O jornal espanhol ABC divulgou matéria informando que a
Academia Nacional de Medicina se ofereceu ao Supremo Tribunal de Justiça para
que possa ser feito um exame e a emissão de um laudo oficial sobre o estado de
saúde de Hugo Chávez. Afinal, independente da vontade dos puxa-sacos que cercam
o coronel, a população venezuelana, tendo ou não votado nele nas últimas eleições,
tem o direito de saber como ele está realmente, afinal de contas.
É justo que muita gente suponha, até, que Chávez já esteja
morto, ou mantido vivo artificialmente por meio de equipamentos especiais em uma UTI, em Havana; é
preciso lembrar que, desde que Chávez reconheceu que havia algo errado, nunca
as informações foram transparentes, mesmo quando era visível o inchaço de seu
rosto e pescoço e quando mal parava em pé, tendo que apoiar-se em uma bengala ou
muletas.
OS DONOS DO POVO
A trajetória de Hugo Chávez é curiosa. Em primeiro lugar, vendo-se
como um predestinado, assim como Lula (o Deus de Marta), o coronel manobrou
politicamente e conseguiu implantar uma ditadura chavista-bolivariana, sob
inspiração de Fidel Castro, seu guru, e com o apoio de governos vizinhos
complacentes com o autoritarismo e o totalitarismo, como a Bolívia, o Paraguai,
a Argentina, o Equador, o Uruguai e o Brasil de Lula.
Os predestinados se vêm como dotados de direitos especiais,
e acabam agindo como verdadeiros donos de seu povo. Assim fez Chávez, assim faz Morales,
assim tentou fazer Lugo, assim fez em parte Lula, e assim faz Cristina Kirchner.
Sendo dono do povo e de tudo o que estiver dentro da
porteira fechada, Chávez fala o que quer ao povo, inventa lorotas e faz ameaças
aos críticos e persegue e põe na cadeia seus adversários, apenas por serem
adversários.
Uma vez doente, e percebendo a gravidade da situação, não
deu muitos detalhes e tentou agir como se nada estivesse acontecendo. Mas não
foi bem assim, pois estava com um câncer raro e extremamente agressivo que lhe
destruiu já várias áreas junto à virilha, intestino, e base da coluna.
Como confia no silêncio cubano e nos irmãos Castro, e não
confia na imprensa livre, preferiu Cuba para se tratar. Foi a sua desgraça.
Evitou os boletins médicos e a imprensa perguntadora, mas não pode enganar sua
doença agressiva. Poderia tê-la retardado, mas preferiu arriscar.
Fidel e Raul sabem da importância de manter Chávez em Cuba. A Venezuela
fornece todo o petróleo que os cubanos consomem, a preços subsidiados, quase de
presente. Com Chávez imobilizado em um hospital cubano, os Castros têm a faca e
o queijo na mão.
MORTE OU INCONSCIÊNCIA
Hugo Chávez, a esta altura, apesar das falas ambíguas de Nicolas
Maduro, e Diosdado Cabello, está deitado em uma UTI, com infecção pulmonar, sonda nasogástrica
e sendo alimentado de forma endovenosa, e sob ventilação mecânica. Além disso
está mantido em sedação profunda.
Hugo Chávez não estará vivo na Venezuela no próximo dia 10
de janeiro para assumir o governo. Talvez ele não volte mais vivo para a
Venezuela. Pode ser que façam um teatro e o transportem para Caracas, para os
funerais, mas dizendo que está vivo e deixando para anunciar que morreu em solo
pátrio. Até com Tancredo Neves aconteceu algo parecido, em Brasília. Lembram-se?
Sendo assim, se ele não puder estar em Caracas para a posse
no dia 10, Cabello, o atual líder do Parlamento deveria assumir e convocar eleições
em 30 dias. Mas é exatamente isso o que os chavistas ligados ao governo não
querem. Não querem arriscar-se em novas eleições, que seriam em fevereiro, com
Maduro como candidato, enfrentando, talvez, Henrique Capriles que, mesmo perdendo para
Chávez (há quem duvide) conseguiu 44 por votos. Com Chávez fora do párea a coisa pode ficar diferente.
Desse modo, é conveniente que Maduro, Cabello e outros líderes
do chavismo mantenham a dúvida sobre o estado de Chaves, evitando dar por vago
o cargo de presidente por uma impossibilidade absoluta. Ocorre que alguns
juristas acreditam que uma situação assim, em que o presidente não tomasse
posse, não poderia ser maior que 90 dias.
De fato, Maduro é o vice atual. Chávez quando viajou a Cuba
disse que gostaria que Maduro fosse seu candidato em novas eleições, caso ele não
assumisse no dia 10. Nesse caso, quem assumiria seria Cabello, do Parlamento.
Chávez não assumindo, não é mais presidente, pois o mandato termina no dia 10.
O vice também não será mais Maduro, pois sai junto com Chávez.
Chávez, mesmo em Cuba, e não sendo dado por impedido, será
presidente sem assumir, mas sem vice nomeado, uma situação evidentemente esdrúxula.
A rigor, quem deveria governar a
Venezuela por mais 30 dias, além de 10 de janeiro seria Diosdado Cabello. Mas
parece que isso não acontecerá. Assim, os próprios chavistas estão criando uma
situação fora do previsto pela Constituição.
Isso poderá não dar muito certo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário