Pesquisar este blog

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

CUBA ESTUPRA A VENEZUELA. Uma velha senhora poderia dizer hoje a cada venezuelano, súdito de Raúl Castro: “Relaxa e goza”. "Qual e como é o poder que desde a ilha se exerce na Venezuela? Esse poder é uma mistura do símbolo que Chávez representa, administrado pelo Birô Político do Partido Comunista de Cuba, personificado por sua vez por um zangão sagaz, Raúl Castro". (Carlos Blanco)



Cubaníssimo!


Carlos Blanco
24 Janeiro 2013 

A Venezuela é um país institucionalmente paralisado e só move uma extremidade, o dedo mindinho ou os olhos, quando em Cuba se constitui uma decisão arranjada entre a cúpula cubana, o trio patético e o uso simbólico de Chávez.



O centro da recuperação democrática na Venezuela passa por romper os vínculos de dependência política, administrativa, simbólica, militar e estatal em geral, com Cuba. Desde aquela frase de Raúl Castro, segundo a qual Venezuela e Cuba eram “a mesma coisa” até hoje, a dependência não fez senão aumentar até chegar a essa situação vergonhosa.

São muitos os fatos que revelam este vergonhoso contexto. Os testamenteiros políticos de Chávez consideraram que o lugar para limar suas diferenças, chegar a seus trêmulos acordos, enviar suas mensagens sem atrativo, é o aeroporto de Havana sob a sardônica vigilância de Raúl Castro. A ignorância histórica que o trio venezuelano de Nicolás Maduro, Diosdado Cabello e Rafael Ramírez parece possuir, como se a houvessem ganhado em combates intelectuais na Sierra Maestra, lhe impede de ver como sua dependência de Cuba é tão forte quanto o rechaço que suscita.

O mundo presencia, talvez por cinismo, como a Venezuela não tem Comandante-em-Chefe de sua Força Armada Nacional (FAN) porque o que era até 10 de janeiro não se juramentou, mas mesmo para aqueles que tenha engolido a história “sobrevinda”, também resulta inusitado que o Comandante-em-Chefe da FAN não se comunique com seus subordinados - Ministro de Defesa, Comandante Estratégico Operacional e Comandantes de componentes - ou, pior ainda, que esteja sob os “cuidados intensivos” do Comandante-em-Chefe de uma força militar estrangeira.

Como paciente, Chávez poderia ser visitado e “visto”, como ao que parece o fazem os membros de sua família e os integrantes da prótese governante venezuelana, o triunvirato. Porém, como alegado Presidente da República, capaz de designar - segundo mentiram - um novo ministro, deveria estar em condições de exercer seu indelegável comando militar.

É possível que algum oficial tenha visitado ou possa visitar Chávez. Entretanto, isto não tem nada a ver com o exercício de uma função delicada e intransferível para quem quer que seja o Presidente da República.

ILEGÍTIMOS - Estes enredos puseram em evidência que o centro do poder que resta foi transferido à Cuba. Não se trata de que o trio viaje a esse país e quando o faça o poder se transfira. Não é assim. É que se transferem para superar suas debilidades e, exaustos, procuram exercer o poder que se radicou em Havana. O poder não vai com eles: está lá.

Qual e como é o poder que desde a ilha se exerce na Venezuela? Esse poder é uma mistura do símbolo que Chávez representa, administrado pelo Birô Político do Partido Comunista de Cuba, personificado por sua vez por um zangão sagaz, Raúl Castro. 

ZANGÃO SAGAZ
É como o bruxo que realiza um ritual perto de onde se encontra o corpo esgotado do símbolo que invoca e, uma vez em transe, explica, expressa e interpreta o que aquele corpo não pode dizer. É o insólito espetáculo de como um personagem que se construiu a si mesmo através de sua loquacidade irrefreável, agora mudo, foi tomado por interpostas e interessadas pessoas.

A Venezuela é um país institucionalmente paralisado e só move uma extremidade, o dedo mindinho ou os olhos, quando em Cuba se constitui uma decisão arranjada entre a cúpula cubana, o trio patético e o uso simbólico de Chávez.

Por tal razão, denunciar a ilegitimidade do impreciso exercício de Maduro não é nenhum radicalismo como pensa o governo e algum desencaminhado setor da oposição. Desconhecer a legitimidade do que tratam de fazer crer que Maduro pode fazer, não significa chamar a não pagar impostos, passar com a luz dos semáforos vermelha, andar nus na Praça Bolívar, queimar pneus em cada esquina ou convocar uma guerrilha no corta-fogo de El Ávila. Denunciar a ilegitimidade do governo que rege hoje a Venezuela comporta basicamente construir uma narrativa e uma política sobre o que deverá acontecer na Venezuela em um mês, em um ano ou em um século, mas que deverá acontecer para o resgate da democracia. Vejamos.

A POLÍTICA NO COMANDO - Serão feitas em seguida algumas analogias - leia-se bem, analogia não é algo idêntico senão que tem semelhanças. Quando Hitler ocupou a França e um setor civil e militar da sociedade francesa decidiu “colaborar” com o regime para evitar - pensavam - males piores, houve um homem excepcional, o general Charles De Gaulle que, desde Londres em 1940 e solitário, chamou a resistir de todas as maneiras, a não se dobrar. Nesse momento fazia isso sem apoio.

Não sabia De Gaulle que suas palavras inspiradoras seriam a convocatória a um dos movimentos mais heróicos de resistência que a humanidade tenha lembrança. No momento que De Gaulle falou eram só palavras, idéias, uma atitude de princípios, desfraldar valores depois foi o que foi. Ou o que fez Winston Churchill, que em 1941 lançou em uma escola um de seus pensamentos mais incitantes, precisamente quando Hitler arrasava a Europa e se propunha tomar a Inglaterra: “nunca, nunca, jamais, render-se!”. E este homem conduziu seu país e o mundo, junto com os líderes dos Estados Unidos, França e União Soviética, à vitória em 1945.

Denunciar a ilegitimidade do regime imperante na Venezuela é levantar as bandeiras da liberdade em meio de um deserto de cumplicidades, desvarios, pragmatismos. É dizer ao mundo: vocês poderão avalizar o que quiserem, mas aqui não há democracia. Se imporão porque têm a força mas como disse Unamuno, “não convencerão”.

Sim, têm o poder para nos obrigar a fazer coisas que não queremos (como participar de eleições viciadas), porém não por obrigar-nos deixamos de denunciá-las como fraudes. É, enfim, a palavra que denuncia e que não “colabora” a qual se diz desde as modéstias, limitações e lugares de cada um. É o austero gesto civil que se enfrenta à complacência que o regime quer de seus súditos. É nomear sua traição à República quando em nome de uma ideologia que não compreendem entregam o Estado venezuelano, amarrado, para que os chefes cubanos o violentem. É reclamar aos chefes políticos que se dê nome apropriado aos acontecimentos que nos arruinam porque só se superam nomeando com propriedade o que se deve superar.

Não se chama desde este rincão da palavra a assaltar o Palácio de Inverno, nem tomar o Quartel Moncada, nem a explodir o paiol junto a Ricaurte. Chama-se a algo muito mais duro: o exercício da palavra responsável por mais desapiedada que ela seja. Depois, mais adiante, dentro de três anos ou três dias - quem sabe?! - frutificará de modo imprevisível.

Quando em forma desesperada alguém pergunta o que faremos, como tomamos às ruas, penso que sempre, em princípio, foi o Verbo, quer dizer, a compreensão, o saber próprio da sabedoria. Hoje existe uma ação contundente: revelar (nos) que o Rei está nu.

Fonte: www.tiempodepalabra.com
Tradução: Graça Salgueiro

TEXTO REPRODUZIDO DO SITE MÍDIA SEM MÁSCARA:


Nenhum comentário:

Postar um comentário