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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

MENINA DE 14 ANOS ESTAVA COM ARMA EM ESCOLA DE PRAIA GRANDE (SP). As aventuras de uma pistola 6.35 na terra dos bandeirantes. A arma saiu há mais de dez anos de Casa Branca (SP), e só ela pode contar o que já fez na vida.

"SOU UMA PISTOLA COM A MEMÓRIA MUITO RUIM".
Mas sei que passeei bastante pelo Estado de São Paulo.
Estou na estrada há mais de dez anos, mas posso ser velha, muito velha (ah! o Alzheimer!) 

Sou hoje uma pistola desqualificada e sem nome. Uma pistola vira latas. Vim acabar sem munição na mão de adolescentes aqui em Praia Grande, no Litoral de São Paulo. Nem marca tenho mais (ou ao menos os repórteres que fizeram a matéria não tiveram a menor curiosidade em saber sobre minha família).

Sou Taurus? Sou Mauser? Sou americana, francesa, austríaca, russa, espanhola, brasileira? Acho que perdi a memória. Não me sinto muito bem. Viram o meu estado de manutenção na fotografia? Cabo vagabundo apertado com parafusos de madeira! Que baixaria! Talvez eu não seja mais nem capaz de dar um tiro. 

Mas sou ainda capaz de assustar. Afinal, fui apreendida novamente não? Mas estava sem munição. Que fim de linha. O que eu fazia na mochila de uma menina de 14 anos? Ela ia a alguma festa de fantasia? Um dos policiais disse que talvez não houvesse a intenção de uso!


Coitado, parece que não aprendeu nada. Dois dos adolescentes por quem passei são infratores por roubo e tráfico de drogas! Será que fui usada por um deles?

Tem assaltante que usa até arma de brinquedo, réplica, para assaltar. Na hora "H", quem vai querer saber se a arma atira mesmo, não é? Eu estava sem munição, mas assusto. Será que o policial acha que eu não seria ou não fui usada em Praia Grande? Santa inocência, ou preguiça... Armas ilegais só andam nas mãos de bandidos, ou amigos de bandidos. Aliás, para lembrá-los: andar com arma de fogo é crime.

Soube pelos jornais que eu teria sido dada à menina por outra colega da mesma escola, para esconder. E porque, e para quem elas estariam me escondendo? Além de velha ando meio surda. E eu teria passado pelas mãos de outros dois adolescentes, um com ficha por tráfico de drogas e outro por furto. O que será que andaram aprontando?

Tudo gente boa, certamente. E o que essas pessoas queriam comigo? Assustar criancinhas? Eu seria usada no Halloween? Há famílias bem agitadas das quais adoro participar como visita eventual. Desde que deixei Casa Branca assumi um lado mau, perverso. Não me  lembro direito, mas se não fosse assim, como eu estaria com tantas cicatrizes? Se tivesse ficado em uma gaveta  estaria novinha. Sinto-me verdadeira out-law, acho que passei a gostar de assustar pessoas.  

Na verdade, sou órfã de meu primeiro pai, que não me  quis mais e me doou para a Polícia. Eu, pelo que sei, deveria ter sido destruída, ou enviada ao Exército. Fico pensando, o que fariam no Exército com uma arma de calibre 6,35, uma pistola de mulher? Isso não é arma militar, de modo algum.

Esses idiotas fazem campanhas de desarmamento, as pessoas entregam suas armas e cá estamos nós aqui, novamente. Será que fui usada em assaltos nesses anos em que fugi da delegacia (Ou fui roubada? Ou fui vendida?). Será que servi para matar alguém? Não sinto remorsos, pois perdi a memória.

Porque as autoridades não dão uma marretada na gente quando nos recebem nas tais campanhas e nos inutilizam? Ficarei, para sempre, com essa dúvida na consciência. Que  gente mais incompetente. 

Se era para ter sido enviada (mistério! os repórteres mais uma vez não foram capazes de contar o procedimento correto) ao Exército, porque não fui? Longos caminhos burocráticos. Corrupção. Comércio clandestino de armas. Caminhos tortuosos.

Centenas de armas apreendidas ou doadas nas campanhas voltam para as mãos de criminosos. Saem das mãos de gente honesta (onde estavam bem protegidas)  e chegam ao crime, onde só provocam desgraças. Como isso pode acontecer? Em quem confiar?

Talvez eu tenha servido a muitos criminosos depois que sai das mãos de meu dono legal e original. Naquele tempo talvez eu descansasse em uma gaveta ou dentro de um armário, sem oferecer risco a ninguém. Apenas pronta para proteger a minha casa, ou minha loja, ou meu dono. Não sei mais.

Mas os tontos fizeram uma  campanha e meu dono, enjoado de mim, ou para parecer bonitinho deve ter feito a doação. Posso ter sido utilizada para tantos crimes..., Tanta violência. Quem sabe? 

Só sei que não sei quem sou, apenas uma pistola velha e presa novamente, nesse eterno vai-e-vem. Quanta burocracia. Porque não me condenam à morte logo? Uma marretada só e ficaria destruída, sem correr o risco de voltar às ruas ou ser usada por uma criança contra uma professora, por exemplo, ou num assalto na esquina.

Que País de gente mais incompetente!

Acho que estou com Alzheimer, não lembro mais da loja onde fui vendida e nem do meu primeiro dono. Sou uma pistola que antigamente era do tipo chamado de "dama". Era usada em bolsa feminina para auto-defesa e cabia na palma de uma mão. Sou pequena, mas posso fazer algum estrago.

Mas sobre os estragos que possa ter feito, em todos esses anos, não me lembro mais. Que memória, ou que distração. Aqui novamente os repórteres não ajudaram, pois ninguém foi capaz de perguntar aos policiais qual a capacidade do meu pente, que estava vazio. Cinco, ou seis balas? Detalhes que não importam? Sempre imaginei que jornalismo fosse informar mais precisamente.

Fui  encontrada com uma adolescente de 14 anos na quarta-feira, dia 28 de setembro, em Praia Grande, no litoral paulista, há 70 km de São Paulo. Mas fui recolhida de um terreno baldio há 10 anos em São João da Boa Vista, 230 km de São Paulo, no leste do estado, vizinho de Minas Gerais.

Tenho a vaga lembrança de ter morado e ter sido registrada em Casa Branca (uns 200 km de Sã Paulo, perto de SJ Boa Vista), mas não sei quando. Um dia fui doada em uma campanha do desarmamento. Não lembro direito (o Alzheimer!) 

O delegado que investiga o caso, Douglas Borguez, informou que ao consultar a numeração da arma constatou que a pistola calibre 6.35 foi entregue em uma campanha de desarmamento na cidade. Apesar disso, a delegada seccional de São João, Ana Valéria Gabricho, contestou a informação. Segundo ela, a pistola foi encontrada em um matagal pela Polícia Militar de São João da Boa Vista, em 2001, foi encaminhada para a Polícia Civil em São Paulo e enviada para o Exército.

Sabe-se lá qual a verdade. Essa gente toda parece tão desinformada.

Talvez eu tenha feito outras aventuras pelo Estado, no norte, na noroeste, no Pontal do Paranapanema. Como perdi a memória, fico viajando na imaginação, tentando lembrar por onde andei e o que fiz, ou fizeram comigo...

Como vim parar na Praia Grande? Só Deus sabe. 

PS. 
ESTE BLOG É CONTRA O DESARMAMENTO CIVIL.
Armas legalizadas guardadas corretamente não causam danos.
O crime usa armas ilegais.     

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