O Brasil vive um momento especial, entre a busca da transparência
e da eficácia da Justiça, ou a escuridão e a sordidez das ditaduras. A população,
apesar de abalada pelas revelações sobre o Mensalão e a Operação Porto Seguro,
ainda não digeriu muito bem todas as informações, pois há muitos jornalistas e
veículos aliviando para o lado dos corruptos e dos quadrilheiros.
Mas a ficha cairá. É que as condições da economia ainda
mascaram as bandidagens e os crimes que envolvem o uso do dinheiro público, para alívio dos corruptos.
Se a situação econômica internacional piorar, e quando o
mercado interno chegar ao limite de endividamento, a máquina pública atolar-se
em despesas maiores que a arrecadação, e investidores tirarem dinheiro do Pais,
a situação poderá ficar insustentável.
Com impostos elevados, gastos crescentes, produção
industrial caindo e importações pressionando a Balança Comercial, e a volta da inflação, o Brasil
ficará numa situação perigosa. O governo terá que cortar na própria carne e diminuir
subsídios e a gastança com bolsa e cestas. A população, viciada nas benesses
estatais, protestará, como os indignados espanhóis.
Nesse quadro que se esboça é que se dará a percepção sobre a
Era Lula, ou a Era PT. Um conjunto de peças de propaganda enganosa, uma
felicidade vendida e não entregue. Realidade maquiada. Não é o futuro que
desejo para o Pais, mas creio que seja o que acontecerá. Agüentaremos todos?
Gutenberg J.
*****
Um mês depois de revelado o escândalo, Lula continua fugindo
de perguntas sobre o caso Rose. Logo saberá que é impossível escapar de
quadrilheiras de estimação.
AUGUSTO NUNES
O berreiro dos cardeais, os uivos dos apóstolos, a
choradeira dos devotos, as lamentações das carpideiras ─ nada disso vai
adiantar. Nenhuma espécie de chilique da seita lulopetista impedirá que o
mestre seja obrigado a quebrar a mudez malandra.
Desde 23 de novembro, quando a Operação Porto Seguro tornou
nacionalmente conhecida uma certa Rosemary Noronha, Lula foge de comentários
sobre a quadrilheira de estimação. O silêncio que começou há mais de um mês
pode até estender-se por duas, três semanas. A trégua do Ano Novo ajuda. Mas o
ex-presidente não escapará da hora da verdade.
A menos que todos os jornalistas resolvam perder
definitivamente a voz, o homem que nunca sabe de nada será confrontado com
perguntas e cobranças que exigirão álibis menos bisonhos e respostas mais
criativas. Se repetir, por exemplo, que se sente apunhalado pelas costas, Lula
se arriscará a ouvir de volta uma desmoralizante gargalhada nacional. Se
confirmar que não se surpreendeu com o que houve, como balbuciou em Berlim,
terá de ser menos ambíguo: não se surpreendeu com as gatunagens de Rose, com o
atrevimento do bando, com a eficiência da Polícia Federal ou com o quê?
E AGORA? ROSE VAI SEGURAR A BARRA SOZINHA? |
O colecionador de escândalos já deveria ter aprendido que
nenhuma patifaria de grosso calibre deixa de existir ou fica menor só porque o
protagonista da história finge ignorá-la. Atropelado pelas apurações da PF,
passou as duas primeiras semanas enfurnado no Instituto Lula, de onde só saiu
para uma festa no Rio e uma discurseira para catadores de papel em São Paulo.
Sempre cercado por muros humanos, não concedeu aos repórteres um único segundo
de sua preciosa atenção. Depois, viajou para longe do Brasil e passou uma
semana driblando jornalistas com saídas pelos fundos e escapadas pela cozinha.
Para quê? Para nada.
Se já era de bom tamanho quando partiu, a encrenca ficara um
pouco maior quando voltou. Indiciada pela Polícia Federal, Rosemary Noronha foi
em seguida denunciada pelo Ministério Público por formação de quadrilha,
corrupção passiva, tráfico de influência e falsidade ideológica. Entre os
comparsas incluídos na denúncia figuram os irmãos Paulo Vieira, ex-diretor da
Agência Nacional de Águas (ANA), Rubens Vieira, ex-diretor da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac), e Marcelo Vieira, que vive de expedientes. Os três
bebês de Rosemary são os líderes da máfia dos pareceres técnicos forjados.
Os lucros da organização criminosa aumentaram
extraordinariamente depois do recrutamento da chefe de gabinete do escritório
paulista da Presidência. Rose apresentava-se aos interlocutores conforme o grau
de intimidade. Para os íntimos, era a mulher do Lula. Para o resto, a namorada
do presidente. Nas reuniões com subordinados, declamava o primeiro verso do
hino dos novos-ricos: Aqui tudo é chique. Parecia-lhe especialmente chique a
decoração do escritório na esquina da Paulista com a Augusta. Numa das paredes,
um imenso pôster mostra Lula (com a camisa do Corinthians) batendo um pênalti.
Enquanto esteve acampada na casa da filha Mirele, também
demitida da Anac, Rose pôde contabilizar os estragos causados pela brusca
tempestade. De um dia para o outro, perdeu o emprego oficial, o posto de
primeira-dama oficiosa, o escritório, o salário superior a R$ 10 mil, os amigos
e o namorado. Acabou a vida mansa proporcionada pelos lucros da quadrilha.
Acabaram as viagens internacionais ou mesmo domésticas: excluída das comitivas
presidenciais desde a posse de Dilma Rousseff, agora não pode sequer sonhar com
outro cruzeiro no mar de lhabela, ao som da dupla sertaneja Bruno e Marrone.
Sempre à beira de um ataque de nervos, Rose acha que os
companheiros do PT não lhe estenderam a mão na hora da tormenta. É uma
caixa-preta até aqui de mágoa. Tão perigosa quanto Paulo Vieira, que anda
sondando o Ministério Público sobre as vantagens da delação premiada. Nesta
segunda-feira, a sindicância aberta pelo Planalto para apurar o envolvimento de
funcionários públicos com a quadrilha foi prorrogada por dez dias. Talvez dê em
nada. Mas o processo judicial começou a andar. E o desfecho do julgamento do
mensalão avisou que ninguém mais deve considerar-se condenado à perpétua
impunidade.
Nos escândalos anteriores, havia entre Lula e os meliantes
em ação um comando formado por companheiros ─ que funcionou como um
oportuníssimo airbag na hora do estrondo. Desta vez nâo há intermediários entre
o candidato a inimputável e a turma da delinquente que protege há quase 20
anos. As impressões digitais do ex-presidente estão por toda parte. Foi Lula
quem instalou Rosemary Noronha no gabinete em São Paulo e pediu a Dilma que a
mantivesse no cargo
Foi Lula quem, a pedido de Rose, transformou os irmãos
Vieira em diretores de agências reguladoras. Sem Lula, Rose não se teria
juntado à comitiva presidencial em 23 viagens internacionais. Sem Lula, uma
alpinista social de subúrbio jamais teria feito carreira como traficante de
influência. Era Lula a fonte de poder da quadrilha, que não teria existido sem
ele. Pouco importam os balidos do rebanho, a vassalagem dos governadores ou as
genuflexões de Dilma Rousseff (que conhecia muito bem a representante da
Presidência em São Paulo).
Rose é um caso de polícia criado por Lula. Todos são iguais
perante a lei. Ele que trate de encontrar explicações ─ se é que existe alguma.
Augusto Nunes
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