças das Caravanas da Cidadania. Há algo mais próximo do messiânico que isso?

Mino Carta acredita em uma pureza original do PT, algo que estimo rousseauniano, como se um partido, uma entidade, algo abstrato, fosse originalmente puro,  imune ao meio em que vive. Um partido é um todo composto de partes; no caso, as partes são os indivíduos, com todas as suas idiossincrasias. Impossível a Ética em estado puro, e do lado, apenas, dos petistas.

O aspecto religioso do PT se manifesta, exatamente, por conta dessa absurda exclusividade imaginada: "nós" X "eles" .Nós, os puros; eles, os impuros. Daí resulta que, até agora, pegos com as calças na mãos, com a boca na botija, dólares na cueca, ou a mão na merda, os petistas sempre se dizem inocentes, perseguidos, injustiçados. 

Em situações semelhantes, mas quando acusavam os outros de coisas parecidas, eles eram os anjos do Bem. Acostumaram-se no papel de estilingue.

Não creio nessa pureza, nessa singeleza em que acredita Mino Carta quanto ao PT. Nunca foi um partido realmente democrático, republicano, crente do Estado de Direito. Basta estudar um pouco as posições do partido desde a Constituinte. Um partido que busca a hegemonia não esconde sua natureza autoritária e, até, totalitária.

É interessante ler Carta esbravejando, supostamente surpreso com o malfeitos, as traquinagens, as peraltices, as aloprações dos companheiros (é isso que fazem os petistas, né? Nunca cometem crimes). Isso significa que, se houver um expurgo no partido (ai como isso lembra Stálin!) então tudo voltará aos eixos, e o Brasil poderá, finalmente, ser salvo pelos predestinados.

Mas os bravos, comandados por Falcão, não querem nem expulsar quadrilheiros corruptos condenados pela Justiça!

Me engana, que eu gosto.

De qualquer modo, leiam o texto de Mino Carta, sempre há alguma lição a tirar.

Gutenberg J.       
  
*****
 A TRAIÇÃO DO PT 


Mino Carta
Carta Capital Editorial
30.11.2012 

Dizia um velho e caro amigo que a corrupção é igual à graxa das engrenagens: nas doses medidas põe o engenho a funcionar, quando é demais o emperra de vez. Falava com algum cinismo e muita ironia. Está claro que a corrupção é inaceitável in limine, mas, em matéria, no Brasil passamos da conta.

Permito-me outra comparação. A corrupção à brasileira é como o solo de Roma: basta cavar um pouco e descobrimos ruínas. No caso de Roma, antigos, gloriosos testemunhos de uma grande civilização. Infelizmente, o terreno da política nativa esconde outro gênero de ruínas, mostra as entranhas de uma forma de patrimonialismo elevado à enésima potência.

A deliberada confusão entre público e privado vem de longe na terra da casa-grande e da senzala e é doloroso verificar que, se o País cresce, o equívoco fatal se acentua. A corrupção cresce com ele. Mais doloroso ainda é que as provas da contaminação até os escalões inferiores da administração governamental confirmem o triste destino do PT. No poder, porta-se como os demais, nos quais a mazela é implacável tradição.


Assisti ao nascimento do Partido dos Trabalhadores ainda à sombra da ditadura. Vinha de uma ideia de Luiz Inácio da Silva, dito Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo até ser alvejado por uma chamada lei de segurança nacional. A segurança da casa-grande, obviamente.

Era o PT uma agremiação de nítida ideologia esquerdista. O tempo sugeriu retoques à plataforma inicial e a perspectiva do poder, enfim ao alcance, propôs cautelas e resguardos plausíveis. Mantinha-se, porém, a lisura dos comportamentos, a limpidez das ações. E isso tudo configurava um partido autêntico, ao contrário dos nossos habituais clubes recreativos.

O PT atual perdeu a linha, no sentido mais amplo. Demoliu seu passado honrado. Abandonou-se ao vírus da corrupção, agora a corroê-lo como se dá, desde sempre com absoluta naturalidade, com aqueles que partidos nunca foram. Seu maior líder, ao se tornar simplesmente Lula, fez um bom governo, e com justiça ganhou a condição de presidente mais popular da história do Brasil. Dilma segue-lhe os passos, com personalidade e firmeza. Carta Capital apoia a presidenta, bem como apoiou Lula. Entende, no entanto, que uma intervenção profunda e enérgica se faça necessária PT adentro.

Tempo perdido deitar esperança em relação a alguma mudança positiva em relação ao principal aliado da base governista, o PMDB de Michel Temer e José Sarney. E mesmo ao PDT de Miro Teixeira, o homem da Globo, a qual sempre há de ter um representante no governo, ou nas cercanias. Quanto ao PT, seria preciso recuperar a fé e os ideais perdidos.

Cabe dizer aqui que nunca me filiei ao PT como, de resto, a partido algum. Outro excelente amigo me define como anarcossocialista. De minha parte, considero-me combatente da igualdade, influenciado pelas lições de Antonio Gramsci, donde “meu ceticismo na inteligência e meu otimismo na ação”. Na minha visão, um partido de esquerda adequado ao presente, nosso e do mundo, seria de infinda serventia para este País, e não ouso afirmar social-democrático para que não pensem tucano.

O PT não é o que prometia ser. Foi envolvido antes por oportunistas audaciosos, depois por incompetentes covardes. Neste exato instante a exibição de velhacaria proporcionada pelo relator da CPI do Cachoeira, o deputado petista Odair Cunha, é algo magistral no seu gênero. Leiam nesta edição como se deu que ele entregasse a alma ao demônio da pusilanimidade. Ou ele não acredita mesmo no que faz, ou deveria fazer?

Há heróis indiscutíveis na trajetória da esquerda brasileira, poucos, a bem da sacrossanta verdade factual. No mais, há inúmeros fanfarrões exibicionistas, arrivistas hipócritas e radical-chiques enfatuados. Nem todos pareceram assim de saída, alguns enganaram crédulos e nem tanto. Na hora azada, mostraram a que vieram. E se prestaram a figurar no deprimente espetáculo que o PT proporciona hoje, igualado aos herdeiros traidores do partido do doutor Ulysses, ou do partido do engenheiro Leonel Brizola, obrigados, certamente, a não descansar em paz.

Seria preciso pôr ordem nesta orgia, como recomendaria o Marquês de Sade, sem descurar do fato que algo de sadomasoquista vibra no espetáculo. Não basta mandar para casa este ou aquele funcionário subalterno. Outros hão de ser o rigor, a determinação, a severidade. Para deixar, inclusive, de oferecer de graça munição tão preciosa aos predadores da casa-grande.

TEXTO DE MINO CARTA:
CHARGES SPONHOLZ:

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