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sexta-feira, 18 de março de 2011

A FALTA DE VERGONHA E O ALFAIATE. Ou: como os totalitários negam a realidade

Há países que nunca tiveram um certo grau de liberdade que permitisse, aos jornais, críticar figurões da política ou dos negócios, investigar escândalos, ou denunciar aquilo que seja considerado errado ou criminoso. Este poderia ser o caso de muitos países árabes, por falta de uma tradição no uso da liberdade de expressão.

Em outros, onde já houve mais liberdade, e em que esta foi perdida por um golpe de esquerda ou de direita, ou pelo avanço de grupos religiosos radicais, como no Irã, a atividade jornalística fica muito prejudicada. Pode haver uma tentativa de resistência, por parte dos veículos, mas esta será duramente reprimida, de diversos modos como a perseguição pela fiscalização, abertura de processos infundados, atentados contra os bens da empresa, atentados contra os jornalistas. Isso é o que tem acontecido na Rússia onde, devido a uma tradição autoritária (czarista) e totalitária (comunista soviética) os jornalistas que tentam exercer corretamente a profissão viram alvos de criminosos.

Em novembro de 2010 a revista Veja publicou reportagem de Julia Carvalho, "Só quem cala não apanha", sobre a brutalidade com que são tratados jornalistas que tentam trabalhar direito. Há relatos de espancamentos tão violentos que os jornalistas ficaram inutilizados completamente. Nos últimos cinco anos mais de 100 atentados foram cometidos contra jornalistas, na Rússia.

Saída de um regime ditatorial, em que as pessoas chamadas de jornalistas eram apenas aqueles que faziam matérias sobre o que era permitido e conforme a orientação do Partido Comunista, como acontece em Cuba, por exemplo, a Rússia atual, apesar do crescimento econômico e de ficar mais parecida com o restante da Europa em termos materiais, ainda não aprendeu a conviver bem com a liberdade de expressão e com a liberdade de Imprensa.

Como os políticos ou novos ricos empresários não estão acostumados ou não toleram ser criticados ou ter suas falcatruas expostas à Opinião Pública, recorrem a capangas que agem contra a lei e exterminam os críticos. Coisa que acontece com menor intensidade, mas ainda acontece com frequência aqui no Brasil, outro país em que o autoritarismo está no DNA da cultura, desde os tempos do reinado português.

Segundo relata Carvalho, na China há menor problemas com os jornalistas "porque eles raramente ousam enfrentar o aparato repressivo". É mais ou menos isso. De fato, a China vive em regime totalitário desde 1949 (61 anos), e ainda passou pelo Tsunami da Revolução Cultural, o que foi suficiente para quase apagar da mente dos chineses a memória de qualquer liberdade (se é que a tinham no tempo do Império) e não estimular rebeldias.

Além disso, os jornalistas, em regimes totalitários como China, Cuba, Coréia do Norte, e outros, não são de fato jornalistas como seus congêneres europeus (Inglaterra, França. Alemanha, Portugal, Espanha, por exemplo). São pessoas que aprendem técnicas de produção de meios que se parecem com os jornais ocidentais, usam técnicas parecidas de edição, mas apresentam uma diferença crucial: não há implícita a aceitação do contraditório, da investigação de fatos que possam interessar à Opinião Pública porque esta está, exatamente, sujeita a um fluxo unidirecional de informações, isto é, propaganda oficial.

Basta observar o comportamento do Governo, da Imprensa e do povo na comparação do vazamento atômico de Chernobyl, no final da década de 80, com o terremoto e o tsunâmi que abalaram o Japão, provocando danos a usinas atômicas.

No caso de Chernobyl, como o regime socialista é tido como perfeito pelos seus adeptos, seria considerado contraproducente à imagem do regime aceitar os fatos. Assim, as autoridades soviéticas fingiram por alguns dias que nada tinha acontecido, sacrificando dezenas de milhares de cidadãos a curto e longo prazo. A curto, pelo câncer dos expostos à radiação. A longo, porque as crianças que nasceram nos anos 90 tiveram pais expostos à radiação, o que gerou graves e tristes deformações genéticas.

Aqui no Brasil (bem como em boa parte do mundo livre) a população ficou sabendo de Chernobyl bem antes que os cidadãos soviéticos. Nossos jornais trataram aquilo exaustivamente. A imprensa oficial soviética (e era a única que existia) fez silêncio. Como a população abandonada pelas autoridades e sem informações pela Imprensa poderia proteger-se?

Os totalitarismos são expressões reais (representações) de ideologias em que seus seguidores as vêem como tão perfeitas que são os fatos que precisam adaptar-se às idéias ou crenças, e não o contrário. Sobre isso há a observação maravilhosa de Millor Fernandes: "O comunismo é uma espécie de alfaiate que quando a roupa não fica boa faz alterações no cliente".

No Japão, as autoridades agiram de imediato para proteger a população, alimentaram os jornais com informações e o povo estava preparado para agir em caso de eventos como terremotos e tsunâmis. A magnitude dos danos não se deveu ao descaso ou à desinformação, mas às forças naturais. 

Os japoneses e seus líderes, um dia, olharão para trás, com tristeza, mas não com vergonha. 

Já não sei se esse seria o caso dos líderes russos do tempo de Chernobyl. Olhando para trás verão as lágrimas dos familiares dos mortos, e o testemunho vivo de sua arrogância e prepotência espelhado nas Crianças de Chernobyl.

Sentirão vergonha? 
O que eu acho, sinceramente? 
Acho que não. Os totalitários, por mais que errem, é de tal natureza a sua crença e a sua percepção da realidade e da verdade, procurarão colocar a culpa no mundo, que não se adapta à sua ideologia.
Chamem o alfaiate!  

ATENÇÃO, O VÍDEO SOBRE CHERNOBYL TEM IMAGENS FORTES, MAS REAIS.
QUE SEJA VISTO NÃO COMO UMA ARMA DOS POLITICAMENTE CORRETOS QUE CACAREJAM CONTRA O CAPITALISMO E AS LIBERDADES DE QUE DESFRUTAMOS, BEM OU MAL, NO OCIDENTE (QUEREM IGUALÁ-LO AO PROBLEMA JAPONÊS). 
QUE SEJA VISTO COMO UM LIBELO CONTRA OS REGIMES TIRÂNICOS QUE ESCONDEM A REALIDADE DE SEU PRÓPRIO POVO, PREFERINDO VÊ-LO SACRIFICADO EM NOME DA PERFEIÇÃO DE UMA IDÉIA ABSURDA. 
Gutenberg. J,


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