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terça-feira, 11 de outubro de 2011

FAMÍLIA DE VITOR GURMAN CONTESTA LAUDO DA POLÍCIA. Não se trata de uma disputa por uma velocidade apenas, afinal Vitor está morto, mas da busca da verdade dos fatos.



RUA NATINGUI, VILA MADALENA, 30 KM/H.
A família de Vitor Gurman não concorda com o resultado do laudo emitido pela Policia Técnica de São Paulo que indica que o Land Rover (Range Rover), que matou o rapaz há pouco mais de dois meses na rua Natingui, Vila Madalena, trafegava a 57 km/h. A perícia particular contratada pela família de Vitor indica que o carro estava a 72 km/h no momento do atropelamento. Mas andava a 90 km/h antes de iniciar uma freada. No local é proibido trafegar a mais de 30 km/h!

Os advogados de defesa da motorista que atropelou Vitor também contratarão outra perícia. Claro, a família da vitima acha a velocidade de 57 km/h apontada pela polícia baixa demais. A defesa da motorista acha os  57 km/h uma velocidade alta demais. Com o devido respeito, mas fico pensando o que Vitor acharia disto tudo, ele que está morto. Se Gabriella, a motorista, dirigisse a 20 km/h e tivesse matado Vitor ele estaria menos morto? Ou sua família menos infeliz?

Sou apenas um leitor. Um observador dos fatos e mero curioso, leitor de Mistério Magazine (Ellery Queen) e contos policiais. Sei alguma coisa sobre Física e sobre inércia e atrito.

Também sei que um Land Rover (Range Rover) é um utilitário que pesa duas toneladas ou mais (o de Roberto era blindado, mais pesado ainda). E li que após tombar sobre o lado esquerdo o veículo se arrastou entre 20 e 30 metros. Eis aí uma bela equação. A quanto estava trafegando o Land Rover? A menos que os 57 km/h certamente não teria se atritado tanto com o asfalto.

Como a vida é cheia de ironias e surpresas, fica parecendo que esticar ou encolher a velocidade vai trazer Vitor Gurman de volta. Não vai. Ele morreu. Mas, para a família, trata-se de uma questão de Justiça determinar a velocidade correta, para que a Justiça seja feita do modo mais correto possível.

Claro que para a motorista vale o mesmo raciocínio, mas vai ser difícil provar que o gigantesco Land Rover andava vagarosamente. Mesmo porque há os vídeos, as marcas no chão, o estado geral do veículo. E a marguerita que Gabriella disse haver ingerido antes de guiar no lugar de seu namorado que estava, segundo ela, muito alcoolizado.        

Vitor Gurman morreu porque ficou entre um muro e um Land Rover apressado que se desgovernou. O jovem administrador, de 24 anos, morreu cinco dias após o acidente. Na ocasião a imprensa divulgou especulações sobre a velocidade do carro, que seria perto de 150 quilômetros horários.

O veículo pertence ao engenheiro Roberto de Souza Lima e era dirigido, segundo Gabriella Guerrero, por ela mesma, namorada de Roberto. Na ocasião houve até alguma dúvida sobre quem de fato estaria dirigindo:se Roberto, muito alcoolizado, ou Gabriella que disse, depois, à policia haver tomado apenas uma marguerita.

Uma perícia particular, contratada pela família de Vitor Gurman contesta o laudo oficial sobre a velocidade do jipe Land Rover que atropelou o jovem, em julho deste ano, na rua Natingui. Vitor Gurman foi atropelado na madrugada de sábado na Vila Madalena, quando voltava a pé para a sua casa.

De acordo com reportagem da Globo veiculada neste domingo (9) no programa "Fantástico", a perícia particular apontou que o jipe dirigido pela nutricionista Gabriella Guerrero Pereira trafegava a 90 km/h a 45 metros de onde ocorreu o acidente e estava a, no mínimo, 72 km/h no trecho do atropelamento.

Segundo o laudo oficial, do IC (Instituto de Criminalística), o jipe estava a 57 km/h no local do acidente. Na via, o limite de velocidade é de 30 km/h. O laudo particular foi feito pelo perito Ricardo Molina, segundo Alexandre Venturini, advogado da família Gurman. Para o resultado, o perito analisou outras imagens, de outro vídeo, que não foi usado pelo IC para a produção do laudo oficial.

"Nós vamos postular, sim, que seja feito um complemento do laudo pelo Instituto de Criminalística", disse Venturini. Para o advogado, o documento oficial é "incompleto e impreciso".

O advogado José Luis Oliveira Lima, que defende a nutricionista, disse que também está contratando laudo particular a respeito da velocidade do veículo.

Gabriella foi indiciada sob suspeita de homicídio doloso. A nutricionista afirma que assumiu o volante porque seu namorado, o engenheiro Roberto de Souza Lima, 34, dono do carro, não tinha condições de dirigir.

O veículo acumulava 26 multas --dez delas por excesso de velocidade-- registradas entre 23 de dezembro de 2010 e 14 de maio de 2011.



No dia dois de agosto publiquei este texto:


EXCETO DEUS E O LAND ROVER, QUEM REALMENTE MATOU VITOR GURMAN? ELE OU ELA?

Costumo dizer aos alunos, perguntar não ofende. Certamente a pergunta será respondida de forma definitiva e tranquila pela Polícia Técnica.

Por enquanto temos uma pessoa que afirma que dirigia o gigantesco utilitário inglês que atropelou Vitor Gurman, mandando-o, primeiro em estado grave, para o hospital, depois, lamentavelmente, para a morte.

Uma tragédia para a família de Vitor, um rapaz recém formado em administração e cheio de projetos e vontade de aprender, pelo que se lê em seu currículo. Um sério problema para a família de Gabriella Guerrero Pereira, 28 anos, nutricionista, ora indiciada por homicídio doloso.

Outro problema para Roberto de Souza Lima, dono do utilitário Land Rover (Range Rover), pois uma testemunha disse à polícia que ele, e não Gabriella, poderia estar ao volante.

Bem, as pessoas postam comentários nos blogs, nos sites de notícias e dizem muitas coisas. Muitas são ofensivas e sem nexo. É como se quisessem decidir a culpa por plebiscito. Isso nunca interessa à Justiça e nem aos envolvidos. Precisamos saber a verdade.

O caso da lamentável morte de Vitor Gurman me trouxe à tona a história de Galileu Galilei. Todos acreditavam em seu tempo que a Terra era plana, e ele que a Terra era esférica e não era o centro do sistema solar e nem do Universo.

Pois bem, contra todos, Galileu é que estava certo. Assim, desde que conheci a história de Galileu, ainda garoto, sempre me precavi contra as verdades absolutas e, principalmente, contra as unanimidades. Mais tarde também conheci Nelson Rodrigues, que costumava dizer: "toda a unanimidade é burra".

O que isso tem com a morte de Vitor Gurman?

Bem, hoje (terça, 2 de agosto) uma jornalista chamada Ingrid Basílio procurou a Polícia e apresentou-se como testemunha do acidente. Ela contou que mora diante do local onde tudo aconteceu. Segundo seu relato à Polícia e à imprensa, ela ouviu o barulho e olhou pela janela, vendo o Land Rover tombado na rua.

Desceu para ajudar e contou que viu Roberto por baixo e Gabriella por cima. O veículo tombou sobre o lado esquerdo, o lado do volante. A conclusão de Ingrid é que então o motorista era ele e não Gabriella.

Questionada porque não havia falado nada antes ela respondeu à imprensa que no dia do acidente deu seu nome como testemunha, mas que ainda não havia sido chamada. Como passou uma semana e nada, ela resolveu apresentar-se para tentar ajudar a esclarecer os fatos. Foi ouvida pela Polícia.

Como a vida é cheia de surpresas e reviravoltas, na terça, também, mais tarde, outra testemunha se apresentou, negou-se a se identificar aos jornalistas, mas disse à polícia ser vendedor e que teria socorrido os dois quando o veículo estava tombado, no dia do atropelamento de Vitor. Segundo ele, era ela que dirigia o veículo. Ele tirou Roberto do carro e depois ajudou a soltar o cinto de Gabriella.

Descobrir a verdade é tarefa da polícia, afinal quem dirigia será indiciado por homicídio doloso, conforme o delegado responsável pelo caso, Manoel Adamuz.

VÍDEO DO TERRA TV

Ocorre que, pesquisando as matérias na Internet, em um vídeo gravado pelo Terra TV (site Terra), provavelmente no dia seguinte ao acidente (domingo) uma repórter entrevista uma testemunha, Pedro Rodrigues, um senhor de cabeça branca, que comenta (está no vídeo) que a moça parecia estar meio nervosa e repetiu algumas vezes  "eu que estava dirigindo", "eu que estava dirigindo". Diz o senhor Pedro: "Talvez para proteger o namorado". Pelo visto o senhor Pedro chegou a imaginar a possibilidade de o rapaz estar dirigindo bêbado. 

Pois é senhores. Nós todos não vimos nada. Vimos um breve vídeo de uma câmara de segurança de uma loja em que um homem (Vitor) atravessa a rua rapidamente sobre a faixa. Pára um carro. Logo em seguida passa o Range Rover. Frações de segundo em seguida há o atropelamento, que a câmara não mostra. Param dois veículos, etc...

Vídeos e fotos não são a realidade, são representações da realidade, indicadores. Testemunhos são diferentes.

Bem. Pedro Rodrigues parece ter dúvidas sobre quem guiava. Dias após o acidente, com Vitor internadosurge a informação: o veículo tem 26 multas em menos de seis meses, dez delas por excesso de velocidade!

A defesa de Gabriella diz que a informação é que o carro é dirigido por diversas pessoas da empresa do engenheiro Roberto, etc. Isto é, poderia não ter sido sempre o dono, Roberto, a cometer as infrações. É possível.

Bem, especulativamente, se o dono estivesse dirigindo, bastante embriagado, conforme a informação de Gabriella, com o atropelamento, e a Lei Seca tornando crime guiar alcoolizado, seria complicação séria para ele. E, no momento seguinte, quando a ambulância levou Vitor, ele estava vivo. Seria um atropelamento sem mais consequências (menos complicado que uma morte, certamente). O próprio delegado chegou, de início, a falar em lesão corporal culposa.

AS SURPRESAS DA VIDA

Mas, como sempre digo, a vida é cheia de surpresas, algumas tristes e lamentáveis, como a morte de Vitor. De lesão corporal culposa para homicídio doloso foi um passo. Mesmo antes da morte de Vitor o delegado havia decidido mudar o indiciamento, diante da informação do IML, segundo a Imprensa, de que Gabriella também teria ingerido álcool (mesmo não estando embriagada). Segundo ela mesmo contou à imprensa, tomou apenas uma Marguerita em um bar no Itaim Bibi.

Ela poderia ter pretendido proteger o namorado? Sim, é humano. Ela poderia imaginar naquela hora a morte de Vitor? Talvez não na hora do acidente, com o nervosismo e a emoção diante dos fatos. Essa é uma questão que caberá à polícia responder. Imaginem a situação se houver o indiciamento e a condenação da pessoa erradaHaja amor.

Todavia, Gabriella disse, diversas vezes à imprensa, que ela é que estava dirigindo, uma vez que sabia que Roberto iria beber bastante. E essa pode ser mesmo a verdade. Mas a verdade estará realmente completa quando o laudo da Polícia Técnica indicar a real velocidade do veículo em uma rua limitada a 30 km por hora.

Um lembrete: um Range Rover tem cinco metros de comprimento, pesa mais de 2 toneladas na versão normal (blindado deve pesar mais ainda) e tem dois metros de altura. O carro estava bastante danificado. As fotos mostram isso.

O DISCURSO DE VITOR GURMAN.

No caso do jogador de futebol Rafael Silva e Anaí (a garota que caiu de 50 metros de altura) tratei das raízes da cultura, a morte, o azar e a sorte.

Vejam o caso de Gurman. Em uma formatura, no final do ano passado, ele falou para a turma, provocando emoções, de um colega morto em um acidente de carro. O rapaz parece ter morrido em consequência de um acidente de automóvel, por dirigir embriagado.

Isso parece ter sido uma grande lição e um alerta para Vitor Gurman. Jovem, sim, 24 anos, mas cauteloso, prudente. Quis repassar a lição aos colegas. Eu não o conheci. Mas o admiro, pela atitude.

Usou a morte do amigo da turma para alertar os colegas: não bebam quando dirigirem. É perigoso. Uma bela lição para um jovem.

Voltando à sorte e ao azar: Vitor Gurman, na madrugada de sábado, quando foi atropelado, voltava de uma festa a pé.

Havia bebido um pouco. Por isso voltava a pé para casa. Jovem responsável e íntegro, aprendeu a lição do amigo morto. Quis agir direito. Quis preservar a própria vida e a de outras pessoas, certamente.

Morreu atropelado por alguém que perdeu o controle do veículo. Talvez pela dosagem alcóolica.

Quanta ironia!

Às vezes penso, diante de casos assim, que é difícil acreditar (mas como não acreditar?) que Deus escreve o certo por linhas tortas.

Que Vitor Gurman descanse em paz.

E que a verdade deste caso realmente seja revelada.

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