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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

EUGENIO BUCCI, PROFESSOR DE JORNALISMO DA ECA-USP E DA ESPM ESCORREGA NA BANANA E PISA NA VERDADE HISTÓRICA. É com aqueles títulos que ele assina, no Estadão, um texto com inverdades históricas sobre o PT, a pretexto de tratar dos escândalos que atingem a tal estrela branca.



Para azar do professor Eugenio Bucci, muita gente no Brasil, mais velha que ele, sabe muito bem como as coisas acontecerem à época do fim da ditadura militar. Eu mesmo, sexagenário, posso dizer que, ao ler o texto do professor universitário de Jornalismo, fiquei pensando em escrever alguma coisa a respeito do que ele afirmou sobre a importânca do PT na implantação da Democracia. 

Qualquer petista militante àquele tempo sabe que o PT foi sempre do contra. Isso está registrado nas matérias da imprensa. O quadro que Bucci pintou sobre a redemocratização é verdadeiro como uma nota de 3 reais. 

Não é muito diferente daquela polêmica fotografia que foi utilizada na campanha de Dilma que a colocava em uma marcha pela redemocratização, em meio a artistas, no Rio de Janeiro. 

MONTAGEM FAZIA PARECER QUE DILMA ESTEVE LÁ, EM 68

FOTO INTEGRAL ORIGINAL. NORMA E AS ARTISTAS DE CINEMA E TEATRO
Mas a foto também era tão verdadeira como uma nota de 3 reais. Aliás, a fotografia, a bem da verdade, era absolutamente verdadeira. Apenas a pessoa indicada como Dilma Rousseff jovem (no meio da montagem) é que era a grande artista Norma Bengell. A foto com as artistas foi feita em 1968, durante a passeata dos cem mil, no Rio de Janeiro. 

O corte da foto separando a cabeça de Norma e a colocando entre Dilma criança e Dilma candidata não foi inocência. O corte de cabelo e um certo jeito, de fato, poderiam confundir incautos. Era preciso colocar Dilma nas passeatas em que nunca esteve. Reescrever a história.

Naquele tempo Dilma Rousseff não participava de passeatas pela redemocratização, tinha outras coisas para fazer. Ela e seus amigos haviam tentado, anos antes, pela luta armada, derrubar a ditadura militar e implantar uma ditadura comunista no Brasi. Fato público e notório.

Foi assim que acabei preferindo pesquisar os comentários dos leitores do Estadão, ler comentários é algo muito interessante. Há os de leitores atentos e, sempre, os infiltrados a serviço dos petralhas, para defender o partido ou ofender adversários. Mas este é outro assunto.

Há tantos comentários bons e verdadeiros. Escolhi três, por coincidência em sequência, que reproduzi abaixo.

Os três leitores também não concordaram com Bucci quanto a reescrever a História.

O primeiro é de Hélio Duque, ex-deputado federal pelo Paraná, mais longo, e mais preciso em termos de referências; o segundo é da leitora  Leila Leitão, uma leitora atenta; o terceiro da leitora Mara Montezuma Assaf, muito bem desenvolvido, embora sintético.

Que os estudantes de Jornalismo, em geral, da Eca-USP, da ESPM, da PUC, da Cásper Líbero, e de outras escolas de Jornalismo pelo Brasil, leiam com atenção e reflitam sobre como o passado é mostrado...em cursos de Jornalismo!

GJ


O inferno astral da estrela branca

29 de novembro de 2012 | 2h 06

Eugênio Bucci

Uma estrela branca, de cinco pontas, sobre fundo vermelho. Vermelho bombeiro. Vermelho Coca-Cola. Vermelho do Boi Garantido. Vermelho bolchevique. Vermelho total. Uma estrela branca emoldurada de vermelho.

Convenhamos, não era um símbolo que primasse pela originalidade ou pela ousadia. Não era inusitado, não era inventivo, era apenas óbvio. Mesmo assim, foi ele que vingou. Na falta de um logotipo mais profissional, mais publicitário (a indústria do marketing só chegaria mais tarde àquelas plagas), foi esse o símbolo adotado pelo Partido dos Trabalhadores, o PT, bem no seu início, no começo dos anos 80: uma estrela branca, banal, sobre fundo vermelho.

Diz a lenda que quem costurou a primeira bandeira do partido foi dona Marisa Letícia, em pessoa, a mulher do líder metalúrgico de cognome Lula, astro maior do partido da estrela. Desde então, a marca do PT ficou inscrita no DNA da democracia que sobreveio à ditadura militar no Brasil. Não dá para entender o Brasil de hoje sem entender o PT e sua estrela. O PT é um dos construtores, se não o principal, do Estado de Direito em que hoje vivemos por aqui. A começar da derrubada da ditadura.

Foram as greves do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, lideradas por Lula, que puseram contra a parede o aparato repressivo do regime militar, forçando o recuo definitivo. Mais tarde, a campanha por eleições diretas, as Diretas-Já, que levou milhões de cidadãos às ruas em 1984, tinha José Dirceu na organização logística de todo o movimento - revelava-se ali o estrategista e empreendedor arguto, ambicioso e brilhante, o principal articulador da máquina partidária e do que ele gostava de chamar de "arco de alianças" que conduziria Lula à Presidência da República em 2002. Em 1988, a nova Constituição brasileira saiu do Congresso com a inconfundível impressão digital da estrela branca sobre fundo vermelho.

A história é conhecida. Está aí para ser vista e reconhecida. Gerações de excelentes quadros políticos se formaram na militância de esquerda e, cedo ou tarde, acabaram passando por organizações clandestinas e pelas instâncias do PT, onde aprenderam quase tudo o que sabem. São gestores públicos, intelectuais, parlamentares, até mesmo jornalistas, veja você, alguns já passados dos 80 anos, outros ainda na casa dos 30, que conheceram o Brasil e seus excluídos desfraldando a bandeira vermelha com a estrela branca. Aprenderam política no PT. Nos movimentos sociais, aprenderam a solidariedade, a justiça, a disciplina, a ousadia. Depois, no exercício de cargos públicos, aprenderam que a competência técnica não pode esperar, conheceram os estilos de governança e o imperativo da conciliação.

O PT alcançou o poder, abrandou o sectarismo e, mais maduro, ajudou então a moldar as próprias instituições da República, com acertos notórios. No Supremo Tribunal Federal (STF), hoje tão rigoroso e elogiado, a maioria dos atuais ministros foi indicada por governantes petistas. A Polícia Federal, hoje tão implacável e festejada, cresceu e se fortaleceu sob governos petistas. O Estado brasileiro está melhor, o que também é mérito da estrela branca sobre fundo vermelho.

A despeito de um muxoxo aqui, de um nariz torcido acolá, todo mundo sabe disso. Os agentes políticos, os de direita e os de esquerda, têm plena noção de que o protagonista maior da evolução democrática pós-ditadura atende pelo nome de Partido dos Trabalhadores. Só quem parece não estar à altura desse fato histórico é, ironicamente, o próprio PT. Com reações destemperadas, como que regurgitadas de uma adolescência que já passou, mostra que talvez não entenda bem o seu próprio papel e o seu próprio lugar.

A pior dessas reações foi a conclamação de uma onda de manifestações públicas em protesto contra decisões do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão. É compreensível que muitos petistas se sintam indignados ao ver uma figura pública do porte de José Genoino condenada pelo crime de corrupção, e isso com o voto do ministro Dias Toffoli, o mesmo que, até outro dia, trabalhava para o partido da estrela. É compreensível, mas a indignação não autoriza ninguém a fazer comício contra o Supremo. Há canais legais para pedidos de reconsideração judicial. Se, em lugar de discutir o processo e seus eventuais erros tópicos, o PT ergue palanques para contestar a legitimidade da própria Corte, como se ela não passasse de um instrumento de perseguição partidária, estamos diante da ameaça de ruptura institucional.

Nesse ponto, a postura da presidente Dilma Rousseff, de respeito declarado ao STF, contrasta com os arroubos irrefletidos - e serve para enquadrá-los. Dilma leva em conta que a mesma Corte que condenou uns absolveu outros, inclusive alguns militantes do PT. Logo, se devemos aceitar com um sorriso as absolvições, temos de acatar também as condenações e interpor os recursos que o direito processual admite. Fora disso, resta o tumulto.

O PT parece não saber como agir. Vive um refluxo amargo, um atordoamento, embora siga acumulando vitórias eleitorais. Esta semana ficou ainda mais tonto. Foi apanhado no contrapé por outro cruzado de esquerda, com novas denúncias de corrupção. Uma investigação da Polícia Federal revelou irregularidades escabrosas comprometendo servidores públicos de alta patente no governo federal. O que fará o PT em seu inferno astral? Atos públicos? Vai acusar os policiais de sanha persecutória? Ou vai exigir mais transparência? Ou vai punir, pelo seu próprio estatuto, os filiados envolvidos?

O PT precisa arcar com a responsabilidade de fortalecer a democracia que ajudou a conquistar. Eis o seu lugar e o seu papel. Se não enfrentar e sanar agora, já, os seus próprios desvios, o partido da estrela branca emoldurada de vermelho acabará por queimar sua reputação em praça pública. Será uma pena. A pior de todas as penas.

* JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP E DA ESPM





OS TEXTOS DOS LEITORES DO ESTADÃO EM RESPOSTA A BUCCI:
MDB, RESTABELECENDO A VERDADE

“O PT é um dos construtores, senão o principal, do Estado de Direito que hoje vivemos aqui. A começar pela derrubada da ditadura.” O autor dessa monumental e inverídica agressão à história é o jornalista e professor universitário Eugênio Bucci, em O Estado de S.Paulo (29/11/2012, A2).

Não se trata de um escriba de aluguel, mas de um intelectual respeitável. Diz mais: “Foram as greves do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernando do Campo, lideradas por Lula, que puseram contra a parede o aparato repressivo do regime militar, forçando o recuo definitivo”. Avança com enorme criatividade: “Mais tarde, a campanha por eleições Diretas-Já, que levou milhões de cidadãos às ruas em 1984, tinha José Dirceu na organização logística de todo o movimento”.

As três afirmações são mistificadoras, numa reinterpretação de acontecimentos históricos em que os verdadeiros personagens da luta de 21 anos para redemocratizar o Brasil são executados sem nenhuma piedade. “O Estado de Direito que hoje vivemos” teve na ampla frente democrática reunida no Movimento Democrático Brasileiro (MDB) a sua fundamental estrutura. Prisões, perseguições, cassações, exílios e mortes, ao longo de década e meia, marcaram a vida dos seus militantes. Líderes na Câmara, a exemplo de Mario Covas (1969) e Alencar Furtado (1977), foram sumariamente cassados pelo Ato Institucional n.º 5. Parlamentares como Marcio Moreira Alves, Lisâneas Maciel, Hermano Alves e tantos outros, para sobreviver, buscaram o caminho do exílio. Mas a luta política nunca esmoreceu.

O saudoso Ulysses Guimarães, a cada revés, reagia: “O MDB é como clara de ovo, quanto mais bate, mas ele cresce”. Em 1970, a criação pelo valente Chico Pinto do grupo dos autênticos, imprimiria o enfrentamento direto com a ditadura. Em 1974, em plena vivência do chamado “milagre econômico”, o MDB elegia 16 senadores e mais de 180 deputados federais. O grito de liberdade, que estava preso na garganta, se manifestava pela via eleitoral.

O governo Geisel, após patrocinar centenas de prisões, entendeu o recado das urnas e anunciou a transição “lenta e segura”. No final do seu governo, revogou o draconiano Ato Institucional n.º 5. Chico e Gil, na música Cálice, proclamavam: “De tão gorda a porca já não anda / de tão usada a faca já não corta”. O enfraquecimento da ditadura era real. Nas eleições de 1978, o MDB ampliou as suas bancadas na Câmara. No Senado, o governo reservou 1/3 das cadeiras para o senador biônico, garantindo a sua maioria. Em 1979, o Congresso Nacional aprovava a Lei da Anistia e restabelecia as eleições diretas para os governos estaduais.

Afirmar que “as greves, lideradas por Lula forçaram o recuo definitivo” é ficção da pior qualidade. O PT foi criado em 1980, quando o caminho da redemocratização já era fato admitido pelos setores lúcidos do próprio autoritarismo.

Afirmar ser o PT o principal responsável pela edificação do Estado de Direito chega a ser risível. Nas eleições diretas de 1982, o MDB elegeu os governadores: Franco Montoro, São Paulo; Tancredo Neves, Minas; José Richa, Paraná; Gerson Camata, Espírito Santo; Iris Rezende, Goiás; Jader Barbalho, Pará; Gilberto Mestrinho; Amazonas; e o PDT, Leonel Brizola, no Rio. Em 1983, o deputado Dante Oliveira apresentou emenda constitucional restabelecendo eleições diretas para presidente da República. Simbolizaria o início do fim da ditadura.

Em 1984, quando seria votada no Congresso, teve início a extraordinária mobilização da sociedade brasileira. Aqueles governadores eleitos pela oposição assumiram a linha de frente. O primeiro grande comício foi em Curitiba em janeiro de 1984. Logo depois, São Paulo e Rio de Janeiro levaram às ruas milhões de brasileiros. O PT havia elegido em todo o Brasil seis parlamentares, liderados pelo amigo e extraordinário deputado Airton Soares, que tanta falta faz à vida política brasileira. Expulso do partido por votar em Tancredo Neves no colégio eleitoral.

Agora, de acordo com Eugênio Bucci, “a campanha por eleições Diretas-Já, que levou milhões de cidadãos às ruas em 1984, tinha José Dirceu na organização logística de todo o movimento”. Parlamentar, vice-líder e dirigente do PMDB à época, atesto a falsidade da afirmação. Ulysses Guimarães foi o principal condutor daquela epopeia histórica, sendo chamado pelo povo de “Senhor Diretas”. Tendo naqueles governadores, especialmente Montoro, Tancredo, Richa e Brizola, lideranças responsáveis pelo êxito mobilizador dos milhões de brasileiros que, perdendo o medo, saíram às ruas para decretar o sepultamento do Estado ditatorial.

O restabelecimento do Estado de Direito, não foi uma luta de facções políticas, mas o despertar democrático dos brasileiros conscientes, vilipendiados e amordaçados pela ação civil-militar daqueles que se achavam intocáveis na manutenção dos seus privilégios. Reinterpretar fatos históricos indiscutíveis, por conveniência, é autoritarismo inqualificável.

Hélio Duque foi deputado federal (1978-1991)
Curitiba

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‘O INFERNO ASTRAL DA ESTRELA BRANCA’

Jornalista talentoso, portador de uma bagagem cultural admirável, Eugênio Bucci nos decepciona com seu artigo “O inferno astral da estrela branca” (Estadão, 29/11, A2). Portanto, peço vênia para discordar, quando ele enaltece qualidades que a história pregressa do PT não confirma. Sabedores de sua exigência em relação aos fatos, seu artigo parece ignorar o quanto esse partido e seus membros tinham, entre muitos outros atributos nada republicanos, a tomada do poder para a instalação de uma “República Sindical Socialista”, que só não se concretizou pois foi descoberto o mensalão.

Talvez retomando os acontecimentos em outro artigo, possa discorrer sobre a “estrela apodrecida do PT” pelas estroinices de um partido político visivelmente antidemocrático, cujo maior desejo é calar a imprensa livre e desmoralizar os demais Poderes da República. Realmente, esse artigo nos decepcionou muito.

Leila E. Leitão

São Paulo

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LOAS AO PT, POR QUÊ?

Com o PT em transparente crise, eis que aparecem os amigos de sempre na mídia para enaltecer o partido e pintar um PT que só existiu na cartilha. Dizer, como afirmou Eugênio Bucci em seu artigo “O inferno astral da estrela branca” (Estadão, 29/11, A2), que o PT foi o principal construtor do Estado de Direito por ter ajudado na derrubada da ditadura é de uma imprecisão histórica a que ele não tem direito.

A verdade é que em 1985 o PT votou contra Tancredo Neves, recusou-se a assinar a Constituinte de 1988, em 1993 o PT recusou o convite do presidente Itamar Franco para participar de um governo de união nacional; em 1994 Itamar e seu ministro FHC lançam o Plano Real e o PT recusou-se a votar, afirmando ser um plano eleitoreiro.

 O PT foi contra a privatização da Vale do Rio Doce, da Embraer, das empresas telefônicas e hoje se sabe que é porque esperavam que, sob um governo petista, tais empresas se transformassem em cabide de emprego de militantes, como hoje acontece com a Petrobrás, aliás, em declínio crescente.

Fico preocupada quando vejo um jornalista e professor do calibre de Eugênio Bucci sofrer lapsos de memória deste tipo e, por outro lado, em tom lacrimejante lembrar a lenda de quem costurou a primeira bandeira do PT foi dona Marisa Letícia, esquecendo-se de que esta mesma senhora plantou flores nos jardins do Palácio do Alvorada formando o desenho da estrela branca com fundo vermelho, não atinando ela para o fato de que a residência onde morava pertencia e sempre pertencerá ao Estado brasileiro, e nunca ao PT.

Mara Montezuma Assaf
São Paulo



Texto de Eugenio Bucci no Estadão:

FORUM DE LEITORES ESTADÃO:

FOTOS DE NORMA BENGELL E DILMA ROUSSEEF (26/04/2010):


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