A cruel ditadura de Assad será deixada em paz pela Otan * |
Mandou as forças armadas cuidarem das diversas cidades, ao norte, fontes dos protestos, antes que os mesmos pudessem ganhar mais força e chegar a Damasco. Milhares de pessoas fugiram da Síria para a Turquia, para escapar à violência das lutas, da prisão e da morte.
Como o presidente Barack Obama Hussein, por algum motivo ainda misterioso para mim, implicou apenas com a Líbia, mandando que força da Otan atacassem as forças de Muamar Kadafi, que estariam massacrando civis líbios desarmados (o que não era toda a verdade!) e deixou a Síria em paz, o ditador Assad aproveitou para limpar o terreno. Creio que não teremos outra ação das forças da Otan contra a morte de civis desarmados, desta vez os sírios. Os sírios que se lixem, ou resolvam suas diferenças internas. Talvez Obama não tenha pretendido provocar o regime iraniano, aliado de Assad.
No caso dos ataques à Líbia, de fato, a queda de Kadafi favoreceu as pretensões hegemônicas do Irã na região. Os aiatolás devem ter rezado muito a Alá por estes dias em agradecimento ao trabalho de Barack Obama. Os americanos e os europeus gastaram bilhões de dólares. O Irã economizou um bocado e ainda ganhou de presente a queda de Muamar Kadafi. Ninguém me convencerá do contrário.
Desde o início da tal Primavera Árabe, em dezembro de 2010, desconfiei de que os árabes pudessem estar, assim, tão animados com a perspectiva da Democracia. Afinal, nunca soube de um país árabe democrático. No norte da África, ou no Oriente Médio, os árabes vivem em regimes monárquicos tirânicos, ou repúblicas governadas por ditadores. Desse modo, o termo Primavera Árabe, embora poético e sugestivo, sempre foi, para mim, apenas poesia mesmo.
Quando dezenas de milhares foram às ruas em Túnis, ou foram à Praça Tahir, no Cairo, pedir o fim das ditaduras, sempre imaginei como seria difícil saber, de fato, o motivo real de cada um estar ali protestando.
Uma reunião de cem mil pessoas pode ser muito ilusória para o observador; no caso da Primavera Árabe mais ilusória, ainda, para observadores ocidentais.
Bashar al-Assad herdou o regime de seu pai. Governa apoiado no poder do Partido Baath (que se diz socialista - até manteve um tratado com o PT aqui no Brasil, por alguns anos). Na verdade é um partido inspirado pelas ideias pan-arabistas inspiradas, por sua vez, no pan-germanismo nazista. É um partido supranacional.
Sabe-se que a repressão na Síria, país de 25 milhões de habitantes, é duríssima. Há mais de dez mil presos políticos, e estima-se que perto de 400 mil pessoas façam parte de uma rede de espionagem pró-governo. Com tudo isso, os opositores foram á rua protestar.
Voltando, então, aos cem mil em uma praça pública. Por que convergem? Porque protestam contra a ditadura? Como divergem? Porque cada um tem seus motivos. Cem mil pessoas não são uma massa sólida, coesa. Há muitas nuances.
Uns protestam porque tiveram familiares presos e perseguidos, torturados ou mortos. Outros protestam devido à situação econômica da Síria, à inflação, ao desemprego. Outros porque imaginam, talvez, viver um dias sob um regime democrático ao estilo liberal; outros porque gostariam de ver a Síria sob a Sharia e governada por aiatolás islâmicos. Outros, socialistas, gostariam de fazer uma outra Cuba, por exemplo. Assim, cem mil pessoas provocam uma falsa ilusão de coerência e força. Num momento estão unidos, no seguinte poderão estar se matando devido à diferença de propósitos, ideias e metas.
Foi por isso que nunca me iludi com a Primavera Árabe. Vejam que a situação dos países que tiveram as suas ditaduras terminadas está imprecisa e insegura. Ainda veremos muito sangue correr em diversos países,um deles é a Líbia.
Creio que, no fundo, os alimentadores das ondas de revoltas foram os islâmicos radicais, jogando silenciosamente com a insatisfação popular variada em cada um dos países. Tudo isso apoiado nas matérias e reportagens feitas pelas modernas Tvs árabes comoAl Jazira e Al Arabia. Com o sutil trabalho de fundo feito nas mesquitas. Observem, os caros leitores, que dificilmente teremos um regime democrático nascido dessa suposta Primavera.
Com isso, embora o regime de Damasco possa ter ficado preocupado com a insegurança gerada pelos protestos, ainda é um bom aliado do Irã e poderá aguentar-se mais um pouco no Poder. Sendo um bom aliado do Irã é, por extensão, amigo de Barack Obama, por mais que este finja esbravejar.
* Photo : Reuters / Benoit Tessier)
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