A tal “Primavera Árabe” está começando a mostrar que está mais para pesadelo que para um belo sonho de liberdade democrática, conforme a sua falsa interpretação no Ocidente. A perseguição cruel aos cristãos no Egito, iniciada após a queda do ditador Hosni Mubarack e a implantação da Sharia (lei islâmica) na Líbia, além da execução de prisioneiros kadafistas sem julgamento, e da morte do próprio Muamar Kadafi e de seu filho Mutassin, já deve estar indicando, para muitas autoridades ocidentais a real natureza das tais rebeliões.
Quando a revolta popular começou, no final do ano passado, na Tunísia, a imprensa ocidental registrou os fatos como sendo uma revolta contra a tirania, com aspirações democráticas. Poucos meses após, com a rebelião e os protestos se espalhando por outros países árabes e islâmicos, e ameaçando ditaduras de décadas (Egito, Líbia, Síria, Arábia Saudita, Iêmen) os comentaristas já haviam apelidado o conjunto de rebeliões de “Primavera Árabe”, numa referencia à Primavera de Praga, na crise do bloco socialista europeu.
Os mais exagerados chegaram a usar as expressões “revolução do Facebook” ou “revolução do Twitter”, num evidente deslumbramento com as capacidades mágicas da tecnologia de libertar o homem. Bem que alguém poderia ter dito, também, ser a “revolução do telefone celular”...
Claro que a expansão da tecnologia de comunicação via Internet e redes sociais teve algum papel na velocidade com que os regimes foram postos à prova pelos manifestantes; mas duas coisas foram esquecidas na análise: o papel muito tradicional da religião e das mesquitas, e a implantação de emissoras árabes de TV na região do Norte da África e Oriente Médio, como a Al Jazira, com sede no Qatar.
As notícias difundidas do grupo que controla a Líbia, atualmente, mostram que dentro de duas semanas o país já estará sendo conduzido conforme as leis religiosas islâmicas. Isso terá,certamente, profundas conseqüências na vida de milhões de pessoas. Muitas das ditaduras no norte da África ou no oriente Médio, apesar de detestáveis enquanto ditaduras, por não permitirem a oposição e a liberdade de expressão, haviam adotado um estilo de vida mais ocidentalizado, com muitos direitos garantidos às mulheres, como na Líbia, considerado o pais da região em que as mulheres tinham muitas liberdades, entre elas o direito ao divórcio e ao casamento monogâmico.
O comitê revolucionário adiantou que as leis que tratam do divórcio já estão suspensas e que valerá a Sharia. Isto é, certamente as mulheres começarão a encontrar obstáculos no cotidiano, como as mulheres iranianas após a queda do Xá, quando o aiatolá Khomeini assumiu o poder, no final dos anos 70.
Muitos dos paises árabes têm no islamismo a religião popular, mas não são estados teocráticos. Agora, surge o risco do Egito, Líbia e outros paises serem controlados pelos grupos religiosos tradicionalistas.
Quando começou a rebelião na Líbia, Kadafi alertou sobre a participação da AlQaeda no movimento, em algumas regiões, assim como a Irmandade Islâmica (radical) assumiu o controle da revolta no Egito.
Com o passar dos meses, desde dezembro de 2010, quanto tudo começou na Tunísia,
parte da imprensa ocidental e políticos saudaram as rebeliões como um desejo de combater as ditaduras e uma tentativa de implantar a democracia naqueles países. Este blog nunca acreditou nisso.
A ILUSÃO DAS REDES SOCIAIS
Desde o início também houve um deslumbramento por parecer que Facebook e Twitter haviam levado ao mundo árabe a possibilidade de mobilização e organização da oposição. Creio ser uma leitura extremamente superficial.
Anos antes, em meados da década de 90 os paises árabes passaram a conviver com um absoluta novidade para eles, muito mais impactante, pelo alcance, que as atuais
redes sociais: emissoras de TV árabes transmitindo em árabe.
Ao longo deste tempo, de quase vinte anos, a idéia difusa de um Panarabismo e de uma mudança no mundo árabe, para maior implementação do islamismo foi ganhando corpo. Muitos observadores dizem que a principal responsável pelas mudanças ao longo do tempo foi a TV Al Jazira, sediada no Qatar, um dos paises de regime religioso mais fundamentalista da região. A TV, adotando um modo ocidental de cobertura dos fatos, mas agindo de modo seletivo, conseguiu estimular as pessoas a contestarem as ditaduras não alinhadas ao poder religioso. Essa é a realidade.
Tanto que alguns escritórios da Al Jazira foram fechados em alguns paises, por serem considerados “intrometidos” em questões internas. Assim, jogando com as informações as populações se sensibilizaram para ir às ruas contra os ditadores. Esse trabalho foi acompanhado de perto nos cultos, nas Mesquitas. Assim os religiosos tradicionalistas foram obtendo espaço para fazer política.
Agora, com a derrubada de diversos ditadores (ainda existem outros numa lista) espera-se que a região torne-se mais fechada ao Ocidente, ao contrário do que imaginavam os comentaristas ocidentais há alguns meses. Aumentará o antiamericanismo e o combate a Israel.
Não sei se tudo ocorrerá pacificamente, à medida que milhares perceberem que as coisas poderão ser diferentes do que muitos imaginavam. Claro que muita gente lá queria democracia. Contudo, o que está acontecendo é que com as rebeliões ganhando corpo, e com as reações à brutalidade das ditaduras, como no caso da Síria, mais e mais civis estão se armando com armas de guerra. Isso poderá criar um clima para aventuras e guerras civis.
Isso é um fato, pois o Líbano, tradicional fornecedor –pelo mercado negro – de fuzis AK40 para grupos militantes já não tem muitas armas à disposição dos interessados. Os fuzis russos estão cada vez mais caros.
Otan atacar a Líbia para punir ataques militares a civis desarmados (que não estavam desarmados) meteu-se numa guerra civil tomando um dos lados.
E, ao que parece, contra a real liberdade do pais, mas a favor dos islâmicos radicais. A História ainda nos mostrará a verdade sobre quem é Barack Obama Hussein.
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